Mostrando postagens com marcador Alfonsina Storni. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alfonsina Storni. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de dezembro de 2022

O engano



Sou tua, Deus o sabe porquê, já que compreendo 

Que haverás de abandonar-me, friamente, amanhã, 

E que embaixo dos meus olhos, te encanto 

Outro encanto o desejo, porém não me defendo. 


Espero que isto um dia qualquer se conclua, 

Pois intuo, ao instante, o que pensas ou queiras 

Com voz indiferente te falo de outras mulheres 

E até ensaio o elogio de alguma que foi tua. 


Porém tu sabes menos do que eu, e algo orgulhoso 

De que te pertence, em teu jogo enganoso 

Persistes, com ar de ator do papel dono. 


Eu te olho calada com meu doce sorriso, 

Não és tu o que me engana, quem me 

engana é meu sonho.

 

Alfonsina Storni

sábado, 24 de setembro de 2022

Dor

 



Quisera esta tarde divina de outubro 

passear pela beira longínqua do mar; 

Que a areia de ouro, e as águas verdes, 

e os céus puros me vissem passar. 


Ser alta, soberba, perfeita, quisera, 

como uma romana, para concordar 

com as grandes ondas, e as rocas mortas 

e as largas praias que apertem o mar. 


Com o passo lento, e os olhos frios 

e a boca muda, deixar-me levar; 

ver como se rompem as ondas azuis, 

contra os granitos e não pestanejar; 

ver como as aves de rapina se comem 

os peixes pequenos e não despertar; 


pensar que puderam as frágeis barcas 

Afundar-se nas águas e não suspirar; 

Ver que se adianta a garganta ao ar, 

O homem mais belo não desejar amar… 


Perder o olhar, distraidamente, 

perde-lo e que nunca o volte a encontrar: 

E figura erguida entre céu e praia 

sentir-me o esquecimento perene do mar. 


Afonsina Storni

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Inútil sou





Por seguir das coisas o compasso, 

às vezes, quis neste século ativo, 

pensar, lutar, viver com o que vivo, 

ser no mundo algum parafuso a mais. 


Mas, atada ao sonho sedutor, 

do meu instinto voltei ao escuro poço, 

pois, como algum inseto preguiçoso 

e voraz, eu nasci para o amor. 


Inútil sou, pesada, torpe, lenta, 

meu corpo, ao sol estendido, se alimenta 

e só vivo bem no verão, 


quando a selva cheira e a enroscada 

serpente dorme em terra calcinada; 

a fruta se abaixa até minha mão. 


Alfonsina Storni

sábado, 28 de maio de 2022

Inútil sou

 

Kari-Lise Alexander 


Por seguir das coisas o compasso, 

às vezes, quis neste século ativo, 

pensar, lutar, viver com o que vivo, 

ser no mundo algum parafuso a mais. 


Mas, atada ao sonho sedutor, 

do meu instinto voltei ao escuro poço, 

pois, como algum inseto preguiçoso 

e voraz, eu nasci para o amor. 


Inútil sou, pesada, torpe, lenta, 

meu corpo, ao sol estendido, se alimenta 

e só vivo bem no verão, 


quando a selva cheira e a enroscada 

serpente dorme em terra calcinada; 

a fruta se abaixa até minha mão. 


© ALFONSINA STORNI 

 

kathrin-longhurst


Vela sobre minha vida, meu grande amor imenso. 

Quando cheguei à vida trazia em suspense, 

na alma e na carne, a loucura inimiga, 

o capricho elegante e o desejo que açoita. 


Encantavam-me as viagens pelas almas humanas, 

a luz, os estrangeiros, as abelhas leves, 

o ócio, as palavras que iniciam o idílio, 

os corpos harmoniosos, os versos de Virgílio. 



Quando sobre teu peito minha alma foi tranquilizada, 

e a doce criatura, tua e minha, desejada, 

eu pus entre tuas mãos toda minha fantasia 


e te disse humilhada por estes pensamentos: 

-Vigiai-me os olhos! Quando mudam os ventos 

a alma feminina se transtorna e varia… 


© ALFONSINA STORNI 

quarta-feira, 20 de abril de 2022

AO PÉ DO OUVIDO





Beija-me se queres beijar-me 

- eu comparto teus desejos - 

não na boca p′ra calar-me: 

nos olhos quero teus beijos! 


Não me fales dos feitiços 

no colo: são beijos belos, 

mas ciumentos estão meus riços. 

Acaricia-me os cabelos! 


Para teu mimo oportuno 

se teus olhos são palavras, 

Me darão, uno mais uno, 

os pensamentos que lavras. 


