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domingo, 17 de dezembro de 2023

Cálice

A vida não tem roteiros,

só velas que nos acenam

do mar.


 

Escuta, amiga,

o desfiar das horas:

elas te dirão é tua

é tua a vida.

 

Toma-a (como se toma

um cálice de rosas)

         na mão.


Antonio Brasileiro

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Cem anos


 

Vejo mãos que me folheiam

buscando-me a fisionomia —

         mas já passei, agora

         sou apenas poesia.

 

Vejo rostos que me amam

tentando saber quem fui —

         sou um retrato, miragem

         que o tempo dilui.

 

Vejo braços que me acenam

chamando-me insistentemente —

         para que, se a folha que passa

         passa tão de repente?


Antonio Brasileiro

domingo, 13 de agosto de 2017

Karin Broos

Um dia o mundo inteiro vai ser memória
Tudo será memória
As pessoas que vemos transitar naquela rua,
as gentis ou as sábias, ou as más, todas,

todas.

E o mendigo que passa sem o cão,
o ginasta, a mãe, o lobo, o ético, a turista.
Deus, inclusive, regendo o fim das coisas
memoráveis, também será memória. Deus
e os pardais
E os grandes esqueletos de Museu Britânico.
Todo sofrimento será memória. Eu, sentando aqui,
serei só estes versos que dizem haver um eu

sentado aqui


Antonio Brasileiro

sábado, 31 de agosto de 2013

Cálice



A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.

Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.

Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
na mão.


Antonio Brasileiro

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cem anos

johnny palacios hidalgo



Vejo mãos que me folheiam
buscando-me a fisionomia —
         mas já passei, agora
         sou apenas poesia.

Vejo rostos que me amam
tentando saber quem fui —
         sou um retrato, miragem
         que o tempo dilui.

Vejo braços que me acenam
chamando-me insistentemente —
         para que, se a folha que passa
         passa tão de repente?


Antonio Brasileiro

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cálice

fabrizio r.


A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.

Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.

Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
         na mão.


Antonio Brasileiro

terça-feira, 25 de junho de 2013

O sim e outros achaques

Corey Ford


A vida inteira anulada
por falta de outros desígnios,

eis que voltamos ao parque
onde os homens se congregam:

ninguém jamais sabe ao certo
onde o sim das grandes aves,

singramos por mares mansos
que julgáramos esquecidos —

mas eis que a vida se perde
por falta de outros desígnios.

Ou não se perde: é só isto.


Antonio Brasileiro

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Soneto do amor profano



Não me consinta o amor tanta alegria,
pois, por não merecê-la, me constrange
o peito (já uma dor, não longe, me
sussurra que este amor sem agonias
não há de consentir em tanta graça),
eis que, perdidamente, já pressinto
— e quanto, e quanto — que em amor, perdidos
todos os lances, não há como obtê-lo
de outro modo que não por sacrifícios /
e eis que este, pois, gratuita dádiva,
me chega às mãos de um modo tão profano,
que quase certo estou de que, se o tenho,
já não o tenho por justo e dadivoso
mas por amor que é fruto só de engano.

E não me engana um amor quando enganoso.


Antonio Brasileiro

domingo, 16 de junho de 2013

Nuança

Kemal Kamil AKCA 


Meus caminhos, meus mapas,
meus caminhos.

Tudo está em ordem
em minha vida.

Como se faltasse
alguma coisa.


Antonio Brasileiro

domingo, 9 de junho de 2013

Anotações do imemoriado



A consciência, fiapo de quê,
no mar da alma?

(E o ter que contar os meus segredos,
que eu mesmo guardei
e esqueci.)


Antonio Brasileiro

domingo, 13 de janeiro de 2013

A valsa sem memória

Saharoza



1.

A perfeição reside nos tumultos, nos
escombros, nas sinopses
de um homem — 
                  perdoai,
amigos, estas diatribes:
a voz não diz o que desejo, é escasso
o raciocínio, não há livros
com os ensinamentos e os conselhos —
   perdoai,
amigos, meu linguajar de símbolos
tão velados

2.

            :bailarinos inábeis
executando seus primeiros passos
num palco gigantesco (sem
   bordas)
   sem aplausos —
sós nós e uma valsa
sem memória
a ecoar (a ecoar a ecoar) por toda parte

e não há tempo para temer
e não há tempo para chorar:
   a        Valsa
não tem perdões, obriga-nos a valseá-la
   a        Valsa
não sabe nomes, envolve-nos nos braços
   a        Valsa
ela mesma não se chama Valsa —
perdoai, amigos, falar-vos nesta linguagem
há algo em mim que quer brotar com força:
            talvez um simples poema
            talvez (perdoai) apenas
esta vontade, imensa, de falar.

                                  
Antonio Brasileiro

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Contemplação da nuvem

M Karez



A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem 
                               passando.

E uma nuvem passando
ensina-nos mais coisas que cem pássaros
mil livros            um milhão de homens.

A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem. 
                               Passando.


                                    
Antonio Brasileiro

domingo, 23 de dezembro de 2012




Furtava as cores de todas as paisagens
que colhia.
Um dia morreu
e um arco-íris bebia
seus olhos.


Antonio Brasileiro

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Coisas guardadas




Florzinha branca,
quando eu me libertar de tudo isso...


Antonio Brasileiro 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Estudo 165

Friedrich Von Amerling

  
Compor um homem
com suas tramas, seus dramas,
teogonias, gramáticas, soluços;
compor um homem,
do orvalho matinal compor um homem,
do céu cheio de estrelas, do mistério
do homem
compor o homem; compor um homem
da criança que há no homem, do homem
a adivinhar-se em antiqüíssimas retinas;
compor um homem
com seus soluços, gramáticas, teogonias
– e recitá-lo perante os outros homens.


Antonio Brasileiro

domingo, 4 de abril de 2010

arte: Igor zenin


Um dia o mundo inteiro vai ser memória
Tudo será memória
As pessoas que vemos transitar naquela rua,
as gentis ou as sábias, ou as más, todas,

todas.

E o mendigo que passa sem o cão,
o ginasta, a mãe, o lobo, o ético, a turista.
Deus, inclusive, regendo o fim das coisas
memoráveis, também será memória. Deus
e os pardais
E os grandes esqueletos de Museu Britânico.
Todo sofrimento será memória. Eu, sentando aqui,
serei só estes versos que dizem haver um eu

sentado aqui

Antonio Brasileiro