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sexta-feira, 23 de setembro de 2022



Cheio da tua ausência me angustio

a cada hora que passa... a cada instante...

- pelo meu pensamento, como um fio,

és uma gota d'água, tremulante...


Uma gota suspensa e cintilante,

límpida e imóvel como um desafio...

Tua ausência, - é a presença triunfante

daquela gota que ficou no fio. . .


As outras todas, céleres, pingaram,

e caíram na terra onde secaram,

só tu ficaste, última gota, assim


como uma estrela sem ter firmamento,

suspensa ao fio do meu pensamento

e a brilhar, sem cair... dentro de mim...


 J. G. de Araújo Jorge

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014



Do amor tu não dirás: provo, mas não me embriago,
que não basta provar para sentir o amor.
É preciso sorvê-lo até o último trago
se a embriaguez é que dá seu profundo sabor.

Teu amor deve ter profundidade e cor
não deve ser um sonho doentio e vago,
se assim for, então sim, podes te dar por pago
que este é o preço da vida e todo o seu valor.

Transborda a tua taça, ergue-a nas mãos, e brinda
o momento feliz que viveste e não finda,
que só o amor que embriaga e que nos leva a extremos

pode glorificar os sentidos e a vida,
e vencendo a razão que nos tolhe e intimida,
nos faz reaver, de pronto, as horas que perdemos!


J.G de Araújo Jorge

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Estado de alma

Julia Davila lampe Photography


Se eu fosse pintor,
pintaria este dia de chuva...

Depois
me mudaria
para o meu quadro...


J.G. de Araújo Jorge

sábado, 2 de novembro de 2013

Teus seios

Arthur Braginski


Teus seios... quando os sinto, quando os beijo
na ânsia febril de amante incontentado,
são pólos recebendo o meu desejo,
nos momentos sublimes de pecado...

E às manhãs... quando acaso, entre lençóis
das roupagens do leito, saltam nus,
lembram, não sei, dois lindos girassóis
fugindo à sombra e procurando a luz!...

Florações róseas de uma carne em flor
que se ostenta a tremer em dois botões
na primavera ardente de um amor
que vive para as nossas sensações...

Túmidos... cheios... palpitantes, como
dois bagos do teu corpo de sereia,
tem um rubro botão em cada pomo
como duas cerejas sobre a areia...

Quando os tenho nas mãos... Quantas delícias!...
Arrepiam-se, trêmulos , sensuais,
e ao contato nervoso das carícias
tocam-me o peito como dois punhais!...

Meu lúbrico prazer sempre consolo
na carne destas ondas revoltadas,
que são como taças emborcadas
no moreno inebriante do teu colo...


 J. G. de Araujo Jorge, Poemas do Amor Ardente

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Prelúdio da Gota d'água




Cheio da tua ausência me angustio
a cada hora que passa... a cada instante...
- pelo meu pensamento, como um fio,
és uma gota d'água, tremulante...

Uma gota suspensa e cintilante,
límpida e imóvel como um desafio...
Tua ausência, - é a presença triunfante
daquela gota que ficou no fio. . .

As outras todas, céleres, pingaram,
e caíram na terra onde secaram,
só tu ficaste, última gota, assim

como uma estrela sem ter firmamento,
suspensa ao fio do meu pensamento
e a brilhar, sem cair... dentro de mim...


J. G. de Araújo Jorge

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Numa tarde como essa




Ouço a chuva cair, e ninguém pode
saber, quanto a minha alma está sozinha...

Lembro-me bem: chovia assim, chovia.
- Numa tarde como esta ela foi minha.

E enquanto não chegava, eu me dizia:

- "Vai molhar-se todinha, o meu amor...
Tão frágil, que receio ao vento e à chuva,
antes dos beijos meus, se desintegre...
Onde estará neste momento ainda?
E enquanto não chegar, nada há de ver..."

E lá fora aumentando a chuva, e a chuva
me olhando, indiferente ao meu sofrer...

(Na penumbra do quarto, as coisas todas
eram sombras vazias, esperando.)

De repente: seus passos. Sim! seus passos...
Adivinho-lhe os olhos: não mentira.
E quando a porta se fechou, pensei
por um momento ainda, que não era,
- que eu é que louco imaginara tudo.

Encostou-se ao meu peito, e o coração
vaga escondida, contra o meu batia.

Beijei-lhe a boca... e então bebi-lhe as gotas
no pescoço, no rosto, nos cabelos...

-"Criancice, meu amor!... - molhada e fria esta roupa
há de até lhe fazer mal..."

Tão débil era o amor a aconchegar-se:
quase uma criança entre medrosa e alegre,...

Ah, a chuva que a molhou! ... E eu fui cuidá-la...
e em pouco, éramos dois, ardendo em febre. .

Numa tarde como esta ela foi minha,
molhada e trêmula a colhi nos braços.

Hoje, chove... A minha alma está sozinha...
E nunca mais hei de escutar seus passos...


