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sexta-feira, 6 de maio de 2022

Graeme Stevenson

 “Nenhum mar mais forte que o mar dos sentimentos, em que ela nadava dentro dele, encrespando, nenhuma onda como as ondas do desejo, nenhuma espuma como a espuma do prazer. Nenhuma areia mais morna que a pele e a areia movediça das carícias. Nenhum sol mais poderoso que sol do desejo, nenhuma neve como a neve de sua resistência derretendo em alegrias azuis, em lugar nenhum uma terra tão rica quanto a carne. Ela dormia, caía em transe, estava perdida, sentia-se renovada, abençoada, transpassada pela felicidade, aquietada, queimada, consumida, purificada, nascida e renascida dentro do ventre da baleia da noite”.


Anaïs Nin

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013


"Disse que era porque ela era inteligente, e mulheres inteligentes misturavam literatura e poesia com o amor, o que o paralisava  e que ela era positiva, masculina, sob certos aspectos, e isso o intimidava. Ela era tão jovem na época que prontamente aceitou isso e passou a crer que mulheres esguias, intelectuais e positivas não conseguiam ser desejadas.

Ele dizia: " - Se você apenas fosse passiva, bem obediente, bem inerte, eu poderia desejá-la. Mas sempre sinto um vulcão prestes a explodir em você, um vulcão de paixão, e isso me amedronta.' Ou: "Se você fosse apenas uma puta, e eu pudesse sentir que você não é tão exigente, tão crítica, eu poderia desejá-la. Mas eu sentiria sua cabeça esperta me observando e me desprezando se eu falhasse, se, por exemplo, eu ficasse subitamente impotente".

Pobre Elena, por anos não reparou nos homens que a desejavam. Como Miguel era o único que ela desejava seduzir, parecia-lhe que só Miguel saberia provar do seu poder."


Anaïs Nin, Delta de Vênus - Histórias Eróticas

quinta-feira, 8 de novembro de 2012



Ontem à noite eu estava sentada junto ao fogo e conversando como raramente converso, estonteando Hugo, sentindo-me imensa e surpreendentemente rica, contando histórias e ideias que o teriam divertido. Foi sobre mentiras, os diferentes tipos de mentiras, as mentiras especiais que conto para razões específicas, para melhorar a vida. Uma vez, quando Eduardo estava sendo excessivamente analítico, contei a história de meu amante russo imaginário. Ele ficou fascinado. E por intermédio dessa história transmiti-lhe a necessidade de loucura, a riqueza de emoção que falta a ele, porque ele é emocionalmente impotente. Quando estou com problemas, confusa, perdida, invento a amizade de um velho sábio com quem converso. Falo sobre ele com todo mundo, como ele é, o que disse, o efeito dele sobre mim (alguém em quem se apoiar por um momento), e no final sinto-me fortalecida por minha experiência com o velho sábio e tão satisfeita como se tudo fosse verdade. Também inventei amigos quando os que eu tinha não eram satisfatórios. E como desfruto de minhas experiências! Como elas me contentam, me acrescentam coisas a mim. Ornamento.


