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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Enquanto o sol nascia sobre Washington, Langdon olhou pro céu, onde o último resquício das estrelas da noite se apagava. Pensou na ciência, na fé, no homem. Pensou em como todas as culturas, de todos os países, em todos os tempos, sempre haviam compartilhado uma coisa. Nós todos temos um Criador. Usamos nomes diferentes, rostos diferentes e preces diferentes, mas Deus é a constante universal do homem. Ele é o SÍMBOLO que todos compartilhamos... O símbolo de todos os mistérios da vida que não somos capazes de compreender.
Dan Brown, O símbolo perdido
terça-feira, 29 de outubro de 2013
O símbolo perdido
- O corpo humano é espantoso - disse ela – Se você o priva de uma informação sensorial, os outro sentidos assumem o comando quase no mesmo instante.
*
- Chama-se Câmara de Reflexões. Estas salas são lugares frios e austeros onde um maçom pode refletir sobre a prória mortalidade. Ao meditar sobre o caráter inevitável da morte, um maçom adquire uma valiosa compreensão sobre a natureza efêmera da vida.
*
- Bebeu dois copos d’água para acalmar o estômago faminto. Então foi até o espelho e estudou seu corpo nu. Os dois dias de jejum haviam acentuado sua musculatura e ele não pôde deixar de admirar aquilo em que tinha se transformado. Ao raiar do dia, eu serei muito mais.
*
- Langdon sabia que o decano estava certo. O famoso aforismo hermético – Não sabeis que sois deuses? – era um dos pilares dos Antigos Mistérios. Assim em cima como embaixo... homem criado à imagem de Deus... apoteose... Essa mensagem persiste da divindade do próprio homem – de seu potencial oculto – era o tema recorrente dos textos antigos de inúmeras tradições. Até mesmo a Bíblia Sagrada, em Salmos 82:6, proclamava: Vós sois deuses!
- Professor – disse o velho -, eu entendo que o senhor, assim como muitas pessoas instruídas, vive dividido, com um pé no mundo espiritual e o outro no mundo físico. Seu coração anseia por acreditar... mas seu intelecto se recusa a permitir isso. Como acadêmico, seria sensato da sua parte aprender com as grandes mentes da história. – Ele fez uma pausa e pigarreou. – Se não me falha a memória, uma das maiores mentes de todos os tempos afirmou: “Aquilo que é impenetrável para nós existe de fato. Por trás dos segredos da natureza há algo sutil, intangível e inexplicável. A veneração a essa força que está além de tudo o que podemos compreender é a minha religião.”
- Quem disse isso? – indagou Langdon. – Gandhi?
- Não – respondeu Katherine. – Albert Einstein.
*
Um ano antes, Katherine e o irmão estavam conversando sobre uma das questões mais perenes da filosofia – a existência da alma -, e em particular se os humanos possuem ou não algum tipo de consciência capaz de sobreviver fora do corpo.
Ambos intuíam que essa alma humana provavelmente existia. A maioria das filosofias antigas também acreditava nisso. O budismo e o bramanismo endossavam a metempsicose – a reencarnação, a transmigração da alma para um novo corpo após a morte. Os platônicos sustentavam que o corpo é uma “prisão” da qual a alma escapa. E os estoicos a chamavam de apospasma tou theu – “uma partícula de Deus” – e acreditavam que, na hora da morte, ela volta para junto Dele.
A existência da alma humana, percebeu Katherine com alguma frustração, era provavelmente um conceito que jamais seria provado pela ciência. Confirmar que uma consciência sobrevive fora do corpo humano após a morte equivalia a soltar uma nuvem de fumaça pela boca e esperar encontrá-la anos depois.
Após a conversa com o irmão, Katherine teve uma ideia estranha. Peter havia mencionado o Livro do Gênesis e sua descrição da alma como Neshemah – um sopro de vida, uma espécie de “inteligência” espiritual separada do corpo. Ocorreu-lhe que a palavra inteligência sugeria a presença de pensamento. A ciência noética propõe que os pensamentos têm massa, portanto, era lógico que a alma humana também poderia ter.
Seria possível pesar a alma humana?
Era um conceito absurdo, é claro... o simples fato de cogitar isso era tolice.
*
A mente de Robert Langdon pairava sobre um abismo sem fim.
Nenhuma luz. Nenhum som. Nenhuma sensação.
Somente um vazio infinito e silencioso.
Suavidade.
Ausência de peso.
Seu corpo o havia libertado. Nada mais o prendia.
O mundo físico deixara de existir. O tempo deixara de existir.
Ele agora era pura consciência... uma inteligência descarnada suspensa no vazio de um Universo incomensurável.
*
As nossas mitologias têm uma longa tradição de palavras mágicas capazes de proporcionar uma compreensão profunda e poderes divinos. Até hoje as crianças gritam ”abracadabra” na esperança de criar algo a partir do nada. É claro que todos nós esquecemos que essa palavra não tem nada a ver com brincadeira. Suas raízes estão no antigo misticismo aramaico: avra kedabra significa “Eu crio ao falar”.
*
- Senhorita? – ele apontou para a combativa menina loura no fundo do auditório. – Sei que nós dois não concordamos em muita coisa, mas quero lhe agradecer. Sua paixão é um catalisador importante das mudanças que estão por vir. As trevas se alimentam de apatia... e a convicção é nosso mais potente antídoto. Continue cultivando sua fé. Estude a Bíblia. – ele sorriu. – Principalmente as últimas páginas.
- O apocalipse? – indagou ela.
- Claro. O Livro do Apocalipse é um exemplo vibrante de nossa verdade compartilhada. Ele conta a mesmíssima história que inúmeras outras tradições. Todas elas predizem a futura revelação de um grande saber.
- Mas o Apocalipse não fala sobre o fim do mundo? – perguntou outra pessoa.
- O senhor sabe... O Anticristo, o Armagedom, a batalha decisiva entre o bem e o mal?
Solomon deu uma risadinha.
- Quem aqui estuda grego?
Várias mãos se levantaram
- qual o significado literal da palavra apocalipse?
- Apocalipse significa... – começou a responder um aluno, parando no meio como se estivesse surpreso – “desvendar”... ou “revelar”.
Salomon balançou a cabeça para o menino em um gesto de aprovação.
- Isso mesmo. Apocalipse quer dizer literalmente revelação. O último livro da Bíblia prevê o desvendamento de uma grande verdade e de um conhecimento inimaginável. O apocalipse não é o fim do mundo, mas sim o fim do mundo tal como nós o conhecemos. Essa profecia é apenas uma das lindas mensagens da Bíblia que foram distorcidas. – Solomon caminhou até a frente do tablado. – Podem acreditar em mim, o Apocalipse está chegando... e não vai se parecer em nada com o que nos ensinaram.
Bem alto acima de sua cabeça, o sino começou a dobrar.
Os alunos irromperam atônitos em uma estrondosa salva de palmas.
*
A infame técnica de interrogatório conhecida como water boarding é altamente eficaz porque a vítima acredita mesmo estar se afogando. Sato sabia de várias operações confidenciais em que tanques de privação sensorial como aquele haviam sido usados para levar essa ilusão a níveis aterrorizantes. Uma vítima submersa em líquido respirável podia ser literalmente “afogada”. O pânico associado à experiência do afogamento em si fazia com que a vítima, em geral, nem percebesse que o líquido que estava respirando era mais viscoso do que a água. Quando ele entrava em seus pulmões, a pessoa em geral desmaiava de medo, acordando em seguida no mais perfeito “confinamento solitário”.
Anestésicos tópicos e drogas de efeito paralisante e alucinógeno eram misturados ao líquido oxigenado para dar ao prisioneiro a sensação de que ele estava totalmente separado do próprio corpo. Quando sua mente enviava comandos para mover pernas e braços, nada acontecia. O estado de “morte” por si só já era apavorante, mas a verdadeira desorientação vinha do processo de “renascimento” que, com o auxílio de luzes intensas, ar frio e barulho ensurdecedor, podia ser extremamente traumático e doloroso. Após um punhado de “renascimentos” e afogamentos subsequentes, o prisioneiro ficava tão desorientado que não fazia mais ideia se estava vivo ou morto... e contava absolutamente qualquer coisa a quem estivesse conduzindo o interrogatório.
*
- Como você bem sabe... o segredo é saber como morrer.
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O objetivo do ritual maçônico é despertar o homem adormecido dentro de cada um, tirá-lo de seu escuro caixão de ignorância, alçá-lo à luz e dar-lhe olhos para ver. Somente por meio da morte o homem pode compreender totalmente sua experiência de vida. Apenas depois de entender que seus dias na Terra são finitos ele pode compreender a importância de vivê-los com honra, integridade e altruísmo.