J.G. de Araújo Jorge

sábado, 1 de junho de 2013

Um Tema... e Duas Variações

Alberto Pancorbo


Tu te aninhaste com a tua beleza
em meus braços,
como uma criança indefesa,
e te deixaste ficar...

E eu te recolhi, como um ramo
recolhe o pássaro no ar...

E fizeste ninho em meus braços.
Chegaste, como alguém
que precisa de outro alguém
para se amparar...

E eu fiquei sem saber, por momentos,
se devia te amar
ou te embalar...


J.G. de Araújo Jorge

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Eu serei esse mar...

Paul Kelley


Tenho ainda na boca o sabor de teus beijos
e nos olhos a morna luz de teu olhar,
- há em teu corpo alvoradas rubras de desejos
e rompantes de vagas livres sobre o mar...

Sabes bem que te adoro, eu o disse a tua boca
naquele instante longo a cheio de delicias,
e em minhas mãos provaste a ânsia incontida e louca
de uma declaração de amor a de carícias. . .

Consegui te alcançar em minhas mãos, - assim
como quem colhe um fruto entre as sombras dos ramos...
Toquei-te o corpo inteiro.. . a pensar que a sem fim
o incêndio que nos queima enquanto nos amamos!

Hás-de ser uma praia branca ao meu enleio
nua, deitada ao sol, exposta ao mar a aos ventos,
- e eu serei esse vento de ternuras cheio!
e eu serei esse mar de desejos violentos!

Um do outro vamos ser, assim . . . divinizados
por um amor perfeito em comunhão com o céu,
- ver o céu a morrer em tens olhos parados
e a terra, aberta em flor, em teus lábios de mel. . .

Fundiremos no mesmo abraço o mesmo assomo,
dois num só - na infinita integração do amor,
tu, perfeita, eu perfeito, ambos perfeitos, como
a terra e o céu, o mar e a praia, o sol e a flor!


J.G. de Araújo Jorge

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Importa...

MaXu


Para que tentarmos qualquer explicação?

Sei que te tomarei nos braços como uma criança
e atenderei à súplica de teus olhos...

Sei que já agora, depois que chegaste ao coração,
seria impossível voltar...

E para que voltar? Que importa se viemos de longe
e se deixamos tanta coisa para trás?
Importa é que posso levar-te em meus braços,
dobrar a curva adiante, escalar a montanha,
para encontrarmos a paisagem nova
que será outro mundo...

Importa é que nos sentimos como se tudo começasse
agora,
depois que és minha e eu sou teu,
e como se nada tivesse existido antes,
nada...
nem tu... nem eu...


J.G. de Araújo Jorge
(Extraído do livro A Sós, 1958)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sensual



Ainda sinto o teu corpo ao meu corpo colado;
nos lábios, a volúpia ardente do teu beijo;
no quarto a solidão, desnuda, ainda te vejo,
a olhar-me com olhar nervoso e apaixonado...

Partiste!... Mas no peito ainda sinto a ânsia e o latejo
daquele último abraço inquieto e demorado...
- Na quentura do espaço a transpirar pecado,
Ainda baila a figura estranha do desejo...

Não posso mais viver sem ter-te nos meus braços!
- Quando longe tu estás, minha alma se alvoroça
julgando ouvir no quarto o ruído dos teus passos...

Na lembrança revejo os momentos felizes,
e chego a acreditar que a minha carne moça
na tua carne moça até criou raízes!...


J.G. de Araújo Jorge 

sábado, 29 de dezembro de 2012

 Ivano Cheli




Tu, desgraçado, - quem és?

Destino é o dos homens livres,
que tem caminhos nos pés,
- os que exaltam seus pecados,
e por ninguém são julgados
em toscos bancos de réus!


J.G. de Araújo Jorge

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Dias Fantasmas

fabrizio r.


    
Não são sólidos, não são líquidos,
são uma estranha massa pastosa estes dias
sem a tua presença,
dias fantasmas que se deforma e escorrem
como aqueles objetos criados pela imaginação doentia
de Salvador Dali.

Dias de massa pastosa, que nas minhas mãos de angústia
parecem maiores, parecem sem fim,
e se distendem fora do tempo numa infinita espera.

Com suas horas fabrico imagens que se enfunam e acenam
- brancas cortinas de sombra
tocadas pelo vento...

Dias vazios . . . Em seus corredores de ermo e silêncio
nossos momentos de amor surgem a ressurgem
como fluidas visões mediúnicas
na inconsistência de sua matéria
tecida só de lembranças . . .


( Poema de JG de Araujo Jorge
do livro"A  Sós..." 1a ed. 1958 )

terça-feira, 9 de outubro de 2012

" Curiosidade "

stas gordienko


 
Gostaria de saber como e onde me encontras
agora que há tanto tempo não existimos...
....................................................................................

(por um momento ficam turvos
teus olhos,
te ausentarás do mundo que te cerca
sem saberes dizer se és feliz ou infeliz?...

Ou me encontras, e passas...
Passas, e cumprimentas, e te vais,
e sorris?...)