Anaïs Nin Henry & June

segunda-feira, 7 de novembro de 2011



Quando olho para o seu rosto, quero extravasar e partilhar de sua loucura, que carrego dentro de mim como um segredo e não consigo mais esconder. Estou cheia de uma alegria aguda e horrível. É a alegria que se sente quando se aceitou a morte e a desintegração, uma alegria mais terrível e mais profunda do que a alegria de viver, de criar.
*
Tenho medo desse homem, como se nele eu tivesse que encarar todas as realidades que me aterrorizam, Seu ser sensual me afeta, Sua ferocidade, envolvida em ternura, sua súbita seriedade, a mente fértil, rica. Estou um pouco hipnotizada. Observo suas mãos brancas finas e macias, sua cabeça, que parece pesada demais para o corpo, a testa prestes a explodir, uma cabeça trêmula, guardando tanta coisa que amo e odeio, que desejo e temo.
*
Quero que seu amor morra. O que tenho sonhado – que um homem como ele me deseje – agora rejeito. Chegou o momento de mergulhar em sensualidade, sem amor nem drama, e não consigo fazer isso.
*
Meu estado de doçura o perturba. Ele descobre que, como um camaleão, mudo de cor no café, e talvez perca a cor que tenho em meu próprio lar. Não me adapto à vida dele.
Sua vida – o submundo (...) violência, impiedade, monstruosidade, devassidão. Leio as anotações dele com avidez e horror. Durante um ano, em semi-solidão, minha imaginação teve tempo de crescer além da medida.(...) Sua masculinidade violenta, agressiva, me persegue. Provo essa violência em minha boca, com meu útero. Esmagada contra a terra com o homem sobre mim, possuída até desejar gritar.
*
Eu afeto a imaginação deles. É o poder mais forte.
Já vi o romantismo sobreviver aos realistas. Já vi homens esquecerem-se das belas mulheres que possuíram, esquecerem as prostitutas e lembrarem-se da primeir mulher que idolatraram, a mulher que nunca poderiam ter. A mulher que o estimulou romanticamente os possui.
*
Sonho com uma nova fé, que receba estímulo de outros e tenha vida criativa e em que meu corpo pertença apenas a Hugo.
Minto. Naqule dia no café, sentada com Henry, vendo sua mão tremer, ouvindo suas palavras, fiquei emocionada. Foi loucura ler minhas anotações para ele, mas ele me incitou; foi loucura viver e responder às suas perguntas enquanto olhava para o seu rosto, como eu nunca ousara olhar para qualquer homem. Nós não nos tocamos. Estávamos ambos debruçados sobre o abismo.
*
Quando ele me toma nos braços, meu corpo derrete. A ternura de suas mãos, a inesperada penetração, até o âmago do meu ser mas sem violência. Que força suave e estranha.
Ele, também grita:
- É tudo tão irreal, tão rápido.
*
Estava prestes a me libertar da prisão de minha imaginação, mas ele me leva a seu quarto e lá vivemos um sonho, não uma realidade. Ele me coloca onde quer colocar. Incenso. Veneração. Ilusão. E todo o resto de sua vida é apagado.
*
Ele se ajoelha para me beijar, é mais estranho do que todos os meus pensamentos. Com sua experiência ele me domina. Domina com sua mente, também, e fico calada. Sussura para mim o que meu corpo deve fazer. Eu obedeço, e novos instintos são despertados em mim. Ele me tomou. Um homem tão humano; e eu, súbita e desavergonhadamente natural. Fico assombrada de ficar ali deitada na cama de ferro dele, com minha roupa de baixo preta arrancada e pisada. E minha intimidade rompida por um momento, por um homem que se diz ser “o último homem na terra”.
*
Meu prazer era intocável e aterrador. Inflava dentro e mim ao caminhar pelas ruas.
Ele trnaspira, ele fulgura. Não consigo escondê-lo. Sou mulher. Um homem me dominou. Ah, que prazer quando uma mulher encontra um homem a quem consegue se sujeitar, o prazer de sua feminilidade expondo em braços fortes.
*
Toda vez que saio com você tenho a sensação de estar saindo com minha amante. Você é minha amante. Eu a amo mais do que nunca.
*
Estou ciente de um monstruoso paradoxo: entregando-me eu aprendo a amar Hugo ainda mais. Vivendo como estou, preservo nosso amor da amargura e da morte.
A verdade é que essa é a única maneira em que posso viver: em duas direções. Preciso de duas vidas. Eu sou dois seres. Quando volto para Hugo à noite, para a paz e o calor da casa, volto com uma satisfação profunda, como se essa fosse a única condição para mim. Trago para Hugo uma mulher inteira, livre de todas as febres “possuídas”, curada do veneno da inquietação e da curiosidade que costumava ameaçar nosso casamento, curada através da ação. Nosso amor vive porque eu vivo, eu o sustento e alimento. Sou leal a ele à minha maneira, que não pode ser a dele. Se algum dia ler estas linhas, deve acreditar em mim. Estou escrevendo calma e lucidamente enquanto espero que ele venha para casa, como se espera pelo amante escolhido, pelo amante eterno.

