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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Saudação Segunda



Fostes louvados, meus livros,
porque eu acabara de chegar do interior;
Eu estava atrasado vinte anos
e por isso encontrastes um público preparado.
Não vos renego,
Não renegueis vossa progênie.

Aqui estão eles sem rebuscados artifícios,
Aqui estão eles sem nada de arcaico.
Observai a irritação geral:

"Então é isto", dizem eles, "o contra-senso 
que esperamos dos poetas?"
"Onde está o Pitoresco?"
"Onde a vertigem da emoção?"
"Não! O primeiro livro dele era melhor."
"Pobre Coitado! perdeu as ilusões."

Ide, pequenas canções nuas e impudentes,
Ide com um pé ligeiro!
(Ou com dois pés ligeiros, se quiserdes!)
Ide e dançai despudoradamente!
Ide com travessuras impertinentes!

Cumprimentai os graves, os indigestos,
Saudai-os pondo a língua para fora.
Aqui estão vossos guisos, vossos confetti.
Ide ! rejuvenescei as coisas!
Rejuvenescei até The Spectator.
Ide com vaias e assobios!

Dançai a dança do phallus
contai anedotas de Cibele!
Falai da conduta indecorosa dos Deuses!

Levantai as saias das pudicas,
falai de seus joelhos e tornozelos.
Mas sobretudo, ide às pessoas práticas -
Dizei-lhes que não trabalhais
e que viverei eternamente.


Ezra Pound
trad. Mário Faustino

sexta-feira, 29 de abril de 2011

E ASSIM EM NÍNIVE

 Bouguereau, William-Adolphe. Douleur D'amour. Detail. 1899


“Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho.”

Ezra Pound


segunda-feira, 14 de março de 2011

Envoi

Late-afternoon-Ou Chujian

Vai, livro natimudo,
E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.

Ezra Pound

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Sobrado

steve hanks

Vem, apiedemo-nos daqueles que estão melhor que nós.
Vem, amiga minha, e recorda
que os ricos têm mordomos e não amigos,
E nós temos amigos e não mordomos.

Vem, apiedemo-nos de casados e solteiros.
A aurora entra com seus pezinhos
como uma dourada Pavlova
E estou próximo ao meu desejo.

Não há coisa melhor no mundo
Que essa hora de claro frescor
a hora de despertarmos juntos.

Ezra Pound

sábado, 3 de julho de 2010


Brent-Heighton

Venham, minhas canções, vamos expressar nossas paixões mais básicas.
Vamos expressar nossa inveja do homem com um trabalho regular e nenhuma preocupação com o futuro.
Vocês são muito vãs, minhas canções.
Receio que terão um péssimo fim.
Vocês vagabundeiam pelas ruas, vocês demoram-se nas esquinas e paradas de ônibus,
Vocês não fazem quase nada.

Vocês sequer expressam nossas grandezas mais íntimas,
Vocês terão um péssimo fim.

E eu? Eu acabei um pouco alucinado.
Eu falei tanto com vocês, que as vejo quase à minha volta,
Insolentes animaizinhos! Libertinas! Desnudadas!

Mas vocês, canções mais recentes do lote,
Vocês não são velhas o suficiente para terem causado muita injúria.
Eu trarei para vocês um casaco verde da China
Com dragões nele bordados.
Eu trarei para vocês as calças de seda escarlate
Da imagem do menino Jesus em Santa Maria Novella;
Para que não digam que nos falta o gosto,
Ou que não há ninguém casto nessa família

Ezra Pound
[Tradução Lauro J.M. Marques]

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sou um poeta


Sim Sou um Poeta
e sobre meu túmulo
Donzelas hão-de espalhar pétalas de rosa
Antes que a noite degole o dia com sua espada azul

Vê não me cabe a mim, nem a ti objetar
Pois o costume é antigo aqui em Nínive
E mais de um já vi passar e ir habitar
O horto profundo onde ninguém perturba seu sono ou canto
E mais de um agora sobrepassa com seu láureo de flores
minha beleza combalida pelas ondas

Mas eu sou um poeta
sobre meu túmulo
Todos os homens hão-de lançar pétalas de rosa
Antes que a noite mate o dia com sua espada escura

Não é Raana, que eu seja mais alto
Ou mais belo que os outros
É que sou um poeta e bebo vida
assim como os homens menores bebem vinho

Ezra Pound

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

THE ENCOUNTER


All the while they were talking the new morality
Her eyes explored me.
And when I arose to go
Her fingers were like the tissue
Of a Japanese paper napkin


Ezra Pound


O ENCONTRO

Enquanto conversavam sobre o novo moralismo
Os olhos dela me exploravam.
E quando levantei para partir
Seus dedos eram como a textura
De um guardanapo de papel japonês

Tradução: Virna Teixeira