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Todas as grandes verdades são simples.
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Os tesouros mais preciosos muitas vezes são os mais simples.
*
Eu estou olhando para mim mesmo, uma ruína de carne ensanguentada sobre a plataforma sagrada de mármore. Meu pai está ajoelhado atrás de mim, segurando minha cabeça sem vida com a única mão que lhe resta.
Sinto uma onda crescente de raiva... e de confusão.
A hora não é de compaixão... mas de vingança, de transformação... porém, mesmo assim, meu pai se recusa a ceder, a cumprir seu papel, a canalizar sua dor e sua raiva para a lâmina da faca e cravá-la no meu coração.
Estou amarrado aqui, suspenso... preso à minha casca terrena.
Meu pai passa suavemente a palma da mão pelo meu rosto para fechar meus olhos que se apagam.
Sinto as amarras se soltarem.
Um véu esvoaçante se materializa à minha volta, tornando-se mais espesso e fazendo a luz diminuir, escondendo o mundo de mim. De repente, o tempo se acelera e estou mergulhando em um abismo muito mais escuro do que algum dia pude imaginar. Ali, dentro de um vazio estéril, ouço um sussurro... sinto uma força se acumular. Ela vai ficando mais potente, crescendo a uma velocidade espantosa, me rodeando. Assustadora e poderosa. Sombria e impotente.
Eu não estou sozinho aqui.
Este é meu triunfo, minha grande recepção. No entanto, por algum motivo, sinto-me cheio não de alegria, mas de um medo sem limites.
É totalmente diferente do que eu esperava.
A força então se agita, rodopiando ao meu redor com uma potência irrefreável, ameaçando me partir ao meio. De repente, sem aviso, as trevas se adensam como uma grande fera pré-histórica, empinando-se à minha frente.
Estou diante de todas almas obscuras que me precederam.
Estou gritando com um terror sem fim... enquanto a escuridão me devora por dentro.
Dan Brown, O símbolo perdido
terça-feira, 27 de agosto de 2013
O símbolo perdido
Embora muitas pessoas interpretassem equivocadamente apocalipse como o cataclísmico fim do mundo, a palavra na verdade significa “revelação”... O “desvelamento”, como os antigos prediziam, de um grande saber. A futura era da iluminação. Ainda assim, Langdon não conseguia imaginar uma mudança tão grande sendo iniciada por... uma palavra.”
*
Toda cultura no mundo tinha seu livro sagrado, seu próprio Verbo. Um diferente do outro, mas, no fundo, todos iguais. Para os cristãos, a Palavra era a Bíblia; para os muçulmanos, o Alcorão; para os judeus, a Torá; para os hindus, os Vedas, e assim por diante.
A palavra iluminará o caminho.
*
Sei que você é cético, Robert, mas pense no seguinte: Se a Bíblia não contém um significado oculto, por que tantas das melhores mentes de todos os tempos, incluindo cientistas brilhantes da real Sociedade de Londres, ficaram tão obcecadas com o seu estudo? Sir Isaac Newton escreveu mais de um milhão de palavras na tentativa de decifrar o verdadeiro significado das Escrituras, incluindo um manuscrito de 1704, alegando que ele havia extraído informações científicas ocultas da Bíblia!
Langdon sabia que isso era verdade.
- E Sir Francis Bacon – prosseguiu Peter -, o erudito contratado pelo rei Jaime para literalmente criar a versão oficial da Bíblia King James, ficou tão convencido de que as Escrituras continham um significado cifrado que escreveu seus próprios códigos, ainda estudados até hoje. Como você sabe, é claro, Bacon era rosa-cruz e escreveu A sabedoria dos antigos. – Peter sorriu. – Até mesmo o poeta iconoclasta William Blake sugeriu que deveríamos ler nas entrelinhas.
Langdon conhecia o verso:
Nós dois lemos a bíblia dia e noite
Mas tu lês negro onde eu leio branco.
- E não foram só os eruditos europeus – continuou Peter, começando a descer os degraus mais depressa. – Foi aqui, Robert, bem no coração desta jovem nação norte-americana, que os mais brilhantes de nossos pais fundadores, John Adams, Ben Franklin, Thomas Paine, alertaram sobre os graves perigos de se interpretar a Bíblia de forma literal. Na verdade, Thomas Jefferson estava tão convencido de que a verdadeira mensagem das Escrituras estava escondida que recortou as páginas e reeditou o livro, tentando, em suas próprias palavras, “eliminar a estrutura artificial e restaurar as doutrinas genuínas”.
*
Por que os profetas, os maiores professores da história, iriam cifrar sua linguagem? Se queriam mudar o mundo, por que falariam em código? Por que não se expressariam com clareza para que todos pudessem entender?
*
- Buda disse: “Você mesmo é Deus.” Jesus ensinou que “O reino de Deus está entre vós” e chegou até a nos prometer que “Quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maior do que elas”. Até mesmo o primeiro antipapa, Hipólito de Roma, citou a mesma mensagem, dita pela primeira vez pelo erudito gnóstico Monoimus: “Abandone a busca por Deus... em vez disso, procure por ele tomando a si mesmo como ponto de partida.”
Langdon se lembrou da Casa do Templo, onde a cadeira do Cobridor da loja trazia, em seu espaldar, a inscrição: CONHECE-TE A TI MESMO.
- Um homem sábio me disse certa vez: a única diferença entre você e Deus é que você se esqueceu de que é divino – contou Peter com um fiapo de voz.
- Peter, entendo o que você está falando... de verdade. E adoraria acreditar que somos divinos, mas não vejo deuses andando sobre a Terra. Não vejo pessoas com poderes sobre-humanos. Você pode citar os supostos milagres da Bíblia, ou qualquer outro texto religioso, mas tudo isso não passa de velhas histórias fabricadas pelo homem que o tempo se encarregou de exagerar.
*
Quando começar a entender as parábolas crípticas, Robert, você vai perceber que a Bíblia é um estudo da mente humana.
Langdon encolheu os ombros.
- Acho que vou ter que ler tudo de novo
- Deixe-me fazer uma pergunta – disse ela, obviamente sem apreciar seu ceticismo – quando a Bíblia nos diz que devemos “construir nosso templo” e fazer isso “sem ferramentas e sem ruído”, de que templo você acha que ela está falando?
- Bem, o texto diz que o nosso corpo é um templo.
- Sim, em Coríntios 3:16 Vós sois o templo de Deus. – ela sorriu. (...)
Você já viu um cérebro humano de verdade? Ele é constituído por duas partes: uma externa, chamada dura-máter, e outra interna, chamada pia-máter. Essas duas partes são separadas pela membrana aracnoide, um véu de tecido que parece uma teia de aranha.
Langdon inclinou a cabeça, surpreso.
Com delicadeza, ela ergueu a mão e tocou a têmpora de Langdon.
- Existe um motivo para temple, em inglês, significar tanto “têmpora” quando “templo”, Robert.
Enquanto Langdon tentava processar o que Katherine acabara de dizer, lembrou-se inesperadamente do Evangelho gnóstico segundo Maria: Onde a mente está, lá está o tesouro.
- Talvez você tenha ouvido falar – disse Katherine, baixando o tom de voz – nos exames de ressonância magnética feitos em iogues meditando. Quando em estado avançado de concentração, o cérebro humano produz, por meio da glândula pineal, uma substância parecida com cera. Essa secreção cerebral não se parece com nenhuma outra substância do corpo. Ela tem um efeito incrivelmente curativo, é capaz de regenerar células e talvez seja um dos motivos por trás da longevidade dos iogues. Isso é ciência, Robert. Essa substância tem propriedades inconcebíveis e só pode ser criada por uma mente em estado de profunda concentração.
*
- Segundo Mateus 6:22 – disse ela com animação -, “Quando o teu olho for bom, todo o teu corpo terá luz”. Esse conceito também é representado pelo chacra ajna e pelo pontinho na testa dos hindus que...
Katherine se deteve abruptamente, parecendo encabulada.
- Desculpe... sei que estou falando sem parar. Mas é que acho tudo isso tão emocionante! Passei anos estudando as afirmações dos antigos sobre o incrível poder mental do homem, e agora a ciência está nos mostrando que o acesso a esse poder se dá, na verdade, por meio de um processo físico. Se usado corretamente, nosso cérebro pode invocar poderes literalmente sobre-humanos. A bíblia, como muitos textos antigos, é uma exposição detalhada da máquina mais sofisticada de todos os tempos... a mente humana. – ela deu um suspiro. – Por incrível que pareça, a ciência ainda não alcançou todo o potencial da mente.