Anaïs Nin, Henry & June

quinta-feira, 2 de junho de 2011


Brown ligou o fonógrafo e começamos a dançar. O pouco álcool que eu bebera tinha subido à minha cabeça. Senti o universo inteiro dilatar-se. Tudo parecia muito suave e simples. De fato, tudo parecia descer correndo por uma colina nevada onde eu podia deslizar sem esforço. Senti uma grande amistosidade, como se conhecesse toda aquela gente intimamente. Mas escolhi o mais tímido dos pintores para dançar comigo. Senti que, como eu, ele de algum modo fingia estar muito familiarizado com aquilo. Senti que no fundo, no fundo ele estava um pouco constrangido. Os outros pintores estavam acariciando Ethel e Mollie enquanto dançavam. Ele não ousou fazê-lo. Eu ria comigo mesma por tê-lo descoberto. Brown viu que meu pintor não estava tomando nenhuma iniciativa e interpôs-se entre nós para uma dança. Ficou fazendo comentários astuciosos sobre virgens. Imaginei se estaria se referindo a mim. Como ele podia saber? Apertou-se contra mim, e me afastei dele. Voltei para o jovem pintor tímido. Uma ilustradora estava flertando com ele, provocando-o. Ele ficou igualmente feliz por eu voltar. Então fomos dançar, recolhendo-nos à nossa timidez. Agora todos à nossa volta estavam se beijando, se enlaçando.
A ilustradora havia tirado a blusa e estava dançando de anágua. O pintor tímido disse:
- Se ficarmos aqui, em breve teremos que deitar no chão e fazer amor. Você quer ir embora?
- Sim, quero ir embora – falei.
Saimos. Em vez de fazer amor, ele falava, falava. Eu ouvia aturdida. Ele tinha ideia de um quadro comigo. Queria me pintar como uma mulher submarina, nebulosa, transparente, verde, pálida, exceto pela boca bem vermelha e pela flor vermelha que eu usaria no cabelo. Será que eu posaria para ele? Não respondi muito rápido devido aos efeitos da bebida, e ele disse em tom de desculpas:
- Você esta chateada por eu não ter sido bruto?
- Não, não estou chateada. Escolhi você porque sabia que não seria bruto.
- É a minha primeira festa - disse ele, humildemente - e você não é o tipo de mulher que se possa tratar... daquele jeito. Como você se tornou modelo? O que fazia antes disso? Sei que uma modelo não tem que ser uma prostitua, mas tem que lidar com um monte de manuseio e investidas.
- Dou conta disso muito bem - falei, sem apreciar absolutamente essa conversa.
- Fico preocupado com você. Conheço alguns artistas que são muito objetivos enquanto trabalham, sei bem disso. Eu mesmo me sinto assim. Mas sempre tem um momento antes e depois, quando a modelo está se despindo e vestindo, que me perturba. É a surpresa inicial de ver o corpo. O que você sentiu na primeira vez?
- Absolutamente nada. Me senti como se já fosse uma pintura. Ou uma estátua. Olhei para meu próprio corpo como se fosse um objeto, um objeto impessoal.

Anaïs Nin

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Anaïs Nin, Henry & June - (5)

- Afinal de contas, se existe uma explicação do mistério é esta: o amor entre mulheres é um refúgio e uma fuga para a harmonia. No amor entre homem e mulher existe resistência e conflito. Duas mulheres não se julgam, não se violentam, nem encontram algo para ridicularizar. Elas se entregam ao sentimento, à compreensão mútua, ao romantismo. Tal amor é a morte, admito.

- A vulgaridade dá a alegria de profanar. Mas June não é um demônio. A vida é o demônio, possuindo-a, e seu coito é violento porque a voracidade dela por vida é enorme, um gosto de seus sabores mais amargos.

- Escrevera para mim: “... como eu entendo a intensidade ardente em que você vive. Você já viveu muitas vidas, inclusive algumas que partilhou comigo – vidas cheias e ricas do nascimento à morte, e só precisara ter esses períodos de descanso no intervalo entre elas.

