Anna Ewa Miarczynska |
Pensa, eu que te vi perdida e recobrada;
pensa, eu que me afasto de ti quando me esperas;
pensa, esta dolorosa paz do campo adormecido
perfumado das flores e das frutas primeiras...
Tu sabes bem tudo, tudo. Tu escutaste tudo
com os imensos olhos perdidos na distância;
quando eu me calo, tu me olhas e cai da minha boca,
como uma flor cortada para a tua boca, o meu beijo.
(Esta é a despedida quando apenas chegava,
isto é tocar apenas os portos e partir...
Que teus braços me amarrem, que não me deixem ir
para tocar apenas outro amor e partir!)
Ouves as minhas palavras e recolhes os meus beijos,
e prolongamos juntos o silêncio do campo
riscado pelos duros ladridos dos cães
e pela numerosa canção dos nossos passos.
... Nesta noite estrelada beijei as tuas mãos ...
De despedida, cruzo o teu amor e tu me deténs.
Vou dizer-te adeus e teus olhos me queimam;
vou dar-te a angústia que me golpeia as têmporas
e galopa em minhas veias como um centauro louco,
mas minha voz tornou-se cantante e fervente
e meus dedos te revolvem a cabeleira escura;
e nesta noite estrelada minhas palavras se perdem
e caminhamos ébrios da mesma doçura.
... Ah! sabes tudo, tudo. Tu escutaste apenas,
no entanto sabes tudo.
Pablo Neruda