|
Jeremy Lipking detail |
Vieste, após ser tantas, enfim, ser tu somente.
E me presenteaste, assim, tão de surpresa,
que eu não percebi
tu sempre em mim presente.
(Nem sequer eu poderia.)
Chegaste em minha vida
quando eu pouco a possuía,
e tu adolescias
e eu adolescendo,
e éramos, nós dois, em tantos eus,
que nos víamos em muitos,
mas quase nunca em nós.
(E me surges, assim, tão de repente,
assim, tão diferente.)
Foste, sempre, a única de mim
e eu de ti apenas,
mas como se não fôssemos de nós,
dois elos que unidos se deixaram
e pouco se tocaram.
(E me tomas, assim, tão entranhada,
assim, amalgamada.)
Tu sempre me amaste e pouco me disseste,
pois amor também precisa ser falado,
mormente quando início,
nos mínimos indícios,
em tudo registrado.
(E hoje, que me amas, assim, tudo te atesta,
calada e, assim mesmo, manifesta.)
Nos primeiros dias, noites, madrugadas,
teu corpo era teu verbo.
E tu te retorcias.
E tu te insinuavas.
E eu, senhor de ti, me comprazia
e te retribuía
nas vezes que te amava.
(E me vens, assim, o amor em cada gesto,
e eu te amando, assim, em todo e resto.)
Ai, que só nos bastam um e outro...
Um no outro, um no um, unos, completos.
Cuidavas do teu rosto e com tal zelo,
que te ver além do rosto eu não podia
- melhor, eu não sabia - ,
e hoje não te aflige mais a ruga.
Antes, vens a mim
e rindo, diz-me: veja...
É a deixa que me dás e não recuso.
Adivinhando o beijo,
sou dono do teu queixo:
Colhendo as tuas mãos que te pintavam,
hoje as minhas te maquiam,
somente pelo toque adstringente
e a língua que passeia, umectante.
Te sei e tu te sabes mais encanto.
Te sinto e tu te sentes mais amante.
E hoje, meu amor, que tu me tens
no tanto em que nunca me tiveste,
pois só te dei o macho que eu era,
e hoje dou-te o homem em que me acho,
não chamarei de loba,
nem te direi por fêmea,
tampouco de fatal,
mas, decerto, por teu nome
- teu nome e mulher minha - ,
e tu a mim chamando
ao nome e de teu homem.
(Te amo muito mais do que te amara
- Se é que o amor a si mesmo supera - ,
Te amo de amar tanto, que esperara
Que todo o amar possível eu já tivera.)
E me vens, assim, plena, completa,
sem chances de eu te amar pela metade,
porque tudo me chama
toma
rapta
cala
e clama
e arde mais a chama
do que a cama em que ardias,
e tu, plena, completa,
tanto em mim e eu não te via...
Agora tudo em mim te ama em tudo.
E amo-te nas coxas, nos cabelos, nos teus peitos.
E amo-te na alma, nos teus risos, nos teus ais.
Nos feitos, nos defeitos,
porque em tudo estás.
Antoniel Campos