domingo, 10 de outubro de 2010
Anaïs Nin, Henry & June (3)
Nunca fomos tão felizes nem tão infelizes. Nossas brigas são prodigiosas, tremendas, violentas. Estamos ambos irados a ponto da loucura, desejamos a morte. Meu rosto está assolado pelas lágrimas, as veias em minhas têmporas latejam. A boca de Hugo treme. Um grito meu o traz de súbito a meus braços, soluçando. E então ele me deseja fisicamente. [...] É como a vida dos russos em o idiota. É histeria. Em momentos mais frios, admiro-me da extravagância de nossos sentimentos. A monotonia e a paz se foram para sempre. Perguntamos a nós mesmos ontem, em meio a uma briga:
- O que está acontecendo conosco? Nunca dissemos coisas tão terríveis uma ao outro?
E então Hugo disse:
- Esta é a nossa lua-de-mel, e estamos agitados.
- Você tem certeza? – perguntei, incrédula.
- Talvez não pareça uma – respondeu ele, rindo -, mas é. Estamos apenas transbordando de sentimentos. Não conseguimos manter nosso equilíbrio.
Uma lua-de-mel madura, com sete anos de atraso, cheia do medo da vida. Nos intervalos de nossos brigas somos extremamente felizes. Inferno e céu ao mesmo tempo. Estamos ao mesmo tempo livres e escravizados. Às vezes parece que sabemos que o único elo que pode nos unir agora é o da vida intensa, o mesmo tipo de intensidade que se encontra em amantes e concubinas. Inconscientemente criamos um relacionamento altamente efervescente dentro da segurança e paz do casamento. Estamos ampliando o círculo de nossas tristezas e prazeres dentro do círculo de nosso lar e nos dois seres. É a nossa defesa contra o intruso, o desconhecido.
Anaïs Nin, Henry e June