quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Nado em alto-mar, maremoto. Flutuar sobre naufrágios, resíduos. Submersa no que não era – afogamento. Mergulho, viagem marítima. Escapismo, estrelas-do-mar. Sentimentos líquidos.
Ebulição. Dissolução de formas. Novas, transitórias, fluidas. Tensão, polaridade.
Repetição, aprendizado: trajeto contra a correnteza até a margem.
Memória da água. Desenhos na areia, espuma.
Virna Teixeira
Receita para dividir o vento
Poema
William Ospina
Quantas vezes te esperei neste lugar...
Quantas vezes te esperei neste lugar
quantas vezes senti a rebentar
Quantas vezes depois de teres chegado
Thomas Mann, A morte em Veneza
Assim pensava o entusiasmado; assim era capaz de sentir. E, do êxtase do mar e do brilho do sol, formou-se no seu íntimo um lindo quadro. Era o velho plátano perto dos muros de Atenas - era aquele sagrado sombreado lugar, cheio do perfume das flores do agnocasto, enfeitado por ex-votos e dádivas piedosas em homenagem às ninfas e ao Aquelôo. Completamente límpido, o rio caía aos pés da árvore de hastes largas, sobre calhaus lisos; as cigarras cantavam. Mas, sobre o gramado, que tinha uma inclinação ligeira de modo a poder a cabeça ficar mais alta ao deitar, estavam estendidas duas pessoas, abrigadas do calor do dia: uma idosa e uma jovem, uma feia e uma bela, o sábio ao lado do gentil. E, com cortesia e angariantes gracejos espirituais, Sócrates esclarecia Fédon sobre o anseio e a virtude. Falava-lhe sobre o susto ardente que o sensível sofre quando seus olhos vêem uma alegoria da beleza eterna; falava dos desejos do ignóbil e mau que não pode pensar na beleza quando vê sua imagem, e não é capaz de veneração; falava do medo sagrado que domina o nobre, quando lhe aparece um rosto divino, um corpo perfeito, como então treme e fica fora de si e quase não se atreve a olhar e adora aquele que tem a beleza. Ofertar-lhe-ia mesmo sacrifícios, como a uma estátua, se não temesse parecer louco aos homens. Pois a beleza, Meu Fédon, só ela é gentil e visível ao mesmo tempo: ela é, preste bem atenção! a única forma do espiritual que podemos receber sensualmente, suportar sensualmente. Ou o que seria de nós se o divino, a razão, a virtude a verdade se quisessem apresentar-se-nos sensualmente! Não pereceríamos e queimaríamos de amor como Semele perante Zeus? Assim, a beleza é o caminho do homem sensível ao espírito - só um caminho, um meio somente, pequeno Fédon... E depois expressou o mais sutil, o astuto cortejador: pois o amante é mais divino que o amado, porque naquele está o deus, e no outro não - pensamento tão carinhoso e irônico que talvez jamais tenha sido pensado e do qual nasce toda a travessura e a mais secreta voluptuosidade do anseio.
A felicidade do literato é o pensamento que é todo sentimento; é o sentimento que consegue tornar-se todo pensamento. Um pensamento palpitante como este, um sentimento tão exato, pertencia e obedecia ao solitário, naquela ocasião: isto é, que a natureza estremece de prazer quando o espírito se curva em adoração perante a beleza. Repentinamente desejou escrever. Na verdade, Eros ama a ociosidade, assim dizem, e só é criado pra isto. Mas neste ponto da crise a exaltação do atordoado era dirigida à produção. Quase indiferente o motivo. Uma pergunta, uma incitação sobre um certo grande e ardente problema da cultura e do gosto, deixando-se sentir como definição, tinha sido projetada ao mundo espiritual e chegara até o viajante. O assunto lhe era familiar, lhe era experiência; seu desejo de deixá-lo acender-se na luz de sua palavra tornou-se irresistível. E, na verdade, seu anseio era trabalhar na presença de Tadzio, e, escrevendo, adotar a figura do menino como modelo, deixar seu estilo seguir as linhas deste corpo que lhe parecia divino, levar sua beleza para o espiritual, como outrora a águia carregara o pastor troiano para o éter. Nunca sentira mais doce o prazer da palavra, nunca soubera que Eros estava assim na palavra, como nas horas perigosas e deliciosas, durante as quais, sentado em frente à rude mesa sob o toldo, na presença de seus ídolos e a música de sua voz nos ouvidos, formava sua pequena dissertação, de acordo com a beleza de Tadzio - aquela página e meia de escolhida prosa, cuja integridade, nobreza e ondulante tensão de sentimento dentro em pouco exaltaria a admiração de muitos. Por certo é bom que o mundo só conheça as belas obras sem conhecer suas origens e condições de formação, pois o conhecimento das fontes que serviram de inspiração ao artista muitas vezes o desconcertaria, desalentaria e assim anularia os efeitos do que é excelente. Estranhas horas! Estranha fadiga enervante! Estranha comunicação criadora do espírito com um corpo! Quando Aschenbach guardou seu trabalho e deixou a praia, sentiu-se esgotado, desconcertado mesmo, como se a sua consciência lhe fizesse queixas depois de uma digressão.