- Que registros demoníacos ela consegue guardar, de forma que Henry e eu encaramos com horror sua monstruosidade, que nos enriquece mais do que a piedade de outros, o amor medido de outros, a abnegação de outros. Não vou despedaçá-la como Henry fez. Vou amá-la. Vou enriquecê-la. Vou imortalizá-la.

- ...  nunca deixaria Henry tocar-me. Luto para descobrir a razão exata, e só consigo encontrá-la na linguagem dele. “Não quero ser apenas mijada”

- Existe um mundo fechado para sempre para ele – o mundo que contém nossas conversas abstratas, nosso beijo, nossos êxtases. Ele sente inquietamente que existe um certo lado seu que não captou, tudo que fica fora de seu romance. Você escorrega por entre os dedos dele!

- Também enquanto eu estava fora, ele encontrou minha roupa de baixo de renda preta, beijou-a, descobriu meu cheiro e aspirou-o com prazer.

- Atravessei várias vezes as regiões de realismo e encontrei-as áridas. E retorno à poesia. Escrevo a June. É quase impossível. Não consigo encontrar palavras. Faço um esforço tão violento da imaginação para alcançá-la, para alcançar a minha imagem dela.

- Em certos momentos ele consegue dizer as coisas mais delicadas ou profundas. Mas sua suavidade é perigosa, porque quando escreve não escreve com amor, escreve para caricaturar, para atacar, ridicularizar, destruir, rebelar-se. Está sempre contra alguma coisa. A raiva o incita. Eu estou sempre a favor de alguma coisa. A raiva me envenena. Eu amo, eu amo, eu amo.

- Então em certos momentos lembro-me de uma de suas palavras e de repente sinto a mulher sensual fulgurando, como se violentamente acariciada. Digo a palavra para mim mesma, com prazer. É nesse momento que meu verdadeiro corpo vive.


Anaïs Nin, Henry & June

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Anaïs Nin, Henry & June - (4)


Nós nos encontramos, June e eu, no American Express. Sabia que ela se atrasaria e não me importei. Cheguei lá antes da hora, quase doente de tensão. Eu a veria, em pleno dia, sair da multidão. Seria possível? Tinha medo de ficar ali exatamente como ficara em outros lugares, observando uma multidão e sabendo que June alguma apareceria porque June era um produto de minha imaginação. Eu mal podia acreditar que ela chegasse por aquelas ruas, atravessasse tal avenida, emergisse de um grupo de pessoas escuras, anônimas, e caminhasse até aquele lugar. Que alegria observar a multidão correndo e então vê-la caminhando com passos largos, resplandecente, incrível, em minha direção. Eu seguro sua mão quente. Ela está indo em busca de correspondência. O homem no American Express não vê a maravilha que ela é? Ninguém como ela jamais pediu correspondência. Alguma mulher jamais usou sapatos gastos, um vestido preto velho, uma capa azul-escura velha e um velho chapéu cor de violeta como ela usa?
Eu não consigo comer em sua presença. Mas por fora estou calma, com aquela plácida atitude oriental que é tão enganadora. Ela bebe e fuma. É bem louca, num certo sentido, sujeita a medos e manias. Sua conversa, em grande parte inconsciente, seria reveladora para um analista, mas eu não posso analisá-la. É quase tudo mentira. Os conteúdos de sua imaginação são realidades para ela. Mas o que está construindo tão cuidadosamente? Um engrandecimento de sua personalidade, uma fortificação e uma glorificação dela. No calor óbvio e envolvente de minha admiração, ela se expande. Parece ao mesmo tempo destrutiva e impotente. Eu quero protegê-la. Que piada! Eu, proteger aquela cujo poder é infinito. Seu poder é tão forte que realmente acredito quando ela diz que sua destrutibilidade não é intencional. Ela tentou me destruir? Não, entrou em minha casa e eu estava disposta a suportar qualquer dor em suas mãos. Se existe alguma premeditação nela, esta vem apenas depois, quando ela se torna consciente de seu poder e se pergunta como deveria usá-lo. Não acho que sua maldade potencial seja dirigida. Até ela fica aturdida.
Eu a tenho em mim agora como alguém a proteger. Ela está envolvida em perversidades e tragédias com que não consegue lidar. Finalmente captei sua fraqueza. Sua vida está cheia de fantasias. Quero forçá-la a voltar à realidade. Quero lhe fazer uma violência. Eu, que estou afundada em sonhos, em atos semivividos.