- Parece que seu trabalho como a noética vai representar um salto à frente nessa área.
- Talvez seja um salto trás – disse ela. – Os antigos já conheciam muitas das verdades científicas que estamos redescobrindo atualmente. Em questão de anos, o homem moderno será forçado a aceitar algo hoje impensável: nossas mentes podem gerar energia capaz de transformar a matéria física. – Ela fez uma pausa. – As partículas reagem aos pensamentos... o que significa que nossos pensamentos tem o poder de mudar o mundo.
Langdon abriu um leve sorriso.
- Minha pesquisa me fez acreditar nisto: Deus é muito real... uma energia mental que permeia tudo – disse Katherine. – e nós, seres humanos, fomos criados a essa imagem...
- Como assim? – interrompeu Langdon. – Criados à imagem de... uma energia mental?
- Exatamente. Nossos corpos físicos evoluíram com o tempo, mas nossas mentes é que foram criadas à semelhança de Deus. Nós estamos levando a Bíblia muito ao pé de letra. Aprendemos que Deus nos criou à sua imagem, mas não são nossos corpos físicos que se assemelham a Deus, são nossas mentes. (...) – Nós somos criadores, mas ainda assim ficamos ingenuamente fazendo o papel de criaturas. Vemos a nós mesmos como ovelhas indefesas, manipuladas pelo Deus que nos criou. Nos ajoelhamos como crianças assustadas, implorando ajuda, perdão, boa sorte. Mas, quando percebermos que somos realmente feitos à imagem do Criador, vamos começar a entender que nós também devemos ser criadores. Assim que entendermos esse fato, as portas do potencial humano irão se escancarar.
Langdon se lembrou de um trecho da obra do filósofo Manly P. Hall: Se o infinito não quisesse que o homem fosse sábio, não teria lhe dado a faculdade de saber. Langdon tornou a erguer os olhos para a Apoteose de Washington – a ascensão simbólica do homem à divindade. A criatura... se transformando em Criador.
- O mais incrível de tudo – disse Katherine – é que, assim que nós, humanos, começarmos a dominar nosso verdadeiro poder, teremos enorme controle sobre o mundo. Seremos capazes de projetar a realidade em vez de simplesmente reagir a ela.
Langdon baixou os olhos.
- Parece... perigoso.
Katherine ficou surpresa... e impressionada.
- Isso, exatamente! Se os pensamentos afetam o mundo, então precisamos tomar muito cuidado com a maneira como pensamos. Pensamentos destrutivos também têm influência, e todos sabemos que é muito mais fácil destruir do que criar.(...) A grande ironia é que, durante séculos, todas as religiões do mundo incentivaram seus seguidores a abraçar os conceitos de fé e crença. Agora a ciência, que passou muitos séculos desprezando a religião ao considerá-la mera superstição, está sendo obrigada a admitir que sua próxima grande fronteira é literalmente a ciência da fé e da crença... o poder da convicção e da intenção. A mesma ciência que erodiu nossa fé nos milagres está agora construindo um aponte para atravessar o abismo que criou.
Dan Brown, O símbolo perdido
sábado, 29 de dezembro de 2012
Dan Brown, O símbolo Perdido
“- Não tenho nenhum interesse em algo tão frívolo quanto o Santo Graal ou o patético debate da humanidade para saber qual versão da história está correta. Discussões inúteis sobre a semântica da fé não me interessam nem um pouco. São perguntas que só se respondem com a morte.”
Dan Brown, O símbolo Perdido
domingo, 30 de setembro de 2012
Dan Brown, O símbolo perdido
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Por muitos milênios, a humanidade vinha tateando no escuro... mas agora, como estava escrito na profecia, havia mudanças no ar. Depois de avançar às cegas pela história, a humanidade chega a uma encruzilhada. Esse momento tinha sido previsto havia muito tempo, profetizado pelos textos antigos, calendários primevos e até mesmo pelas estrelas. A data era específica, sua chegada, iminente. Ela seria precedida por uma brilhante explosão de conhecimento... um clarão de luz para iluminar a escuridão e dar à humanidade uma última chance de se desviar do abismo e seguir o caminho da sabedoria."
Capítulo 14, p. 59-60
***
A tese geral era simples: Nós não chegamos nem perto de usar todo o potencial de nossas mentes e nossos espíritos.
Experiências conduzidas em instalações como o Instituto de Ciências Noéticas (ICN) da Califórnia e o Laboratório de Pesquisas de Anomalias da Engenharia (LPAE) de Princeton haviam provado categoricamente que o pensamento humano, quando adequadamente direcionado, tem a a capacidade de afetar e modificar a massa física. Essas experiências não eram truques de salão do tipo “entortar colheres”, mas sim investigações altamente controladas que produziam todas o mesmo resultado extraordinário: nossos pensamentos de fato interagem com o mundo físico, quer saibamos disso ou não, dando origem a mudanças que abrangem até o domínio subatômico.
A mente domina a matéria.
Em 2001, nas horas que se seguiram aos terríveis acontecimentos de 11 de setembro, o campo da ciência noética deu um salto quântico. Quatro cientistas descobriram que, à medida que o mundo amedrontado se unia e se concentrava em uma consternação coletiva em torno dessa tragédia específica, as leituras de 37 Geradores de Eventos Aleatórios diferentes espalhados pelo mundo de repente se tornaram significativamente menos aleatórias. De alguma forma, a unicidade dessa experiência compartilhada, a união de milhões de mentes, havia afetado a função de aleatoriedade dessas máquinas, organizando suas leituras e criando ordem a partir do caos.
Essa descoberta chocante parecia estar relacionada à antiga crença espiritual em uma "consciência cósmica" - uma vasta união de intenções humanas que, na verdade, teria a capacidade de interagir com a matéria física. Recentemente, estudos sobre meditação e prece coletivas produziram resultados similares em Geradores de Eventos Aleatórios, contribuindo para a afirmação de que a consciência humana, como a descrevia a autora especializada em noética Lynne McTaggart, é uma substância externa aos limites do corpo... uma energia altamente ordenada capaz de modificar o mundo físico. (...)
A partir dessa base, a pesquisa de Katherine Solomon dera um salto adiante, provando que o 'pensamento direcionado' pode afetar literalmente qualquer coisa - a velocidade do crescimento das plantas, a direção em que os peixes nadam dentro de um aquário, a forma como as células se dividem em uma placa de Petri, a sincronização dos sistemas automatizados separadamente e as reações químicas do corpo de uma pessoa.(...)
O pensamento humano pode literalmente transformar o mundo físico.
À medida que os experimentos de Katherine iam ficando mais ousados, os resultados se tornavam mais espantosos. Seu trabalho naquele laboratório havia provado sem qualquer sombra de dúvida que a expressão 'a mente domina a matéria' não é apenas um mantra de autoajuda da Nova Era. A mente é capaz de alterar o estado da matéria em si e, mais importante, possui o poder de incentivar o mundo físico a se mover em uma direção específica."(...)
Nós somos os mestres de nosso próprio universo.
(...)
"No entanto, o aspecto mais surpreendente do trabalho de Katherine tinha sido a descoberta de que a capacidade da mente de afetar o mundo físico pode ser aumentada por meio da prática. A intenção é uma habilidade adquirida. Como na meditação, controlar o verdadeiro poder do 'pensamento' exige treinamento. Mais importante ainda... algumas pessoas nascem com mais aptidão para fazer isso do que outras. E, ao longo da história, alguns indivíduos se tornaram verdadeiros mestres."
Esse é o elo perdido entre a ciência moderna e o misticismo antigo."
Capítulo 15, p. 60-62
Dan Brown, O símbolo perdido
Editora Sextavante, trad. Fernanda Abreu
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
O conhecimento é uma ferramenta e, como todas as ferramentas, seu impacto está nas mãos do usuário.
Katherine se recostou na cadeira, parecendo impressionada.
- Então deixe-me lhe fazer uma pergunta hipotética.
De repende, Trish percebeu que a conversa havia se transformado em uma entrevista de emprego.
Katherine estendeu o braço e recolheu um minúsculo grão de areia do piso da varanda, erguendo-o para Trish ver.
- O que me parece - disse ela - é que, basicamente, seu trabalho sobre metassistemas permite calcular o peso de toda a areia de uma praia, pesando um grão de cada vez.
- Basicamente, é isso mesmo.
- Como você sabe, esse grãozinho de areia tem uma massa. Muito pequena, mas mesmo assim uma massa.
Trish aquiesceu.
- E justamente pelo fato de este grão de areia ter uma massa, ele exerce uma força de gravidade. Ela também é pequena demais para ser sentida, mas existe.
- Certo.
