quarta-feira, 12 de outubro de 2022

 

painting-paul-david-bond 


Quando me aproximo do mar

tudo me parece aceitável.

As ondas são folhas que vão

a caminho da perfeição.

Perfeito é pois quem do tempo

 tem a longa paciência —

também a tenho quando escuto

a nervura mágica de tudo,

um tudo feito de sombras

que amaciam a pedra luminosa

que todas as coisas são.

Saltando de estação para estação

como se o caminho se fizesse,

sereno, entre o mar e o céu.

As ondas que vejo cair

também as sinto nas areias de mim

como se tudo, na barca deste mundo, 

 fosse mar e luz.

Por isso a minha vida é intensa

e velha como a paciência

que não cessa de se renovar

no sangue da pedra, e das aves.

 

Casimiro de Brito