Foi na manhã seguinte que ele, no intuito de deixar o hotel, viu da escadaria que Tadzio já se encaminhava para o mar - sozinho - aproximando-se justamente do cercado. O desejo, o simples pensamento de aproveitar a oportunidade para travar relações leves e alegres com aquele que, sem o saber, lhe proporcionava tanta elevação e emoção; de dirigir-lhe a palavra, de alegrar-se com sua resposta, era forte e se impunha. O belo ia devagar, era alcançável, e Aschenbach apressou-se. Aproxima-se dele no caminho de madeira atrás das cabinas, quer colocar-lhe a mão sobre os ombros, e uma palavra qualquer, uma frase em frances, pairava nos seus lábios: então sente que seu coração, talvez por causa do andar acelerado, bate como um martelo, que, tão sem fôlego, só conseguiria falar comprimido e tremido; ele hesita, tenta dominar-se, ele teme, repentinamente, já ter andado por tempo demais atrás do belo, teme o despertar de sua atenção, seu olhar indagador; toma mais um impulso, falha, renuncia e passa de cabeça abaixada.
"Tarde demais!", pensou neste momento. "Tarde demais!" Era, porém, tarde demais? Esse passo que não dera podia ser para o bem; o fácil e o alegre podia levar à sanável desilusão. A verdade era que o idoso não deseja a desilusão, porque a embriaguez lhe era cara demais. Quem decifra o caráter e o cunho do artista! quem entende a profunda fusão instintiva de disciplina e devassidão na qual se baseia! Pois não conseguir desejar a sanável desilusão é devassidão. Aschenbach não estava mais disposto para a autocrítica; o gosto, a condição espiritual de seus anos, a dignidade própria, a maturidade e a tardia simplicidade não o inclinavam a analisar os motivos e a decidir se fora por consciência, ou por desleixo e fraqueza, que não realizara suas intenções. Estava desconcertado, temia que alguém, mesmo que fosse só o guarda da praia, tivesse observado sua corrida, sua derrota; temia a ridicularidade. De resto, gracejava consigo mesmo sobre seu medo cômico-sagrado. "Consternado", pensou, "consternado como um galo temeroso que deixa pender as asas durante a luta. Isto na verdade é o deus que, na contemplação do amável, nos quebra a coragem desta maneira e comprime o nosso orgulho tão completamente contra o chão..." Brincou e entusiasmou-se; era altivo demais para temer um sentimento.
Já não vigiava a expiração das férias que se concedera; a ideia de regressar para a pátria nem sequer o tocava. Tinha providenciado abundante reserva em dinheiro. Sua única preocupação era a possível partida da família polonesa; porém, por intermédio de terceiros, por informações colhidas por acaso no barbeiro do hotel, soubera que havia chegado pouco antes dele. O sol queimava-lhe o rosto e as mãos, o ar salino fortalecia-lhe o sentimento; e, assim como antes aplicava de imediato numa obra todo o descanso que lhe proporcionava o sono, a alimentação ou a natureza, assim deixou agora tudo o que o sol, a ociosidade e o ar marinho lhe davam em cotidiano fortalecimento consumir-se magnânimo e desgovernado, em êxtase e sentimento.
Seu sono era prófugo; os deliciosos dias uniformes eram interrompidos por noites curtas, cheias de feliz desassossego. Na verdade, recolhia-se cedo, às 9 horas, quando Tadzio desaparecia da cena, o dia lhe parecia findo. Mas, ao primeiro clarão do dia, era acordado por um delicado e penetrante susto: seu coração lembrava-se de sua aventura, não suportava ficar deitado por mais tempo, levantava-se, envolvido num agasalho leve, sentava-se em frente à janela aberta para espera o nascimento do sol. O maravilhoso acontecimento enchia de veneração sua alma enlevada pelo sono. Ainda o céu, a terra e o mar estavam envolvidos na fantástica, vítrea palidez da madrugada; ainda pairava uma estrela apagada no espaço. Mas vinha um sopro, uma notícia alada de residências inatingíveis, de que Eros se erguia do lado de seu esposo, e então aparecia aquele primeiro doce enrubescer da faixa mais distante do céu e do mar, anunciando o sensualizar da criação. A deusa se aproximava, a raptora de adolescentes, que arrebatara Ceix e Céfalo e, a despeito da inveja de todos os olímpicos, gozava o amor do Belo Órion. Um espalhar de rosas começou à beira do mundo, um indizivelmente belo brilhar e florir, nuvens infantis, transfiguradas, translúcidas, oscilavam como servis gênios no perfume róseo, azulado. Purpura caiu sobre o mar, que parecia flutuá-la em ondas para a frente; lanças douradas apontavam de baixo para as alturas do céu; o brilho tornou-se brasa; silenciosamente, com supremo poder divino, brasa, ardor e labaredas chamejantes rolavam para cima e com cascos arrebatadores os cavalos sacros do irmão subiam pelo universo. Iluminado pelo esplendor do deus, o solitário acordado fecha os olhos e deixava que suas pálpebras fossem beijadas pela glória. Velhos sentimentos, antigos deliciosos impulsos do coração que, no severo trabalho de sua vida, haviam morrido - reconheceu-os com um sorriso desconcertado e admirado. Pensava, sonhava; vagarosamente seus lábios formaram um nome, e, ainda sorrindo, com o rosto erguido, as mãos entrelaçadas no colo, adormeceu de novo, sentado na cadeira.