Tua mão entre as minhas 

tremerão como um canário 

e ouviremos as modinhas 

de algum amor milenário. 


Esta noite é noite morta 

sob o teto sideral. 

Está tão calada a horta 

como num sono letal. 


Tem um matiz de alabastro 

e um mistério de Pandora. 

Olha a luz daquele astro! 

Tenho-a na alma, agora. 


Silêncio... silêncio... Cala! 

até a água corre mansa 

sobre o leito cor de opala: 

chega à areia, e lá descansa. 


Oh, que perfume tão fino! 

Na boca estão os desejos! 

Nesta noite de platino 

Nos olhos quero teus beijos... 

 

ALFONSINA STORNI 

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A inquietude da roseira




A roseira em seu inquieto modo de florescer 
Vai queimando a seiva que alimenta seu ser. 
Prestai atenção nas rosas que caem no rosal: 
Tantas caem que a planta morrerá deste mal! 
Não é adulta a roseira e sua vida impaciente 
Se consome ao dar flores precipitadamente.


 Alfonsina Storni

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A inquietude da Roseira

arkady ostritsky 

A roseira em seu inquieto modo de florescer 
Vai queimando a seiva que alimenta seu ser. 
Prestai atenção nas rosas que caem no rosal: 
Tantas caem que a planta morrerá deste mal! 
Não é adulta a roseira e sua vida impaciente 
Se consome ao dar flores precipitadamente. 


Alfonsina Storni
Tradução de Cristiane Carvalho e Manolo Graña 


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Luz

Gun Legler.

Andei na vida pergunta fazendo
Morrendo de tédio, de tédio morrendo.

Riram os homens de meu desvario…
É grande a terra! Se riem… eu rio…

Escutei palavras; demasiadas palavras!
Umas são alegres, outras são macabras.

Não pude entendê-las; pedi as estrelas
Linguagem mais clara, palavras mais belas.

As doces estrelas me deram tua vida
E encontrei em teus olhos a verdade perdida

Oh! teus olhos cheios de verdades tantas,
Teus olhos escuros onde o universo meço!

Segura de tudo me jogo a teus pés:
Descanso e esqueço.

Alfonsina Storni
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Inútil sou

Kiera Malone

Por seguir das coisas o compasso,
às vezes, quis neste século ativo,
pensar, lutar, viver com o que vivo,
ser no mundo algum parafuso a mais.

Mas, atada ao sonho sedutor,
do meu instinto voltei ao escuro poço,
pois, como algum inseto preguiçoso
e voraz, eu nasci para o amor.

Inútil sou, pesada, torpe, lenta,
meu corpo, ao sol estendido, se alimenta
e só vivo bem no verão,

quando a selva cheira e a enroscada
serpente dorme em terra calcinada;
a fruta se abaixa até minha mão. 


Alfonsina Storni
Tradução de Héctor Zanetti

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O engano

© Abbas Arabzadeh

Sou tua, Deus o sabe por quê, já que compreendo
Que haverás de abandonar-me, friamente, amanhã,
E que embaixo dos meus olhos, te encanto
Outro encanto o desejo, porém não me defendo.

Espero que isto um dia qualquer se conclua,
Pois intuo, ao instante, o que pensas ou queiras
Com voz indiferente te falo de outras mulheres
E até ensaio o elogio de alguma que foi tua.

Porém tu sabes menos do que eu, e algo orgulhoso
De que te pertence, em teu jogo enganoso
Persistes, com ar de ator do papel dono.

Eu te olho calada com meu doce sorriso,
Não és tu o que me engana, quem me
engana é meu sonho.


Alfonsina Storni
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Quando cheguei à vida

Gun Legler


Vela sobre minha vida, meu grande amor imenso.
Quando cheguei à vida trazia em suspense,
na alma e na carne, a loucura inimiga,
o capricho elegante e o desejo que açoita.

Encantavam-me as viagens pelas almas humanas,
a luz, os estrangeiros, as abelhas leves,
o ócio, as palavras que iniciam o idílio,
os corpos harmoniosos, os versos de Virgílio.

Quando sobre teu peito minha alma foi tranqüilizada,
e a doce criatura, tua e minha, desejada,
eu pus entre tuas mãos toda minha fantasia

e te disse humilhada por estes pensamentos:
-Vigiai-me os olhos! Quando mudam os ventos
a alma feminina se transtorna e varia…


Alfonsina Storni
Tradução de Héctor Zanetti

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sou essa flor

Zindy-Zone


Tua vida é um grande rio, vai caudalosamente, 
a sua beira, invisível, eu broto docemente. 
Sou essa flor perdida entre juncos e achiras 
que piedoso alimentas, mas acaso nem olhas. 

