domingo, 1 de novembro de 2015

Feminino


Edouard Bisson (1856-1936) - Les fleurs du matin, 1903


São as ninfas
são as musas
as mulheres com o seu riso

As Dríades e as Nereides
Crineias nas suas fontes
e as mulheres despertando

Dentro do próprio sumiço

São as deusas, as sereias
enfeitiçando o cantar
as mulheres tecendo as teias

Penélope Euterpe Eurídice
de meiga pele ambarina
as mulheres correndo em busca

Na sua pressa felina

São sibilas, amazonas
profetisas, feiticeiras
as mulheres querendo voar

Com os espíritos femininos
valquírias de espada honrosa
de mulheres ousando o risco

Com alegria nervosa

São sílfides com voz de vento
são as ondinas nadando
seguindo a rota dos rios

As salamandras ardendo
de si mesmas sequiosas
Morgana com os seus filtros

De invenção harmoniosa

São adivinhas da água
sufragistas, feministas
na haste do pensamento

Renascendo com vagares
à sombra da própria seda
na chama rubra da tenda

São as mulheres do meu tempo

Mudando a eternidade
e a vida em seu sustento
sem jamais cicatrizarem

Os séculos de esquecimento



Maria Teresa Horta
In «Poemas do Brasil», 2009, Editora Brasiliense, S. Paulo