- Então - disse Katherine -, se nós pegarmos trilhões de grãos de areia como este e deixarmos que atraiam uns aos outros para formar, digamos, a lua, a força de gravidade combinada deles será suficiente para mover oceanos inteiros e fazer subir e descer as marés por todo o nosso planeta.
Trish não sabia aonde Katherine pretendia chegar, mas estava gostando do que ouvia.
- Então vamos elaborar uma hipótese - falou Katherine, descartando o grão de areia. - E se eu dissesse a você que um pensamento, qualquer ideia minúscula que se forme na sua mente, possui uma massa? E se eu lhe dissesse que um pensamento é uma coisa de verdade, uma entidade mensurável, com uma massa mensurável? Minúscula, é claro, mas ainda assim uma massa. Quais seriam as implicações disso?
- Hipoteticamente falando? Bem, as implicações óbvias seriam: se um pensamento tem massa, então ele exerce uma força de gravidade e pode atrair coisas para si.
Katherine sorriu.
- Você é boa. Agora avance mais um passo. O que acontece se muitas pessoas começam a se concentrar no mesmo pensamento? Todas as ocorrências desse mesmo pensamento passam a se consolidar em uma só, e a massa acumulada dele começa a aumentar. Portanto, sua gravidade aumenta.
- Certo.
- O que significa que… se um número suficiente de pessoas começar a pensar a mesma coisa, então a força gravitacional dessa ideia se torna tangível e exerce uma força de verdade. - Katherine deu uma piscadela. - E ela pode ter um efeito mensurável no nosso mundo físico.
Dan Brown, O Símbolo Perdido, p.82
Editora Sextavante
Tradução: Fernanda Abreu
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Dan Brown, O Símbolo Perdido
Viver no mundo sem tomar consciência do significado do mundo é como vagar por uma imensa biblioteca sem tocar os livros.
Os Ensinamentos Secretos de Todos os Tempos
Capítulo 13
A Rotunda do Capitólio — assim como a Basílica de São Pedro — sempre tinha o dom de surpreender Robert Langdon. Ele sabia que aquele espaço era grande o suficiente para comportar com folga a Estátua da Liberdade, mas de alguma forma a Rotunda sempre lhe parecia maior e mais sagrada do que ele esperava, como se espíritos pairassem no ar. Naquela noite, porém, havia apenas caos.
Agentes de segurança do Capitólio estavam isolando a Rotunda ao mesmo tempo que tentavam guiar os turistas perplexos para longe da mão. O menininho continuava chorando. Uma luz forte se acendeu — um turista tirando uma foto da mão —, e vários seguranças agarraram imediatamente o homem, tomando-lhe a câmera e escoltando-o até a saída. Na confusão, Langdon se viu andando para a frente como em um transe, abrindo caminho pelo aglomerado de gente para chegar cada vez mais perto da mão.
A mão direita cortada de Peter Solomon estava na vertical, com a superfície plana do pulso seccionado fincada no prego de uma pequena base de madeira. Três dos dedos estavam fechados, enquanto o polegar e o indicador se encontravam esticados, apontando para cima em direção à cúpula altíssima.
— Todos para trás! — exclamou um dos agentes.
Langdon estava perto o suficiente agora para ver o sangue seco que havia escorrido do pulso e coagulado sobre a base de madeira. Ferimentos post-mortem não sangram... o que significa que Peter está vivo. Langdon não sabia se deveria ficar aliviado ou nauseado. A mão de Peter foi cortada com ele ainda vivo? Bílis subiu até sua garganta. Ele pensou em todas as vezes que seu querido amigo tinha estendido aquela mão para apertar a sua ou para lhe dar um caloroso abraço.
Durante vários segundos, Langdon sentiu a mente ficar vazia, como uma TV mal sintonizada que transmite apenas estática. A primeira imagem nítida que se formou foi totalmente inesperada.
Uma coroa... e uma estrela.
Langdon se agachou, examinando as pontas do polegar e do indicador de Peter. Tatuagens? Era inacreditável, mas o monstro que havia feito aquilo parecia ter tatuado pequenos símbolos nas pontas dos dedos de Peter.
No polegar, uma coroa. No indicador, uma estrela.
Não pode ser. Os dois símbolos foram registrados instantaneamente pela mente de Langdon, ampliando aquela cena horrenda para transformá-la em algo quase sobrenatural. Aqueles símbolos já haviam aparecido juntos muitas vezes na história, e sempre no mesmo lugar — nas pontas dos dedos da mão de alguém. Aquele era um dos ícones mais cobiçados e secretos do mundo antigo.
A Mão dos Mistérios.
O ícone raramente era visto hoje em dia, mas, ao longo da história, havia simbolizado um poderoso chamado à ação. Langdon se esforçava para compreender o grotesco artefato à sua frente. Alguém usou a mão de Peter para fabricar a Mão dos Mistérios? Era inimaginável. Tradicionalmente, o ícone era esculpido em pedra ou madeira, ou então desenhado. Langdon nunca tinha ouvido falar de uma versão de carne e osso. A ideia era repulsiva.
— Senhor? — disse um segurança atrás de Langdon. — Afaste-se, por gentileza. Langdon mal ouviu o que ele disse. Há outras tatuagens. Embora não pudesse ver as pontas dos três dedos fechados, Langdon sabia que também ostentariam marcas singulares. Era essa a tradição. Cinco símbolos ao todo. Ao longo dos milênios, os símbolos na ponta dos dedos da Mão dos Mistérios nunca haviam mudado... e tampouco o objetivo simbólico da mão.
A mão representa... um convite.
Langdon teve um súbito calafrio ao recordar as palavras do homem que o levara até ali. Professor, o senhor vai receber o convite da sua vida. Nos tempos antigos, a Mão dos Mistérios representava, na verdade, o convite mais cobiçado da Terra. Receber aquele ícone era uma convocação sagrada para se unir a um grupo de elite — aqueles que eram considerados os guardiães do conhecimento secreto de todos os tempos. O convite não só era uma grande honra, como também significava que um mestre o considerava digno de receber aquele conhecimento oculto. A mão que o mestre estende ao iniciado.
— Senhor — insistiu o segurança, pousando uma das mãos com firmeza no ombro de Langdon —, preciso que se afaste agora mesmo.
— Eu sei o que isto aqui significa — disse Langdon. — Posso ajudar.
— Agora! — repetiu o segurança.
— Meu amigo está em apuros. Nós precisamos...
Langdon sentiu braços fortes erguerem seu corpo e levarem-no para longe da mão. Simplesmente deixou aquilo acontecer..., sentia-se abalado demais para protestar. Um convite formal acabara de ser entregue. Alguém estava convocando Langdon para destrancar um portal místico que iria revelar um mundo de antigos mistérios e conhecimento oculto.
Mas era tudo uma insanidade.
Delírios de um louco.
Dan Brown, O Símbolo Perdido, pág.57-58
Tradução: Fernanda Abreu
Editora Sextavante
terça-feira, 15 de maio de 2012
Dan Brown, O símbolo perdido
O vazio sem fim em que Langdon pairava foi subitamente preenchido por um sol ofuscante. Raios de intensa luz branca penetraram a escuridão, queimando sua mente.
Havia luz por toda a parte.
De repente, de dentro da nuvem radiante à sua frente, surgiu uma linda silhueta. Um rosto... embaçado e indistinto... dois olhos que o fitavam do vazio.
Raios de luz cercavam aquela face, e Langdon imaginou se estaria fitando o semblante de Deus.
Dan Brown, O símbolo perdido
domingo, 11 de março de 2012
Dan Brown, O símbolo perdido
- (...) me digam, quais são os três pré-requisitos para uma ideologia ser considerada religião?
- Garantir, acreditar, converter – respondeu uma jovem
- Correto – disse Langdon. - As religiões garantem a salvação; as religiões acreditam em uma teologia específica; e as religiões convertem os não fiéis. – Ele fez uma pausa. – Mas a Maçonaria não se enquadra em nenhum desses três critérios. Os maçons não fazem promessas de salvação, não têm uma teologia específica, nem tentam converter ninguém. Na verdade, nas lojas maçônicas, conversas sobre religião são proibidas.
- Então... a Maçonaria é antirreligiosa?
- Pelo contrário. Um dos pré-requisitos para se tornar maçom é que você precisa acreditar em uma força superior. A diferença entre a espiritualidade Maçônica e uma religião organizada é que os maçons não impõem a esse poder nenhuma definição específica ou nomenclatura. Em vez de identidades teológicas definitivas como Deus, Alá, Buda ou Jesus, os maçons usam termos mais genéricos como Ser Supremo ou Grande Arquiteto do Universo. Isso possibilita a união de maçons de crenças diferentes.