Mas o dia que começara tão ardente e festivo foi em seu todo estranhamente elevado e misticamente transformado. De onde vinha e nascia esse hálito que, de repente, tão suave e significativo, como sob insinuações superiores, lhe envolvia as têmporas e as orelhas? Cirros brancos em bandos estavam espalhados no céu como rebanhos no pasto dos deuses. Um vento mais forte ergueu-se e os cavalos de Poseidon corriam, corcoveando; talvez também touros, pertencentes do deus de cachos azulados, os quais vinham correndo com bramidos, abaixando os chifres. Entre o amontoado dos rochedos da praia mais distante, porém, as ondas pulavam para cima, como cabras saltando. Um mundo de sagrado desfiguramento, cheio de vida assustadora, envolveu o fascinado e seu coração sonhou delicadas fábulas. Várias vezes, quando o sol descia atrás de Veneza, sentava num banco no parque para observar Tadzio, que, vestido de branco com um cinto colorido, se divertia na praça de saibro alisado com o jogo de bola e era a Hiacinto que julgava ver, o qual morrera porque dois deuses o amavam. Sentia mesmo a inveja dolorida de Zéfiro pelo rival, que se esqueceu do oráculo, do arco e da cítara, para sempre brincar com o belo; viu o disco, dirigido pelo bárbaro ciúme, atingir a encantadora cabeça; recebeu, também ele empalidecendo, o corpo desfalecido; e a flor nascida do sangue doce trazia a inscrição de sua infinita queixa...
Nada é mais estranho, mais melindroso que a relação de pessoas que só se conhecem de vista - que diariamente, em cada hora mesmo, se encontram, se observam; são obrigadas a manter a aparência de indiferente estranheza, sem cumprimento, sem palavra, pela ética ou capricho pessoal. Entre eles há inquietação e curiosidade sobreexcitada, a histeria de uma insatisfeita e artificialmente oprimida necessidade de conhecimento e intercâmbio, e principalmente também uma espécie de respeitoso interesse. Pois o homem ama e respeita o homem enquanto não consegue julgá-lo; e o anseio é o produto de um conhecimento falho.
Uma relação e um conhecimento qualquer tinham que, necessariamente, formar-se entre Aschenbach e o jovem Tadzio, e, com penetrante alegria, o mais idoso pode verificar que interesse e atenção não ficaram completamente sem ser correspondidos. Por exemplo, que fazia o belo nunca mais vir pelo caminho de madeira atrás das cabinas, quando aparecia de manhã na praia, mas somente pelo caminho da frente, pela areia, passando o local de Aschenbach desnecessariamente perto, quase tocando em sua mesa, sua cadeira, dirigindo-se em passos lentos para a cabina dos seus? Afetava assim a atração, a fascinação de um sentimento superior o seu delicado e distraído objeto? Aschenbach esperava diariamente a chegada de Tadzio, e, de quando em quando, fingia estar ocupado quando isto se dava, deixando o belo passar, aparentemente despercebido. As vezes levantava os olhos e os seus se encontravam com os dele. Ambos ficavam profundamente sérios quando isto acontecia. Na culta e grave expressão do idoso nada traía uma emoção íntima, mas nos olhos de Tadzio havia um investigar, um perguntar pensativo, seu andar ficava hesitante, olhava para o chão, erguia deliciosamente de novo os olhos, e, quando passava, algo no seu porte parecia expressar que só a educação o impedia de se voltar.
