quarta-feira, 12 de outubro de 2022

 



Ainda não te perdi e já tenho saudades tuas.

Da tua voz. Do teu cheiro. Da tua roupa espalhada

pela casa. A nossa história de tão verdadeira, é fictícia.

Foi animada como uma noitada com amigos. Hoje,

é um caso arquivado. Onde estivemos todos estes anos?

Que diferença faz a indiferença? O nosso entusiasmo

do tamanho do mundo é agora uma aldeia estranha,

um espaço acanhado onde ninguém se reconhece.

Nunca tivemos a coragem de pisar o risco, de trocar

todos os dias por cada um dos nossos dias.

A tua juventude e a minha juventude não voltarão

a tocar-se, vamos a caminho de outro tempo.

Um tempo onde não há tempo para voltar atrás.


Joaquim Pessoa, ANO COMUM, 2.ª ed.