Anaïs Nin, Henry & June

domingo, 10 de outubro de 2010

Anaïs Nin, Henry & June (3)


Nunca fomos tão felizes nem tão infelizes. Nossas brigas são prodigiosas, tremendas, violentas. Estamos ambos irados a ponto da loucura, desejamos a morte. Meu rosto está assolado pelas lágrimas, as veias em minhas têmporas latejam. A boca de Hugo treme. Um grito meu o traz de súbito a meus braços, soluçando. E então ele me deseja fisicamente. [...] É como a vida dos russos em o idiota. É histeria. Em momentos mais frios, admiro-me da extravagância de nossos sentimentos. A monotonia e a paz se foram para sempre. Perguntamos a nós mesmos ontem, em meio a uma briga:
- O que está acontecendo conosco? Nunca dissemos coisas tão terríveis uma ao outro?
E então Hugo disse:
- Esta é a nossa lua-de-mel, e estamos agitados.
- Você tem certeza? – perguntei, incrédula.
- Talvez não pareça uma – respondeu ele, rindo -, mas é. Estamos apenas transbordando de sentimentos. Não conseguimos manter nosso equilíbrio.
Uma lua-de-mel madura, com sete anos de atraso, cheia do medo da vida. Nos intervalos de nossos brigas somos extremamente felizes. Inferno e céu ao mesmo tempo. Estamos ao mesmo tempo livres e escravizados. Às vezes parece que sabemos que o único elo que pode nos unir agora é o da vida intensa, o mesmo tipo de intensidade que se encontra em amantes e concubinas. Inconscientemente criamos um relacionamento altamente efervescente dentro da segurança e paz do casamento. Estamos ampliando o círculo de nossas tristezas e prazeres dentro do círculo de nosso lar e nos dois seres. É a nossa defesa contra o intruso, o desconhecido.


Anaïs Nin, Henry e June

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Anaïs Nin, Henry & June - (2)


Acredito realmente que, se não fosse escritora, nem criadora, nem experimentadora, talvez tivesse sido uma esposa muito fiel. Tenho a fidelidade em alta conta. Mas meu temperamento pertence à escritora, não à mulher. Tal separação pode parecer infantil, mas é possível. Subtraia a superintensidade, o chiado de idéias, e você tem uma mulher que ama a perfeição. E fidelidade é uma das perfeições. Parece-me estúpido e pouco inteligente agora porque tenho planos maiores em mente. A perfeição é estática, e estou em pleno progresso. A esposa fiel é apenas uma fase, um momento, uma metamorfose, uma condição.

Anaïs Nin, Henry & June

sábado, 11 de setembro de 2010

Anaïs Nin, Henry & June


Conheci Henry Miller.
Ele veio almoçar com Richard Osborn, um advogado que eu tinha que consultar sobre o contrato para o meu livro D.F. Lawrence.
Quando ele saltou do carro e se dirigiu para a porta onde eu estava esperando, vi um homem de que gostei. Em seus escritos ele é extravagante, viril, animal, opulento. É um homem a quem a vida embriaga, pensei. É como eu.
No meio do almoço, quando estávamos discutindo livros seriamente, e Richard passara a um longo discurso, Henry começou a rir. Ele disse:
- Eu não estou rindo de você, Richard, mas simplesmente não consigo evitar. Não ligo a mínima, nem um pouco para quem está certo. Estou feliz demais. Estou feliz demais neste exato momento com todas as cores à minha volta, o vinho. O momento é tão maravilhoso, tão maravilhoso. - ele ria quase a ponto de chorar. Estava bêbado. Eu estava bêbada, também, por completo. Sentia-me aquecida, tonta e feliz.
Conversamos durante horas. Henry disse as coisas mais verdadeiras e profundas, e ele tem um jeito de dizer "mmmm" enquanto divaga por sua viagem introspectiva.

