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John Paul |
É como se as paredes respirassem
e os cheiros misturados se sentissem
e todas as palavras não calassem
embora no silêncio se fundissem
É como se o olhar soubesse o toque
e o toque adivinhasse o que não visse
mas visse no murmúrio o mesmo enfoque
na imagem que se viu mas não se disse
É como se a manhã não mais chegasse
e o dia fosse noite todo o dia
É como não querer que se acabasse
o instante em cada instante que se adia
e o teto fosse o chão e o chão o teto
e toda a atmosfera fosse afeto
É como se de pétalas chovesse
o lustre mas tal chuva não caísse
É como se o desejo percebesse
aquilo que a razão não mais medisse
É como se a pergunta respondesse
e o ventre da resposta perguntasse
É como não se ouvisse e compreendesse
o mínimo cicio que faltasse
É como se arranhasse e não ferisse
e tudo o que sentisse, delicasse
É como se dos poros se parisse
a alma em cada gota que suasse
e o gosto fosse o gosto de um só gosto
e o fogo não soubesse de qual rosto
E sem que se pedisse, se virasse
e em forma de pirâmide se erguesse
Uma mão que no espelho se agarrasse
e a outra o travesseiro pertencesse
e o beijo noutra boca deslizasse
e enquanto esse subisse, essa descesse
e a boca desse beijo se molhasse
e o beijo nessa boca mais bebesse
e o que não fosse beijo se encostasse
e a boca mais ainda recebesse
e o beijo no pescoço assemelhasse
da boca que pulsasse a que gemesse
e o mais só sussurrasse, sussurrasse
e sem que se dormisse, mais sonhasse
Antoniel Campos