- Parece meio esquisito – comentou alguém.
- Ou, quem sabe, estimulante e libertador? – sugeriu Langdon. – Nesta época em que culturas diferentes se matam para saber qual é a melhor definição de Deus, poderíamos afirmar que a tradição maçônica de tolerância e liberdade é louvável. – Langdon caminhou pelo tablado. – Além do mais, a Maçonaria está aberta a homens de todas as raças, cores e credos, e proporciona uma fraternidade espiritual que não faz qualquer tipo de discriminação.
- Não faz discriminação? – Uma integrante da Associação de Alunas da universidade se levantou. – Quantas mulheres têm permissão para serem maçons, professor Langdon?
Landgon ergueu as mãos, rendendo-se.
- Bem colocado. As raízes tradicionais da Francomaçonaria são as guildas de pedreiros da Europa, o que a tornava, portanto, uma organização masculina. Centenas de anos atrás, há quem diga que em 1703, foi fundado um braço feminino chamado Estrela da Oriente. Essa organização possui mais de um milhão de integrantes.
- Mesmo assim – disse a mulher -, a Maçonaria é uma organização poderosa da qual as mulheres estão excluídas.
Langdon não sabia ao certo quão poderosos os maçons ainda eram e não estava disposto a enveredar por essa seara. As opiniões sobre os maçons modernos iam de um bando de velhotes inofensivos que gostavam de se fantasiar... até um conluio secreto de figurões que controlava o mundo. A verdade estava sem dúvida em algum lugar entre essas duas concepções.
- Professor Langdon – disse um rapaz de cabelos encaracolados na última fileira -, se a Maçonaria não é uma sociedade secreta, nem uma empresa, nem uma religião, então o que é?
- Bem, se você perguntasse isso a um maçom, ele daria a seguinte definição: a Francomaçonaria é um sistema de moralidade envolto em alegorias e ilustrado por símbolos.
- Isso me parece um eufemismo para “seita de malucos”.
- Malucos, você disse?
- É isso aí! – disse o aluno, levantando-se. – Sei muito bem o que eles fazem dentro desses prédios secretos! Rituais esquisitos à luz de velas, com caixões, forcas e crânios cheios de vinho para beber. Isso, sim, é maluquice.
Langdon correu os olhos pela sala.
- Alguém mais acha que isso é maluquice?
- Sim! – entoaram os alunos em coro.
Langdon deu suspiro fingido de tristeza.
- Que pena. Se isso é maluco demais para vocês, então sei que nunca vão querer entrar para a minha seita.
Um silêncio recaiu sobre a sala. A integrante da Associação de Alunas pareceu incomodada.
- O Senhor faz parte de uma seita?
Langdon assentiu com a cabeça e baixou a voz até um sussurro conspiratório.
- Não contem pra ninguém, mas, no dia em que o deus-sol Rá é venerado pelos pagãos, eu me ajoelho aos pés de um antigo instrumento de tortura e consumo símbolos ritualísticos de sangue e carne.
A turma toda fez uma cara horrorizada.
Langdon deu de ombros.
- E, se algum de vocês quiser se juntar a mim, vá à capela de Harvard no domingo, ajoelhe-se diante da cruz e faça a santa comunhão.
A sala continuou em silêncio.
Langdon deu uma piscadela.
- Abram a mente, meus amigos. Todos nós tememos aquilo que foge à nossa compreensão.
Dan Brown, O símbolo perdido
- Garantir, acreditar, converter – respondeu uma jovem
- Correto – disse Langdon. - As religiões garantem a salvação; as religiões acreditam em uma teologia específica; e as religiões convertem os não fiéis. – Ele fez uma pausa. – Mas a Maçonaria não se enquadra em nenhum desses três critérios. Os maçons não fazem promessas de salvação, não têm uma teologia específica, nem tentam converter ninguém. Na verdade, nas lojas maçônicas, conversas sobre religião são proibidas.
- Então... a Maçonaria é antirreligiosa?
- Pelo contrário. Um dos pré-requisitos para se tornar maçom é que você precisa acreditar em uma força superior. A diferença entre a espiritualidade Maçônica e uma religião organizada é que os maçons não impõem a esse poder nenhuma definição específica ou nomenclatura. Em vez de identidades teológicas definitivas como Deus, Alá, Buda ou Jesus, os maçons usam termos mais genéricos como Ser Supremo ou Grande Arquiteto do Universo. Isso possibilita a união de maçons de crenças diferentes.
- Parece meio esquisito – comentou alguém.
- Ou, quem sabe, estimulante e libertador? – sugeriu Langdon. – Nesta época em que culturas diferentes se matam para saber qual é a melhor definição de Deus, poderíamos afirmar que a tradição maçônica de tolerância e liberdade é louvável. – Langdon caminhou pelo tablado. – Além do mais, a Maçonaria está aberta a homens de todas as raças, cores e credos, e proporciona uma fraternidade espiritual que não faz qualquer tipo de discriminação.
- Não faz discriminação? – Uma integrante da Associação de Alunas da universidade se levantou. – Quantas mulheres têm permissão para serem maçons, professor Langdon?
Landgon ergueu as mãos, rendendo-se.
- Bem colocado. As raízes tradicionais da Francomaçonaria são as guildas de pedreiros da Europa, o que a tornava, portanto, uma organização masculina. Centenas de anos atrás, há quem diga que em 1703, foi fundado um braço feminino chamado Estrela da Oriente. Essa organização possui mais de um milhão de integrantes.
- Mesmo assim – disse a mulher -, a Maçonaria é uma organização poderosa da qual as mulheres estão excluídas.
Langdon não sabia ao certo quão poderosos os maçons ainda eram e não estava disposto a enveredar por essa seara. As opiniões sobre os maçons modernos iam de um bando de velhotes inofensivos que gostavam de se fantasiar... até um conluio secreto de figurões que controlava o mundo. A verdade estava sem dúvida em algum lugar entre essas duas concepções.
- Professor Langdon – disse um rapaz de cabelos encaracolados na última fileira -, se a Maçonaria não é uma sociedade secreta, nem uma empresa, nem uma religião, então o que é?
- Bem, se você perguntasse isso a um maçom, ele daria a seguinte definição: a Francomaçonaria é um sistema de moralidade envolto em alegorias e ilustrado por símbolos.
- Isso me parece um eufemismo para “seita de malucos”.
- Malucos, você disse?
- É isso aí! – disse o aluno, levantando-se. – Sei muito bem o que eles fazem dentro desses prédios secretos! Rituais esquisitos à luz de velas, com caixões, forcas e crânios cheios de vinho para beber. Isso, sim, é maluquice.
Langdon correu os olhos pela sala.
- Alguém mais acha que isso é maluquice?
- Sim! – entoaram os alunos em coro.
Langdon deu suspiro fingido de tristeza.
- Que pena. Se isso é maluco demais para vocês, então sei que nunca vão querer entrar para a minha seita.
Um silêncio recaiu sobre a sala. A integrante da Associação de Alunas pareceu incomodada.
- O Senhor faz parte de uma seita?
Langdon assentiu com a cabeça e baixou a voz até um sussurro conspiratório.
- Não contem pra ninguém, mas, no dia em que o deus-sol Rá é venerado pelos pagãos, eu me ajoelho aos pés de um antigo instrumento de tortura e consumo símbolos ritualísticos de sangue e carne.
A turma toda fez uma cara horrorizada.
Langdon deu de ombros.
- E, se algum de vocês quiser se juntar a mim, vá à capela de Harvard no domingo, ajoelhe-se diante da cruz e faça a santa comunhão.
A sala continuou em silêncio.
Langdon deu uma piscadela.
- Abram a mente, meus amigos. Todos nós tememos aquilo que foge à nossa compreensão.
Dan Brown, O símbolo perdido
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Dan Brown, O Código da Vinci
Prólogo
Museu do Louvre, Paris
22:46
O renomado curador Jacques Saunière percorreu cambaleante a arcada abobadada da Grande Galeria do museu. Lançou-se de encontro à pintura mais próxima que enxergou, um Caravaggio. Agarrando a moldura dourada, o homem de 76 anos puxou a obra-prima para si até despencar para trás, arrancando o quadro da parede e caindo de qualquer jeito por baixo da tela.
Como havia previsto, um portão de ferro desceu, com grande estrondo, ali perto, lacrando a entrada do conjunto de salas do gabinete. O assoalho de parquê tremeu. Bem distante, um alarme começou a soar.
O curador ficou ali deitado um instante, arquejante, avaliando a situação. Ainda estou vivo. Rastejando, saiu de baixo do quadro e esquadrinhou o ambiente cavernoso, procurando onde se esconder.
