quarta-feira, 12 de outubro de 2022

 

Oil paintings by Tibor Nagy 


Eu não sei o que faço aqui

sei que faço alguma coisa

pequenas coisas sem importância

às vezes aborreço-me não é grave

fico apenas um pouco mais triste

depois levanto a cabeça

os ombros vacilam

transporto uma loba mas não sei até quando

uma loba que vai deixando o pelo

na casa do poema na cave acumulada

 por um sábio que não sabe nada

nem cuidar de si nem cuidar 

dos homens —

aparentemente foi tudo morrendo

neste reino de pequenos casamentos

de conveniência: ficaram

 a insânia sem garganta e figuras de musgo

que não conhecem a separação entre o ser 

e as nuvens

as nuvens que envolvem

 os caminhos do corpo

as pegadas de um vírus que não cessa de

cantar o pó, tão fácil 

de soprar. Chove. A chuva

pede que me cale.


Casimiro de Brito