O mundo sempre esconde os seus segredos
na folha amarelada pelo outono,
nas madeiras que sobram dos naufrágios,
nas grutas, nos viadutos, nos espelhos
que nos contemplam nas barbearias
e nos duplicam, a nós que somos múltiplos.
E eu digo ao mundo: fala, ó grande mudo
diante de nós postado na manhã
e defrontando com o seu silêncio
o nosso grande pasmo de viver.
Apesar dos rumores escorridos
no dia claro que atrai os navios,
na noite negra das fornicações,
do besouro que zumbe além do bosque,
e do fragor das guerras e do trânsito,
o mundo é só silêncio e só segredo
neste longo degredo que começa
com o pranto no berço e só termina
no mistério do nada, no silêncio do pó.
Lêdo Ivo