Quando cresces me levas e morro em teu seio, 
quando secas morro pouco a pouco no lodo; 
Mas de novo volto a brotar docemente 
quando nos dias belos vais caudalosamente. 

Sou essa flor perdida que brota nas tuas margens 
humilde e silenciosa todas as primaveras. 


Alfonsina Storni

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sou

Foto di Alessandra Barsotti


Sou suave e triste se idolatro, posso 
abaixar o céu até minha mão quando 
a alma do outro à alma minha enredo. 
Pena alguma não acharás mais branda. 

Nenhuma como eu as mãos beija, 
nem se acomoda tanto em um sonho, 
nem convém outro corpo, assim pequeno, 
uma alma humana de maior ternura. 

Morro sobre os olhos, se os sinto 
como pássaros vivos, um momento 
voar baixo meus dedos brancos. 

Sei a frase que encanta e que compreende, 
sei calar quando a lua ascende 
enorme e vermelha sobre os barrancos. 


Alfonsina Storni


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Al oído / Ao pé do ouvido

egor jelov - photography 


Si quieres besarme... besa,
- yo comparto tus antojos –
Mas no hagas mi boca presa,
¡Bésame quedo en los ojos!

No me hables de los hechizos
De tus bejos en el cuello...
Están celosos mis rizos.
¡Acaríciame el cabello!

Para tu mimo oportuno,
Si tus ojos son palabras,
Me darán, uno por uno,
Los pensamientos que labras.

Pon tu mano entre las mías,
Temblarán como un canario
Y oiremos las sinfonías
De algún amor milenário.

Ésta es una noche muerta
Bajo la techumbre astral.
Está callada la huerta
Como en un sueño letal.

Tiene un matiz de alabastro
Y un misterio de pagoda.
¡Mira la luz de aquel astro!
¡La tengo en el alma toda!

Silencio... Silencio... ¡Calla!
Hasta el agua corre apena,
Bajo su verde pantalla
Se aquieta cabe la arena.

¡Oh! ¡qué perfume tan fino!
¡No beses mis labios rojos!
En la noche de platino
Bésame quedo en los ojos...


Alfonsina Storni

***

Ao pé do ouvido

Beija-me se queres beijar-me
-eu comparto teus desejos-
não na boca p'ra calar-me:
nos olhos quero teus beijos!

Não me fales dos feitiços
no colo: são beijos belos,
mas ciumentos estão meus riços.
Acaricia-me os cabelos!

Para teu mimo oportuno
se teus olhos são palavras,
Me darão, uno mais uno,
os pensamentos que lavras.

Tua mão entre as minhas
tremerão como um canário
e ouviremos as modinhas
de algum amor milenário.

Esta noite é noite morta
sob o teto sideral.
Está tão calada a horta
como num sono letal.

Tem um matiz de alabastro
e um mistério de Pandora.
Olha a luz daquele astro!
Tenho-a na alma, agora.

Silêncio... silêncio... Cala!
até a água corre mansa
sobre o leito cor de opala:
chega à areia, e lá descansa.

Oh, que perfume tão fino!
Na boca estão os desejos!
Nesta noite de platino
Nos olhos quero teus beijos... 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Dos palabras




Esta noche al oído me has dicho dos palabras
comunes. Dos palabras cansadas
de ser dichas. Palabras
que de viejas son nuevas.

Dos palabras tan dulces que la luna que andaba
filtrando entre las ramas
se detuvo en mi boca. Tan dulces dos palabras
que una hormiga pasea por mi cuello y no intento
moverme para echarla.

Tan dulces dos palabras
?Que digo sin quererlo? ¡oh, qué bella, la vida!?
Tan dulces y tan mansas
que aceites olorosos sobre el cuerpo derraman.
Tan dulces y tan bellas
que nerviosos, mis dedos,
se mueven hacia el cielo imitando tijeras.
Oh, mis dedos quisieran
cortar estrellas.


Alfonsina Storni

domingo, 1 de maio de 2011

Bem pode ser...

dimitar voinov junior

Bem pode ser que tudo o que em meu verso hei sentido
Não seja mais que aquilo que nunca pôde ser,
Não seja mais do que algo vedado e reprimido
De família em família, de mulher em mulher.

Dizem que nos solares dos meus, sempre medido
Estava tudo aquilo que se tinha a fazer...
Silenciosas dizem que as mulheres hão sido
Em meu materno lar. Ah, sim, bem pode ser...