  JG de Araújo Jorge 
("Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"
Vol. III -  1a edição 1965 )

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Pássaros




Há uma companhia que não aceito:
a dos pássaros engaiolados.

Gosto do rumor que fazem nos galhos
ao entardecer,
de seus cantos isolados que nunca poderemos saber
se serão reproduzidos
ou se partirão para sempre, com o vôo ignorado.

Gosto dos pássaros, eles são como as águas para a terra
semeiam cantos e mistérios
fecundam o céu de música.

Mas quero vê-los livres, como as nuvens nômades
como as correntes encachoeiradas.
Nas gaiolas seus cantos são lamentos aos meus ouvidos
e eu me sinto como um carcereiro num momento lúcido,
sem alegria.



 JG de Araújo Jorge

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Trovas de ciúmes


Jaeda Dewalt


Dosado, o ciúme é tempero
que à afeição dá mais sabor...
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor...
Cão de guarda, ameaçador,
a rosnar, furioso e cego
eis afinal, meu amor,
este ciúme que carrego...

Do amor e da desconfiança
infeliz casal sem lar,
nasceu o ciúme, - essa criança
tão difícil de educar...

Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador...
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?

Eis como o ciúme defino:
mal que faz mal sem alarde
corte de alma, muito fino,
que não se vê... mas como arde!

O ciúme, desajustado,
por louco amor concebido,
era uma amante, (coitado)
a padecer... de marido!"


 JG. de Araújo Jorge 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Outono



O outono já chegou - aos arrufos do vento
as folhas num desmaio embalam-se pelo ar...
- vão caindo...caindo...uma a uma em desalento
e uma a uma, lentamente, vão no chão pousar

O céu azul perdeu o azul - vestiu-se de cinzento
e envolveu-se na neblina a luz baça do luar...
- na alameda onde vou, de momento a momento,
há um gemido de folha a cair e a expirar

O arvoredo transpira as carícias dos ninhos,
e o vento a cirandar na curva das estradas
eleva o folhareu no espaço em redemoinhos...

Há um córrego a levar as folhas secas em bando...
- e a aragem que soluça entre as ramas curvadas,
parece que o arvoredo em coro está chorando!...


J.G.de Araújo Jorge

domingo, 1 de abril de 2012

Réu de amor

imagem: Lauri Blank


Sou réu de amor! Confesso o meu pecado
porém não me arrependo desse crime,
que amar alguém e ser também amado
é o crime mais gostoso e mais sublime!

A confissão por certo não redime
a quem quer continuar a ser culpado,
e seu for, por acaso, condenado,
não há razão para que desanime.

Pelo contrário. Altivo, embora fique
meu coração partido em mil pedaços,
eu quero que a justiça se pratique...

Sou réu de amor, e julgo-me indefeso!
Pela justiça, entrego-me a teus braços:
eternamente quero ficar preso...


J.G. de Araújo Jorge

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Paradoxo


Tanja Doronina


A dor que abate, e punge, e nos tortura,
que julgamos às vezes não ter cura
e o destino nos deu e nos impôs,
é pequenina, é bem menor, e até
já não é dor talvez, dor já não é
dividida por dois.

A alegria que às vezes num segundo
nos dá desejos de abraçar o mundo,
e nos põe tristes, sem querer, depois,
aumenta, cresce, e bem maior se faz,
já não é alegria, é muito mais
dividida por dois.

Estranha essa aritmética da vida,
nem parece ciência, parece arte;
compreendo a dor menor, se dividida,
não entendo é aumentar nossa alegria
se essa mesma alegria
se reparte.


( Poema de JG de Araújo Jorge
do livro- Festa de Imagens – 1948)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011



Relendo o último verso que compus
pouso entre as mãos maquinalmente o rosto,
e o olhar deixo vagar para o sol posto
onde o céu é um borrão de sombra e luz…

Um sossego interior, em mim, produz,
esta tarde fugindo ao mês de agosto…
- nas vitrines do espaço, onde era exposto
o sol, surge uma estrela que transluz…

Alguém põe-se às centenas a acendê-las,
e cada uma que a luz tinha escondido
brilha, e ao brilhar, enche-se o céu de estrelas…

E fitando-as, dispersas, no infinito,
sei, que apesar de nunca ter lido,
nos céus há um poema há muito tempo escrito…


J.G.de Araújo Jorge

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

"Lágrima"




Orvalho do sofrer - dentro do peito nasce
e nos olhos em pranto sem querer floresce;
aumenta a pouco e pouco, e cada vez mais cresce...
- e rola finalmente em gotas pela face...

sublime florescer da dor... se ela falasse
diria para o mundo a mais sentida prece,
no entanto, em seu silencio humilde é que enternece
pois guarda na mudez um triste desenlace...

Repentina, ela brota, assim como se fosse
( de um mar que em nosso peito as ondas estugisse)
uma gota que o vento, aos nossos olhos, trouxe...

Nuns olhos de mulher, porém, ainda não disse:
- é a pérola de um mar completamente doce,
de um mar feito de amor... de sonho e de meiguice!


J.G. de Araújo Jorge