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sexta-feira, 6 de maio de 2022


 
Contemplo como o igual dos próprios deuses

esse homem que sentado à tua frente

escuta assim de perto quando falas

com tal doçura,


e ris cheia de graça. Mal te vejo

o coração se agita no meu peito,

do fundo da garganta já não sai

a minha voz,


a língua como que se parte, corre

um tênue fogo sob a minha pele,

os olhos deixam de enxergar, os meus

ouvidos zumbem,


e banho-me de suor, e tremo toda,

e logo fico verde como as ervas,

e pouco falta para que eu não morra

ou enlouqueça.


Safo

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Para Anactória



A mais bela coisa deste mundo
para alguns são soldados a marchar,
para outros uma frota; para mim
é a minha bem-querida.

Fácil é dá-lo a compreender a todos:
Helena, a sem igual em formosura,
achou que o destruidor da honra de Tróia
era o melhor dos homens,

e assim não se deteve a cogitar
em sua filha nem nos pais queridos
:o Amor a seduziu e longe a fez
ceder o coração.

Dobrar mulher não custa, se ela pensa
por alto no que é próximo e querido.
Oh não me esqueças, Anactória, nem
aquela que partiu:

prefiro o doce ruído de seus passos
e o brilho de seu rosto a ver os carros
e os soldados da Lídia combatendo
cobertos de armadura.

Safo

domingo, 26 de agosto de 2012

Adeus



Sinceramente, a minha vontade é morrer.
Por entre abundantes lágrimas,

afastou-se de mim e disse-me:
"Que horrível sofrimento,
Safo! É verdadeiramente contrariada que te deixo.

"Eu respondi-lhe:"
Vai, não chores, e lembra-te de mim,
bem sabes como te amei.

Se não, quero ao menos
que lembres tudo o que
de belo e doce nós vivemos.

Tantas coroas compostas juntamente
de violetas, de rosas e açafrão
com que, a meu lado, te enfeitavas

e tantas grinaldas tecidas
de belas flores, entrelaçadas
à volta do teu colo tenro

e tantas ricas essências e o
régio perfume com que
tu impregnavas a minha cabeleira

e, deitada, num leito
macio, junto a mim,
o desejo aplacavas...

e nem casamento nem
disputa nem sequer correntes de água
podiam destruir os laços pelos quais estamos unidas.


Safo

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O ciúme






Parece-me igual aos deuses
o homem que, diante de ti e próximo,
escuta a tua doce voz e o teu
riso amorável. Isso faz-me

tumultuar o coração no peito. Na verdade,
basta-me ver-te para que
a voz me falte, a línguas
e me fenda e um repentino

fogo subtil alastre
sob a minha pele, os olhos
se me escureçam, os ouvidos
me zumbam, o suor

me inunde, um arrepio
me percorra toda. Fico
mais verde do que a erva. Sinto

que vou morrer.Mas tudo é suportável,
desde que humilde.

Safo

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Amada



Ventura, que iguala aos deuses,
Em meu conceito, desfruta
Quem, junto de ti sentada,
As doces falas te escuta,
Goza teu mago sorrir.

Quando imagino em tal gosto é
minha alma um labirinto;
Expira-me a voz nos lábios;
Nas veias um fogo sinto;
Sinto os ouvidos zunir.

Gelado suor me inunda;
O corpo se me arrepia;
Foge-me as cores do rosto,
Como ao vir da quadra fria
Entra a folha a desmaiar.

Respiro a custo, e já cuido
Que se esvai a doce vida!
Arrisquemo-nos a tudo...
Contra uma angústia insofrida
tudo se deve tentar.

Safo

quarta-feira, 6 de julho de 2011



Toca, minha amiga,
as cordas puras da tua lira.

Já a idade fez secar meu corpo,
embranquecendo-me os cabelos que eram pretos,
tornando-me os joelhos mais que frouxos.

...
E agora, ó companheira bem amada,
querem levar-te para longe do meu peito,
como fazem também às jovens corças.

