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sábado, 26 de dezembro de 2015

A umas saudades



Parti, coração, parti,
navegai sem vos deter,
ide-vos, minhas saudades
a meu amor socorrer.
Em o mar do meu tormento
em que padecer me vejo
já que amante me desejo
navegue o meu pensamento:
meus suspiros, formai vento,
com que me façais ir ter
onde me apeteço ver;
e diga minha alma assim:
Parti, coração, parti,
navegai sem vos deter.
Ide donde meu amor
apesar desta distância
não há perdido constância
nem demitido o rigor:
antes é tão superior
que a si se quer exceder,
e se não desfalecer
em tantas adversidades,
Ide-vos minhas saudades
a meu amor socorrer.

Gregório de Matos. "Seleção de Obras Poéticas".

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A umas saudades

Louis Marie de Schryver


Parti, coração, parti,
navegai sem vos deter,
ide-vos, minhas saudades,
a meu amor socorrer.

Pelo mar do meu tormento,
em que padecer me vejo,
já que amante me desejo
navegue meu pensamento:
meus suspiros formem vento,
com que me faças ir ter,
onde me desejo ver,
e diga minha alma assi,
Parti, coração parti,
navegai sem vos deter.

Ide onde meu amor
apesar desta distância
nem há perdido a constância,
nem há admitido rigos:
antes mais superior
assim se quer exceder,
porém se desfalecer
em tantas adversidades,
Ide-vos minhas saudades
a meu amor socorrer.


Gregório de Matos

terça-feira, 5 de julho de 2011

Soneto VII

Leonid Afremov 

Ardor em firme coração nascido,
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado:
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando cristal em chama derretido:
Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
mas aí, que andou Amor em ti prudente!
Pois, para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.


Gregório de Matos

domingo, 1 de agosto de 2010

Hamish Blakely 

Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.

O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender é labirinto.

Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondoso efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.

Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.

Gregório de Matos

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pintura admirável de uma beleza


Vês esse Sol de luzes coroado?
Em pérolas a Aurora convertida?
Vês a Lua de estrelas guarnecida?
Vês o Céu de Planetas adorado?

O Céu deixemos; vês naquele prado
A Rosa com razão desvanecida?
A Açucena por alva presumida?
O Cravo por galã lisonjeado?

Deixa o prado; vem cá, minha adorada,
Vês de esse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljôfar desatada?

Parece aos olhos ser de prata fina?
Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada
À vista do teu rosto, Caterina.

Gregório de Matos