Uma vez, porém numa noite, foi diferente. Os irmãos poloneses e a governanta faltaram durante a refeição principal na sala grande - Aschenbach notara-o com preocupação. Depois do jantar, muito inquieto sobre o paradeiro deles, andava em traje de noite e o chapéu de palha, em frente do hotel, aos pés do terraço, quando, repentinamente, viu as irmãs com aparência de freiras, a preceptora e, quatro passos atrás delas, Tadzio aparecerem sob a luz da lâmpada de arco. Aparentemente vinham da ponte de barcas, depois de terem jantado na cidade, por uma razão qualquer. Sobre a água devia estar fresco; Tadzio usava um casaco à marinheira azul-escuro com botões dourados e na cabeça um boné combinando. Sol e ar marinho não o queimavam, sua pele continuava de um amarelo marmóreo, como no princípio; porém, hoje parecia mais pálido que de costume, fosse por causa da noite fresca ou do empalidecente luar das lâmpadas. Suas sobrancelhas simétricas destacavam-se mais fortes, seus olhos pareciam mais escuros. Estava indizivelmente belo e Aschenbach sentiu, com pena, como já por muitas vezes, que a palavra só consegue louvar a beleza sensual, porém não reproduzi-la.
Não notou a querida imagem; aparecera inesperadamente, não tivera tempo de se acalmar e trazer dignidade para sua expressão. Alegria, surpresa, admiração deviam transparecer abertamente, quando seu olhar encontrou o do desaparecido - e neste segundo aconteceu que Tadzio sorriu: sorriu para ele, falando, íntimo, gracioso e sem rodeios, com lábios que no sorriso se abriam lentamente. Era o sorriso de Narciso que se debruça sobre o espelho de água, aquele sorriso profundo, encantador, prolongado, com o qual estende os braços para o reflexo da própria beleza - um sorriso ligeiramente desfigurado, desfigurado pela inutilidade de seu desejo, de beijar os lindos lábios de sua sombra, galante, curioso e ligeiramente atormentado, seduzido e sedutor.
Aquele que recebera este sorriso fugiu com ele como um presente fatídico. Estava tão abalado que se viu obrigado a evitar a luz do terraço e do jardim da frente e procurou, apressado, a escuridão do parque nos fundos. Admoestações estranhamente revoltadas e carinhosas desprendiam-se dele: "Não deve sorrir assim! Ouça, não se deve sorrir assim pra ninguém!" Atirou-se sobre um banco, respirou indignado o perfume noturno das plantas. E, inclinado para trás, de braços pendentes, dominado e sentindo-se percorrido por arrepios, murmurou a eterna fórmula do anseio - aqui impossível, absurdo, abjeto, ridículo e, no entanto, sagrado, digno mesmo, ainda aqui: "Eu te amo!"
Thomas Mann, A morte em Veneza
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Cantares do sem nome e sem partida
De si contínuo e áspero adversário...
Luiz Vaz de Camões
O nosso
Angelos Panayiotou |
A Rosa Desfolhada
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Palavras de amor
Anna Ewa Miarczynska |
Hero
Hero
Sacerdotisa de Afrodite, morava as margens do Helesponto. Teve um romance com Leandro que morava do outro lado do imenso rio, o jovem todos os dias atravessava a nado o rio para ver sua amada Hero. Um dia o rapaz afogou-se tentando atravessar o longínquo rio e Hero ao ver o corpo do amado boiando suicida-se.
Leva-me
Leva-me a um lugar onde a paisagem
Se pareça àquela das visões da mente.
Que seja verde o rio, claro o poente
Que seja longe e leve a minha viagem.
.
Leva-me sem ódio e sem amor
Despojada de tudo que não seja
Eu mesma. Morna estrutura sem cor
A minha vida. E sem velada beleza.
.
Leva-me e deixa-me só.
Na singeleza
De apenas existir, sem vida externa.
E que nos escuros claustros do poema
Eu encontre afinal minha certeza.
.
Hilda Hilst
Sonhei-te
nathalie picoulet |
Sonhei-te lentamente,
Tigresa
Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
trecho do poema "Amor", de Álvares de Azevedo, no livro "Lira dos Vinte Anos
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
A falta que ama
De Quem é o Olhar
imagem: Carsten Witte |
XXXIV - O guardador de rebanhos
jean paul bourdier |
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa…
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas…
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente…
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha…
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos…
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
O presente está só.
arts by arantza sestayo
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Prosa Patética
AWilliam A. Schneider |
Mulher (em definição)
O berço e o terremoto
Bao Zhen |
La del río, qué blanda
Virgem
William-Adolfe Bouguereau |
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
A Felicidade
Amei a tua inquietação; e disseste-me que
Tiempo vestido de mujer
Kemal Kamil |
(La llama y la arena, 1987)
A Vida é um jogo, belíssimo, onde só se pode ganhar aquilo que se arrisca.
Destruição
Lucia Sandroni |
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se veem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
Carlos Drummond de Andrade
Prelúdios intensos para os desmemoriados do amor
László GULYÁS |