Adoro, mais que tudo, a flor da juventude.
Meu coração apaixonou-se pelo sol,
meu coração apaixonou-se pela beleza.

Igual aos deuses me parece
quem a teu lado vai sentar-se,
quem saboreia a tua voz
mais as delícias desse riso.

quem me derrete o coração
e o faz bater sobre os meus lábios.
Assim que vejo esse teu rosto,
quebra-se logo a minha voz,

seca-me a língua entre os dentes,
corre-me um fogo sob a pele,
ficam-me surdos os ouvidos
e os olhos cegos de repente.

Torna-se líquido o meu corpo:
transpiro e tremo ao mesmo tempo.
Vejo-me verde: mais que a erva.
Só por acaso é que não morro.

Mergulha o teu corpo nesta água clara;
veste-lhe a brancura de açafrão e púrpura;
e o bordado brilho que há na tua túnica
aumente a beleza que me é tão cara...

A morte não é um bem.
Os próprios deuses o sabem.

Eles preferiram viver...

Safo

segunda-feira, 27 de junho de 2011



Para Mnesídice

Com as meigas mãos, ó Dice,
trança ramos de aneto,
e põe essa coroa
em teus cabelos:

fogem as Graças
de quem não tem grinalda,
mas felizes acolhem
quem se enfeita de flores.


Safo

terça-feira, 21 de junho de 2011

Aram Nersisyan

Como a doce maçã que rubra, muito rubra,
lá em cima, no alto do mais alto ramo
os colhedores esqueceram; não,
não esqueceram, não puderam atingir.

Safo

domingo, 15 de maio de 2011




Vem de Creta até este templo
sagrado, onde há um gracioso bosque de
macieiras e altares onde arde
o incenso.

Aqui, a água fresca canta através dos ramos
das macieiras, a sombra das roseiras
cobre todo o recinto e das trémulas folhas
escorre um sono pesado.

Aqui, o prado onde pastam os cavalos
já se cobriu de flores primaveris e as brisas
sopram docemente [...]
  [...]

Vem, Cípris, coroada de grinaldas,
e, graciosamente, nas douradas taça
so néctar ligado aos festins
derrama

Safo

sábado, 14 de maio de 2011

Julio Argüelles

À Átis

Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:

"Mas, ah, que triste a nossa sina!
Eu vou contra a vontade, juro,
Safo:"  "Seja feliz", eu disse,

"E lembre-se de quanto a quero.
Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.

Quantas grinaldas, no seu colo,
— Rosas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multiflores

Colares atei para o tenro
Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros

Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" [...]

Cai a lua, caem as plêiades e
É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.

— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não.

Safo

sexta-feira, 22 de abril de 2011


Contemplo como o igual dos próprios deuses
esse homem que sentado à tua frente
escuta assim de perto quando falas
com tal doçura,
e ris cheia de graça. Mal te vejo
o coração se agita no meu peito,
do fundo da garganta já não sai
a minha voz,
a língua como que se parte, corre
um tênue fogo sob a minha pele,
os olhos deixam de enxergar, os meus
ouvidos zumbem,
e banho-me de suor, e tremo toda,
e logo fico verde como as ervas,
e pouco falta para que eu não morra
ou enlouqueça.

***

Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)

***

O amor, esse ser invencível, doce e sublime
que desata os membros, de novo me socorre.
Ele agita meu espírito como a avalanche
sacode monte abaixo as encostas. Lutar
contra o amor é impossível, pois como uma
criança faz ao ver sua mãe, vôo para ele.
Minha alma está dividida: algo a detém aqui,
mas algo diz a ela para no amor viver...


Safo

domingo, 29 de agosto de 2010

As Rosas de Piéria



E morta jazerás: de ti
não restará lembrança, em tempo algum,
nem mesmo compaixão jamais despertarás
:nas rosas de Piéria não tiveste parte.

Desconhecida até na casa de Hades,
errante esvoaçarás em meio a obscuros mortos.


Safo