Antes de conhecer Henry eu estava concentrada em meu livro sobre D.H. Lawrence. Ele está sendo publicado por Edward Titus, e eu estou trabalhando com o assistente dele, Lawrence Drake.
- De onde você é? - pergunta em nosso primeiro encontro.
- Sou metade espanhola, metade francesa. Mas fui criada na América.
- Você simplesmente sobreviveu ao transplante. - ele parece estar zombando ao falar. Mas sei que não.
Ele passa a falar do trabalho com bastante entusiasmo e velocidade. Fico grata. ele me chama de romântica. Eu fico zangada.
- Estou cheia do meu próprio romantismo!
Ele tem uma cabeça interessante - olhos pretos vívidos, cabelo preto, pele morena, narinas e boca sensuais, um bom perfil. Parece um espanhol, mas é judeu - russo, diz ele. É uma pessoa que me intriga. Parece selvagem, facilmente irritável. Converso cautelosamente.
Quando me leva a seu apartamento para examinar as provas, diz que eu lhe interesso. Eu não vejo por quê. - ele parece ter tido muitas experiências; por que se preocupa com uma iniciante? Nós conversamos, na defensiva. Nós trabalhamos, não tão bem. Eu não confio nele. Quando me diz coisas agradáveis, acho que está zombando da minha inexperiência. Quando põe os braços à minha volta, acho que está se divertindo com uma mulherzinha superintensa e ridícula. Quando se torna mais intenso, desvio o rosto da nova experiência de seu bigode. Minhas mãos estão frias e úmidas. Eu digo a ele com franqueza:
- Você não devia flertar com uma mulher que não sabe flertar.
Isso o diverte, a minha seriedade. Ele diz:
- Talvez você seja o tipo de mulher que não magoa um homem. - Tinha sido humilhado. Quando achou que eu havia dito: "Você me aborrece", ele se afastou como se eu o tivesse mordido.Eu não digo esse tipo de coisa. Ele é muito impetuoso, muito forte, mas não me aborrece. Eu respondo a seu quarto ou quinto beijo. Começo a me sentir embriagada. Então me levanto e digo incoerentemente:
- Eu me vou agora... para mim não pode ser sem amor. - Ele me provoca. Morde minhas orelhas e me beija, e eu gosto de sua impetuosidade. Ele me atira no sofá por um momento, mas de certa maneira eu escapo. Estou consciente do desejo dele. Gosto de sua boca e da força de seus braços, mas o desejo dele me assusta, me repulsa. Acho que é porque eu não o amo. Ele me excitou mas eu não o amo, não o quero.
Assim que noto isso (o desejo dele, apontando para mim, é como uma espada entre nós), eu me liberto e saio, sem magoá-lo de modo algum.
Eu penso bem, só queria o prazer sem sentimento. Mas alguma coisa me detém. Há em mim algo intocado, inabalado, que me ordena. Isto terá que ser acionado se pretendo me agitar inteiramente. Penso nisso no metrô, e me perco.

Anaïs Nin, Henry & June

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Henry Asencio


"Eu sou uma pessoa excitável que só entende a vida liricamente, musicalmente, em quem sentimentos são muito mais fortes que a razão. Eu estou tão sedenta para o maravilhoso que só o maravilhoso tem poder sobre mim. Qualquer coisa que eu não possa transformar em algo maravilhoso, eu deixo ir. Realidade não me impressiona. Eu só acredito em intoxicação, em êxtase, e quando vida ordinária me algemar, eu escapo, de uma maneira ou de outra. Nenhum muro mais."

Anaïs Nin

terça-feira, 30 de junho de 2009

John William Waterhouse 

Eu devo ser uma sereia. Eu não tenho medo de profundidades e tenho um grande medo de vida superficial.

Anaïs Nin