Às vezes minha mãe terá sentido o anseio
De liberar-se, e logo viu subir-lhe do seio
Uma funda amargura, e na sombra chorou.

E tudo de mordaz, vencido, mutilado,
Tudo o que se encontrava em sua alma guardado,
Creio que sem querer fui eu quem libertou.

(Tradução de José Jeronymo Rivera)


Bien Pudiera Ser...

Pudiera ser que todo lo que en verso he sentido
No fuera más que aquello que nunca pudo ser,
No fuera más que algo vedado y reprimido
De familia en familia, de mujer en mujer.

Dicen que en los solares de mi gente, medido
Estaba todo aquello que se debía hacer...
Dicen que silenciosas las mujeres han sido
De mi casa materna... Ah, bien pudiera ser...

A veces en mi madre apuntaron antojos
De liberarse, pero se le subió a los ojos
Una honda amargura, y en la sombra lloró.

Y todo eso mordiente, vencido, mutilado,
Todo eso que se hallaba en sua alma encerrado,
Pienso que sin quererlo lo he libertado yo.


Alfonsina Storni

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Voy a dormir

by  Schöllerhammer

Dientes de flores, cofia de rocio,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos encardados.

Voy a dormir, nodríza mía, acuéstame.
Ponme una lámpara a la cabecera;
una constelacíón; la que te guste;
todas son buenas; bájala un poquito.
Dejame sola: oyes romper los brotes...
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases
para que olvides... Gracias.

Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido...


Alfonsina Storni

Diante do mar


Oh, mar, enorme mar, coração feroz
de ritmo desigual, coração mau,
eu sou mais tenra que esse pobre pau
que, prisioneiro, apodrece nas tuas vagas.

Oh, mar, dá-me a tua cólera tremenda,
eu passei a vida a perdoar,
porque entendia, mar, eu me fui dando:
"Piedade, piedade para o que mais ofenda".

Vulgaridade, vulgaridade que me acossa.
Ah, compraram-me a cidade e o homem.
Faz-me ter a tua cólera sem nome:
já me cansa esta missão de rosa.

Vês o vulgar? Esse vulgar faz-me pena,
falta-me o ar e onde falta fico.
Quem me dera não compreender, mas não posso:
é a vulgaridade que me envenena.

Empobreci porque entender aflige,
empobreci porque entender sufoca,
abençoada seja a força da rocha!
Eu tenho o coração como a espuma.

Mar, eu sonhava ser como tu és,
além nas tardes em que a minha vida
sob as horas cálidas se abria...
Ah, eu sonhava ser como tu és.

Olha para mim, aqui, pequena, miserável,
com toda a dor que me vence, com o sonho todos;
mar, dá-me, dá-me o inefável empenho
de tornar-me soberba, inacessível.

Dá-me o teu sal, o teu iodo, a tua ferocidade,
Ar do mar!... Oh, tempestade! Oh, enfado!
Pobre de mim, sou um recife
E morro, mar, sucumbo na minha pobreza.

E a minha alma é como o mar, é isso,
ah, a cidade apodrece-a engana-a;
pequena vida que dor provoca,
quem me dera libertar-me do seu peso!

Que voe o meu empenho, que voe a minha esperança...
A minha vida deve ter sido horrível,
deve ter sido uma artéria incontível
e é apenas cicatriz que sempre dói.


Alfonsina Storni
Tradução de José Agostinho Baptista

domingo, 22 de fevereiro de 2009

A carícia perdida



La caricia perdida

Se me va de los dedos la caricia sin causa,
se me va de los dedos… En el viento, al pasar,
la caricia que vaga sin destino ni objeto,
la caricia perdida ¿quién la recogerá?

Pude amar esta noche con piedad infinita,
pude amar al primero que acertara a llegar.
Nadie llega. Están solos los floridos senderos.
La caricia perdida, rodará… rodará…

Si en los ojos te besan esta noche, viajero,
si estremece las ramas un dulce suspirar,
si te oprime los dedos una mano pequeña
que te toma y te deja, que te logra y se va.

Si no ves esa mano, ni esa boca que besa,
si es el aire quien teje la ilusión de besar,
oh, viajero, que tienes como el cielo los ojos,
en el viento fundida, ¿me reconocerás?

****

A carícia perdida

Sai-me dos dedos a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos...
No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?
Posso amar esta noite com piedade infinita,
Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.
A carícia perdida, andará... andará...
Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,
Se estremece os ramos um doce suspirar,
Se te aperta os dedos uma mão pequena
Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.
Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,
Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,
Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,
No vento fundida, me reconhecerás?


Alfonsina Storni