Uma gélida voz soou, assustadoramente próxima.
- Não se mexa.
De quatro, o diretor paralisou-se, virando a cabeça devagar.
A apenas cinco metros, diante do portão lacrado, a silhueta monstruosa de seu agressor espreitava-o por entre as barras de ferro. Era espadaúdo e alto, pele branca como a de um fantasma e cabelos também brancos e ralos. As íris eram rosadas, com pupilas vermelho-escuras. O albino sacou uma pistola do casaco e, passando o cano entre as barras, apontou-a diretamente para o diretor.
- Não devia ter fugido. – O sotaque dele era indefinível. – Agora me diga onde está.
- Eu já lhe disse – gaguejou o diretor, ajoelhado e indefeso no chão da galeria. – Não faço a menor ideia do que está falando!
- Mentira sua. – O homem estava perfeitamente imóvel, a não ser pelo brilho de seus olhos fantasmagóricos, cravados em Saunière – Você e sua fraternidade possuem uma coisa que não lhes pertence.
O curador sentiu uma torrente de adrenalina na circulação. Como era possível que ele soubesse disso?
- Esta noite ela voltará para as mãos dos guardiães corretos. Diga-me onde está escondida, que pouparei sua vida. – O homem ergueu a arma até a altura da cabeça do curador. – É um segredo pelo qual o senhor morreria?
Saunière não conseguia respirar.
O homem inclinou a cabeça, fazendo mira.
Saunière levantou as mãos.
- Espere – disse, devagar. – Vou lhe contar o que precisa saber. – O curador pronunciou as palavras seguintes com imenso cuidado. Havia ensaiado várias vezes a mentira que contou... rezando a cada vez para jamais ser obrigado a utilizá-la.
Quando o curador terminou de falar, o atacante sorriu, pretensioso.
- Sim, Foi exatamente isso o que os outros me disseram.
Saunière encolheu-se. Os outros?
- Eu também os encontrei – disse o gigante, sarcástico. – Todos os três. Confirmaram o que acabou de me dizer.
Não pode ser! A verdadeira identidade do curador, assim como as de seus três guardiães, era quase tão sagrada quanto o segredo antiqüíssimo que eles protegiam. Saunière agora percebia que seus guardiães, seguindo à risca os procedimentos, haviam contado a mesma mentira antes de morrerem. Fazia parte do protocolo.
O atacante tornou a mirar.
- Quando o senhor tiver morrido, eu serei o único a saber a verdade.
A verdade. Em um instante, o curador percebeu o verdadeiro horror da situação. Se eu morrer, a verdade se perderá para sempre. Instintivamente, procurou se proteger, desajeitado.
A arma explodiu, o diretor sentiu um calor escaldante quando a bala se alojou em seu estômago. Caiu para a frente... lutando contra a dor. Vagarosamente rolou de barriga para cima e lançou um olhar vidrado ao seu atacante, do outro lado das barras.
O homem agora estava mirando direto a cabeça de Saunière.
Saunière fechou os olhos, os pensamentos transformados em uma rodopiante tempestade de medo e arrependimento.
O estalido de uma arma sem munição ecoou pelo corredor.
Os olhos do diretor se abriram.
O homem olhou de relance para a arma, parecendo quase achar graça. Pegou mais um pente, mas depois reconsiderou, olhando com um sorriso calmo para o sofrimento de Saunière.
- Já cumpri meu dever aqui.
O diretor olhou para baixo e viu o buraco de bala na camisa de linho branco, rodeado por um pequeno círculo de sangue alguns centímetros abaixo do esterno. Meu estômago. Quase cruelmente, a bala havia deixado de lhe atravessar o coração. Por ser veterano da Guerra da Argélia, o diretor havia presenciado mortes horrivelmente lentas antes. Durante 15 minutos, ele sobreviveria, enquanto os ácidos do estômago lhe penetravam a cavidade peitoral, envenenando-o lentamente por dentro.
- A dor é boa, monsieur - disse o homem.
Depois se foi.
Sozinho, Jacques Saunière voltou outra vez o olhar para o portão de ferro. Estava preso, e as portas não se reabririam em menos de 20 minutos. Quando alguém conseguisse alcançá-lo, ele já estaria morto. Mesmo assim, o medo que agora o assaltava era muito maior do que o da sua morte.
Preciso passar o segredo adiante.
Oscilando, pôs-se de pé e lembrou-se dos três membros assassinados da fraternidade. Pensou nas gerações que vieram antes deles... na missão que havia sido confiada a todos.
Uma cadeia ininterrupta de conhecimento.
De repente, agora, apesar de todas as precauções... apesar de todos os dispositivos à prova de falhas... Jacques Saunière era o único elo que restava, o único guardião de um dos mais poderosos segredos jamais guardados.
Tremendo, obrigou-se a ficar de pé.
Preciso encontrar uma maneira...
Estava preso dentro da Grande Galeria, e só havia uma pessoa no mundo a quem ele podia passar o bastão. Saunière ergueu o olhar para as paredes de sua opulenta cela. As mais famosas telas do mundo pareciam sorrir para ele, como velhas amigas.
Gemendo de dor, concentrou todas as suas faculdades e todas as suas forças. A fenomenal tarefa que tinha diante de si, sabia, iria exigir todos os segundos de vida que lhe restavam.
Dan Brown, O Código da Vinci
Museu do Louvre, Paris
22:46
O renomado curador Jacques Saunière percorreu cambaleante a arcada abobadada da Grande Galeria do museu. Lançou-se de encontro à pintura mais próxima que enxergou, um Caravaggio. Agarrando a moldura dourada, o homem de 76 anos puxou a obra-prima para si até despencar para trás, arrancando o quadro da parede e caindo de qualquer jeito por baixo da tela.
Como havia previsto, um portão de ferro desceu, com grande estrondo, ali perto, lacrando a entrada do conjunto de salas do gabinete. O assoalho de parquê tremeu. Bem distante, um alarme começou a soar.
O curador ficou ali deitado um instante, arquejante, avaliando a situação. Ainda estou vivo. Rastejando, saiu de baixo do quadro e esquadrinhou o ambiente cavernoso, procurando onde se esconder.
Uma gélida voz soou, assustadoramente próxima.
- Não se mexa.
De quatro, o diretor paralisou-se, virando a cabeça devagar.
A apenas cinco metros, diante do portão lacrado, a silhueta monstruosa de seu agressor espreitava-o por entre as barras de ferro. Era espadaúdo e alto, pele branca como a de um fantasma e cabelos também brancos e ralos. As íris eram rosadas, com pupilas vermelho-escuras. O albino sacou uma pistola do casaco e, passando o cano entre as barras, apontou-a diretamente para o diretor.
- Não devia ter fugido. – O sotaque dele era indefinível. – Agora me diga onde está.
- Eu já lhe disse – gaguejou o diretor, ajoelhado e indefeso no chão da galeria. – Não faço a menor ideia do que está falando!
- Mentira sua. – O homem estava perfeitamente imóvel, a não ser pelo brilho de seus olhos fantasmagóricos, cravados em Saunière – Você e sua fraternidade possuem uma coisa que não lhes pertence.
O curador sentiu uma torrente de adrenalina na circulação. Como era possível que ele soubesse disso?
- Esta noite ela voltará para as mãos dos guardiães corretos. Diga-me onde está escondida, que pouparei sua vida. – O homem ergueu a arma até a altura da cabeça do curador. – É um segredo pelo qual o senhor morreria?
Saunière não conseguia respirar.
O homem inclinou a cabeça, fazendo mira.
Saunière levantou as mãos.
- Espere – disse, devagar. – Vou lhe contar o que precisa saber. – O curador pronunciou as palavras seguintes com imenso cuidado. Havia ensaiado várias vezes a mentira que contou... rezando a cada vez para jamais ser obrigado a utilizá-la.
Quando o curador terminou de falar, o atacante sorriu, pretensioso.
- Sim, Foi exatamente isso o que os outros me disseram.
Saunière encolheu-se. Os outros?
- Eu também os encontrei – disse o gigante, sarcástico. – Todos os três. Confirmaram o que acabou de me dizer.
Não pode ser! A verdadeira identidade do curador, assim como as de seus três guardiães, era quase tão sagrada quanto o segredo antiqüíssimo que eles protegiam. Saunière agora percebia que seus guardiães, seguindo à risca os procedimentos, haviam contado a mesma mentira antes de morrerem. Fazia parte do protocolo.
O atacante tornou a mirar.
- Quando o senhor tiver morrido, eu serei o único a saber a verdade.
A verdade. Em um instante, o curador percebeu o verdadeiro horror da situação. Se eu morrer, a verdade se perderá para sempre. Instintivamente, procurou se proteger, desajeitado.
