quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Dan Brown, O Símbolo Perdido




Viver no mundo sem tomar consciência do significado do mundo é como vagar por uma imensa biblioteca sem tocar os livros.

Os Ensinamentos Secretos de Todos os Tempos


Capítulo 13 

A Rotunda do Capitólio — assim como a Basílica de São Pedro — sempre tinha o dom de surpreender Robert Langdon. Ele sabia que aquele espaço era grande o suficiente para comportar com folga a Estátua da Liberdade, mas de alguma forma a Rotunda sempre lhe parecia maior e mais sagrada do que ele esperava, como se espíritos pairassem no ar. Naquela noite, porém, havia apenas caos.

Agentes de segurança do Capitólio estavam isolando a Rotunda ao mesmo tempo que tentavam guiar os turistas perplexos para longe da mão. O menininho continuava chorando. Uma luz forte se acendeu — um turista tirando uma foto da mão —, e vários seguranças agarraram imediatamente o homem, tomando-lhe a câmera e escoltando-o até a saída. Na confusão, Langdon se viu andando para a frente como em um transe, abrindo caminho pelo aglomerado de gente para chegar cada vez mais perto da mão.

A mão direita cortada de Peter Solomon estava na vertical, com a superfície plana do pulso seccionado fincada no prego de uma pequena base de madeira. Três dos dedos estavam fechados, enquanto o polegar e o indicador se encontravam esticados, apontando para cima em direção à cúpula altíssima.

— Todos para trás! — exclamou um dos agentes.

 Langdon estava perto o suficiente agora para ver o sangue seco que havia escorrido do pulso e coagulado sobre a base de madeira. Ferimentos post-mortem não sangram... o que significa que Peter está vivo. Langdon não sabia se deveria ficar aliviado ou nauseado. A mão de Peter foi cortada com ele ainda vivo? Bílis subiu até sua garganta. Ele pensou em todas as vezes que seu querido amigo tinha estendido aquela mão para apertar a sua ou para lhe dar um caloroso abraço.

Durante vários segundos, Langdon sentiu a mente ficar vazia, como uma TV mal sintonizada que transmite apenas estática.  A primeira imagem nítida que se formou foi totalmente inesperada.

Uma coroa... e uma estrela.

Langdon se agachou, examinando as pontas do polegar e do indicador de Peter. Tatuagens? Era inacreditável, mas o monstro que havia feito aquilo parecia ter tatuado pequenos símbolos nas pontas dos dedos de Peter.

No polegar, uma coroa. No indicador, uma estrela.  

Não pode ser. Os dois símbolos foram registrados instantaneamente pela mente de Langdon, ampliando aquela cena horrenda para transformá-la em algo quase sobrenatural. Aqueles símbolos já haviam aparecido juntos muitas vezes na história, e sempre no mesmo lugar — nas pontas dos dedos da mão de alguém. Aquele era um dos ícones mais cobiçados e secretos do mundo antigo.

A Mão dos Mistérios.  

O ícone raramente era visto hoje em dia, mas, ao longo da história, havia simbolizado um poderoso chamado à ação. Langdon se esforçava para compreender o grotesco artefato à sua frente. Alguém usou a mão de Peter para fabricar a Mão dos Mistérios? Era inimaginável. Tradicionalmente, o ícone era esculpido em pedra ou madeira, ou então desenhado. Langdon nunca tinha ouvido falar de uma versão de carne e osso. A ideia era repulsiva.

— Senhor? — disse um segurança atrás de Langdon. — Afaste-se, por gentileza. Langdon mal ouviu o que ele disse. Há outras tatuagens. Embora  não pudesse ver as pontas dos três dedos fechados, Langdon sabia que também ostentariam marcas singulares. Era essa a tradição. Cinco símbolos ao todo. Ao longo dos milênios, os símbolos na ponta dos dedos da Mão dos Mistérios nunca haviam mudado... e tampouco o objetivo simbólico da mão.

A mão representa... um convite.  

Langdon teve um súbito calafrio ao recordar as palavras do homem que o levara até ali.  Professor, o senhor vai receber o convite da sua vida. Nos tempos antigos, a Mão dos Mistérios representava, na verdade, o convite mais cobiçado da Terra. Receber aquele ícone era uma convocação sagrada para se unir a um grupo de elite — aqueles que eram considerados os guardiães do conhecimento secreto de todos os tempos. O convite não só era uma grande honra, como também significava que um mestre o considerava digno de receber aquele conhecimento oculto. A mão que o mestre estende ao iniciado.  

— Senhor — insistiu o segurança, pousando uma das mãos com firmeza no ombro de Langdon —, preciso que se afaste agora mesmo.

— Eu sei o que isto aqui significa — disse Langdon. — Posso ajudar.

— Agora! — repetiu o segurança.

— Meu amigo está em apuros. Nós precisamos...

Langdon sentiu braços fortes erguerem seu corpo e levarem-no para longe da mão. Simplesmente deixou aquilo acontecer..., sentia-se abalado demais para protestar. Um convite formal acabara de ser entregue. Alguém estava convocando Langdon para destrancar um portal místico que iria revelar um mundo de antigos mistérios e conhecimento oculto.
Mas era tudo uma insanidade.
Delírios de um louco.


Dan Brown, O Símbolo Perdido, pág.57-58
Tradução: Fernanda Abreu
Editora Sextavante