A arma explodiu, o diretor sentiu um calor escaldante quando a bala se alojou em seu estômago. Caiu para a frente... lutando contra a dor. Vagarosamente rolou de barriga para cima e lançou um olhar vidrado ao seu atacante, do outro lado das barras.
O homem agora estava mirando direto a cabeça de Saunière.
Saunière fechou os olhos, os pensamentos transformados em uma rodopiante tempestade de medo e arrependimento.
O estalido de uma arma sem munição ecoou pelo corredor.
Os olhos do diretor se abriram.
O homem olhou de relance para a arma, parecendo quase achar graça. Pegou mais um pente, mas depois reconsiderou, olhando com um sorriso calmo para o sofrimento de Saunière.
- Já cumpri meu dever aqui.
O diretor olhou para baixo e viu o buraco de bala na camisa de linho branco, rodeado por um pequeno círculo de sangue alguns centímetros abaixo do esterno. Meu estômago. Quase cruelmente, a bala havia deixado de lhe atravessar o coração. Por ser veterano da Guerra da Argélia, o diretor havia presenciado mortes horrivelmente lentas antes. Durante 15 minutos, ele sobreviveria, enquanto os ácidos do estômago lhe penetravam a cavidade peitoral, envenenando-o lentamente por dentro.
- A dor é boa, monsieur - disse o homem.
Depois se foi.
Sozinho, Jacques Saunière voltou outra vez o olhar para o portão de ferro. Estava preso, e as portas não se reabririam em menos de 20 minutos. Quando alguém conseguisse alcançá-lo, ele já estaria morto. Mesmo assim, o medo que agora o assaltava era muito maior do que o da sua morte.
Preciso passar o segredo adiante.
Oscilando, pôs-se de pé e lembrou-se dos três membros assassinados da fraternidade. Pensou nas gerações que vieram antes deles... na missão que havia sido confiada a todos.
Uma cadeia ininterrupta de conhecimento.
De repente, agora, apesar de todas as precauções... apesar de todos os dispositivos à prova de falhas... Jacques Saunière era o único elo que restava, o único guardião de um dos mais poderosos segredos jamais guardados.
Tremendo, obrigou-se a ficar de pé.
Preciso encontrar uma maneira...
Estava preso dentro da Grande Galeria, e só havia uma pessoa no mundo a quem ele podia passar o bastão. Saunière ergueu o olhar para as paredes de sua opulenta cela. As mais famosas telas do mundo pareciam sorrir para ele, como velhas amigas.
Gemendo de dor, concentrou todas as suas faculdades e todas as suas forças. A fenomenal tarefa que tinha diante de si, sabia, iria exigir todos os segundos de vida que lhe restavam.
Dan Brown, O Código da Vinci
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Dan Brown, O símbolo perdido
Prólogo
Casa do Templo
20h33
O segredo é saber como morrer.
Desde o início dos tempos, o segredo sempre foi saber como morrer.
O iniciado de 34 anos baixou os olhos para o crânio humano que segurava com as duas mãos. O crânio era oco feito uma tigela e estava cheio de vinho cor de sangue.
Beba, disse ele a si mesmo. Você não tem nada a temer.
Como rezava a tradição, ele havia começado aquela jornada vestido com os trajes ritualísticos de um herege medieval a caminho da forca, com a camisa frouxa deixando entrever o peito pálido, a perna esquerda da calça arregaçada até o joelho e a manga direita enrolada até o cotovelo. De seu pescoço pendia um pesado nó feito de corda – uma “atadura”, como diziam os irmãos. Nessa noite, porém, assim como os companheiros que assistiam à cerimônia, ele estava vestido de mestre.
O grupo que o rodeava estava todo paramentado com aventais de pele de cordeiro, faixas na cintura e luvas brancas. Em volta do pescoço usavam joias cerimoniais que cintilavam à luz mortiça como olhos espectrais. Muitos daqueles homens ocupavam cargos de poder lá fora, mas o iniciado sabia que suas posições mundanas nada significavam entre aquelas paredes. Ali todos eram iguais, irmãos unidos pelo juramento compartilhando um elo místico.
Correndo os olhos pelo impressionante grupo, o iniciado se perguntou quem, no mundo exterior, seria capaz de acreditar que todos aqueles homens pudessem se reunir em um mesmo lugar... principalmente naquele lugar. O recinto parecia um santuário sagrado do mundo antigo.
A verdade, porém, era ainda mais estranha.
Estou a poucos quarteirões da Casa Branca.
Aquele edifício colossal, situado no número1.733 da Rua 16 Noroeste, em Washington, D.C., era a réplica de um tempo pré-cristão – o Templo do Rei Mausolo, o primeiro mausoléu... Um lugar para onde se era levado após a morte. Diante da entrada principal, duas esfinges de 17 toneladas montavam guarda ao lado das portas de bronze. O interior era um labirinto de câmaras ritualísticas, corredores, alcovas secretas, bibliotecas e até mesmo um compartimento contendo os restos mortais de dois corpos humanos. O iniciado havia aprendido que cada cômodo daquele edifício guardava um segredo, mas sabia que nenhum deles ocultava mistérios mais profundos dos que a câmara colossal na qual se encontrava agora, ajoelhado, segurando um crânio nas mãos.
A Sala do Templo.
Sua forma era a de um quadrado perfeito. E o ambiente era sombrio e grandioso. O teto altíssimo se erguia a surpreendentes 30 metros sustentado por colunas monolíticas de granito verde. Ao redor da sala, fileiras de cadeiras russas de nogueira escura, estofadas com couro de porco trabalhado à mão, estavam dispostas em níveis. Um trono de 10 metros de altura dominava a parede oeste, e um órgão escondido ocupava o lado oposto. As paredes eram um caleidoscópio de símbolos antigos... egípcios, hebraicos, astronômicos, alquímicos e outros ainda desconhecidos.
Nessa noite, a Sala do Templo estava iluminada por uma série de velas minuciosamente posicionadas. Seu brilho fraco era complementado apenas por um facho de luar que entrava pela ampla claraboia do teto jogando luz sobre o elemento mais surpreendente da sala – um imenso altar feito de um bloco maciço de mármore belga preto polido, situado bem no meio do recinto quadrado.
O segredo é saber como morrer, lembrou o iniciado a si mesmo.
- Chegou a hora – sussurrou uma voz.
O iniciado deixou seu olhar subir até o rosto do distinto personagem vestido de branco à sua frente. O venerável Mestre Supremo. O homem, de quase 60 anos, era um ícone norte-americano, estimado, robusto e dono de uma fortuna incalculável. Seus cabelos outrora escuros estavam ficando grisalhos, e o semblante conhecido refletia uma vida inteira de poder e um vigoroso intelecto.
- Preste o juramento – disse o Venerável Mestre, com uma voz suave feito a neve – Complete sua jornada.
A jornada do iniciado, assim como todas as daquele tipo, havia começado no grau 1. Naquela noite, em um ritual parecido com este de agora, o Venerável Mestre o vendara com uma faixa de veludo e pressionara uma adaga cerimonial contra seu peito nu, indagando:
- Você declara seriamente, pela sua honra, sem influência de motivações mercenárias ou quaisquer outras considerações indignas, candidatar-se de forma livre e espontânea aos mistério e privilégios desta irmandade?
- Sim – havia mentido o iniciado.
- Então que isso seja um estímulo à sua consciência – alertara o mestre - , bem como a morte instantânea caso algum dia você venha a trair os segredos que lhe serão revelados.
Na época, o iniciado não sentira medo. Eles jamais saberão meu verdadeiro motivo para estar aqui.
Nessa noite, porém, um atmosfera de ameaçadora solenidade pairava na Sala do Tempo, levando-o a rememorar todos os avisos severos recebidos durante a jornada, ameaças de punições terríveis caso ele algum dia revelasse os antigos segredos que estava prestes a conhecer: garganta cortada de orelha a orelha... língua arrancada pela raiz... entranhas removidas e queimadas... espalhadas aos quatro ventos... coração retirado do peito e jogado aos animais selvagens...
- Irmão – disse o mestre de olhos cinzentos, pousando a mão esquerda no ombro do iniciado. - Preste o juramento final.
Tomando coragem para dar o último passo de sua jornada, o iniciado endireitou o corpo e voltou sua atenção para o crânio que segurava nas mãos. À fraca luz das velas, o vinho cor de carmim parecia quase negro. Um silêncio sepulcral reinava na sala, e ele podia sentir os olhos das testemunhas cravados nele, à espera que prestasse o juramento final e se unisse àquele grupo de elite.
Hoje à noite, pensou ele, entre estas paredes, está acontecendo algo que nunca aconteceu antes na história desta irmandade. Nem sequer uma vez em séculos.
Ele sabia que aquilo seria a faísca... e que lhe daria um poder inimaginável.
Cheio de energia, respirou fundo e repetiu as mesmas palavras pronunciadas antes dele por incontáveis homens espalhados por todo o mundo.
- Que este vinho que agora bebo se transforme em veneno mortal para mim... caso algum dia eu descumpra meu juramento de forma consciente ou voluntária.
Suas palavras ecoaram no espaço oco. Então o silêncio foi total.
Firmando as mãos, o iniciado levou o crânio à boca e sentiu os lábios tocarem o osso seco. Fechou os olhos e o inclinou, bebendo o vinho em goles demorados, generosos. Depois de sorver tudo até a última gota, abaixou o crânio.
Por um instante, pensou sentir os pulmões se contraírem, e seu coração começou a bater descompassado. Meu Deus, eles sabem! Então, com a mesma rapidez que havia surgido, a sensação passou.
Um agradável calor começou a percorrer seu corpo. O iniciado soltou o ar, sorrindo consigo mesmo enquanto observava o homem de olhos cinzentos que não desconfiava de nada e que acabara de cometer o erro de deixá-lo entrar para o círculo mais secreto de sua irmandade.
Você logo perderá tudo o que lhe é mais precioso.
Dan Brown, O símbolo perdido
Casa do Templo
20h33
O segredo é saber como morrer.
Desde o início dos tempos, o segredo sempre foi saber como morrer.
O iniciado de 34 anos baixou os olhos para o crânio humano que segurava com as duas mãos. O crânio era oco feito uma tigela e estava cheio de vinho cor de sangue.
Beba, disse ele a si mesmo. Você não tem nada a temer.
Como rezava a tradição, ele havia começado aquela jornada vestido com os trajes ritualísticos de um herege medieval a caminho da forca, com a camisa frouxa deixando entrever o peito pálido, a perna esquerda da calça arregaçada até o joelho e a manga direita enrolada até o cotovelo. De seu pescoço pendia um pesado nó feito de corda – uma “atadura”, como diziam os irmãos. Nessa noite, porém, assim como os companheiros que assistiam à cerimônia, ele estava vestido de mestre.
O grupo que o rodeava estava todo paramentado com aventais de pele de cordeiro, faixas na cintura e luvas brancas. Em volta do pescoço usavam joias cerimoniais que cintilavam à luz mortiça como olhos espectrais. Muitos daqueles homens ocupavam cargos de poder lá fora, mas o iniciado sabia que suas posições mundanas nada significavam entre aquelas paredes. Ali todos eram iguais, irmãos unidos pelo juramento compartilhando um elo místico.
Correndo os olhos pelo impressionante grupo, o iniciado se perguntou quem, no mundo exterior, seria capaz de acreditar que todos aqueles homens pudessem se reunir em um mesmo lugar... principalmente naquele lugar. O recinto parecia um santuário sagrado do mundo antigo.
A verdade, porém, era ainda mais estranha.
Estou a poucos quarteirões da Casa Branca.
Aquele edifício colossal, situado no número1.733 da Rua 16 Noroeste, em Washington, D.C., era a réplica de um tempo pré-cristão – o Templo do Rei Mausolo, o primeiro mausoléu... Um lugar para onde se era levado após a morte. Diante da entrada principal, duas esfinges de 17 toneladas montavam guarda ao lado das portas de bronze. O interior era um labirinto de câmaras ritualísticas, corredores, alcovas secretas, bibliotecas e até mesmo um compartimento contendo os restos mortais de dois corpos humanos. O iniciado havia aprendido que cada cômodo daquele edifício guardava um segredo, mas sabia que nenhum deles ocultava mistérios mais profundos dos que a câmara colossal na qual se encontrava agora, ajoelhado, segurando um crânio nas mãos.
A Sala do Templo.
Sua forma era a de um quadrado perfeito. E o ambiente era sombrio e grandioso. O teto altíssimo se erguia a surpreendentes 30 metros sustentado por colunas monolíticas de granito verde. Ao redor da sala, fileiras de cadeiras russas de nogueira escura, estofadas com couro de porco trabalhado à mão, estavam dispostas em níveis. Um trono de 10 metros de altura dominava a parede oeste, e um órgão escondido ocupava o lado oposto. As paredes eram um caleidoscópio de símbolos antigos... egípcios, hebraicos, astronômicos, alquímicos e outros ainda desconhecidos.
Nessa noite, a Sala do Templo estava iluminada por uma série de velas minuciosamente posicionadas. Seu brilho fraco era complementado apenas por um facho de luar que entrava pela ampla claraboia do teto jogando luz sobre o elemento mais surpreendente da sala – um imenso altar feito de um bloco maciço de mármore belga preto polido, situado bem no meio do recinto quadrado.
O segredo é saber como morrer, lembrou o iniciado a si mesmo.
- Chegou a hora – sussurrou uma voz.
O iniciado deixou seu olhar subir até o rosto do distinto personagem vestido de branco à sua frente. O venerável Mestre Supremo. O homem, de quase 60 anos, era um ícone norte-americano, estimado, robusto e dono de uma fortuna incalculável. Seus cabelos outrora escuros estavam ficando grisalhos, e o semblante conhecido refletia uma vida inteira de poder e um vigoroso intelecto.
- Preste o juramento – disse o Venerável Mestre, com uma voz suave feito a neve – Complete sua jornada.
A jornada do iniciado, assim como todas as daquele tipo, havia começado no grau 1. Naquela noite, em um ritual parecido com este de agora, o Venerável Mestre o vendara com uma faixa de veludo e pressionara uma adaga cerimonial contra seu peito nu, indagando:
- Você declara seriamente, pela sua honra, sem influência de motivações mercenárias ou quaisquer outras considerações indignas, candidatar-se de forma livre e espontânea aos mistério e privilégios desta irmandade?
- Sim – havia mentido o iniciado.
- Então que isso seja um estímulo à sua consciência – alertara o mestre - , bem como a morte instantânea caso algum dia você venha a trair os segredos que lhe serão revelados.
Na época, o iniciado não sentira medo. Eles jamais saberão meu verdadeiro motivo para estar aqui.
Nessa noite, porém, um atmosfera de ameaçadora solenidade pairava na Sala do Tempo, levando-o a rememorar todos os avisos severos recebidos durante a jornada, ameaças de punições terríveis caso ele algum dia revelasse os antigos segredos que estava prestes a conhecer: garganta cortada de orelha a orelha... língua arrancada pela raiz... entranhas removidas e queimadas... espalhadas aos quatro ventos... coração retirado do peito e jogado aos animais selvagens...
- Irmão – disse o mestre de olhos cinzentos, pousando a mão esquerda no ombro do iniciado. - Preste o juramento final.
Tomando coragem para dar o último passo de sua jornada, o iniciado endireitou o corpo e voltou sua atenção para o crânio que segurava nas mãos. À fraca luz das velas, o vinho cor de carmim parecia quase negro. Um silêncio sepulcral reinava na sala, e ele podia sentir os olhos das testemunhas cravados nele, à espera que prestasse o juramento final e se unisse àquele grupo de elite.
Hoje à noite, pensou ele, entre estas paredes, está acontecendo algo que nunca aconteceu antes na história desta irmandade. Nem sequer uma vez em séculos.
Ele sabia que aquilo seria a faísca... e que lhe daria um poder inimaginável.
Cheio de energia, respirou fundo e repetiu as mesmas palavras pronunciadas antes dele por incontáveis homens espalhados por todo o mundo.
- Que este vinho que agora bebo se transforme em veneno mortal para mim... caso algum dia eu descumpra meu juramento de forma consciente ou voluntária.
Suas palavras ecoaram no espaço oco. Então o silêncio foi total.
Firmando as mãos, o iniciado levou o crânio à boca e sentiu os lábios tocarem o osso seco. Fechou os olhos e o inclinou, bebendo o vinho em goles demorados, generosos. Depois de sorver tudo até a última gota, abaixou o crânio.
Por um instante, pensou sentir os pulmões se contraírem, e seu coração começou a bater descompassado. Meu Deus, eles sabem! Então, com a mesma rapidez que havia surgido, a sensação passou.
Um agradável calor começou a percorrer seu corpo. O iniciado soltou o ar, sorrindo consigo mesmo enquanto observava o homem de olhos cinzentos que não desconfiava de nada e que acabara de cometer o erro de deixá-lo entrar para o círculo mais secreto de sua irmandade.
Você logo perderá tudo o que lhe é mais precioso.
Dan Brown, O símbolo perdido
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