sábado, 28 de maio de 2022

Inútil sou

 

Kari-Lise Alexander 


Por seguir das coisas o compasso, 

às vezes, quis neste século ativo, 

pensar, lutar, viver com o que vivo, 

ser no mundo algum parafuso a mais. 


Mas, atada ao sonho sedutor, 

do meu instinto voltei ao escuro poço, 

pois, como algum inseto preguiçoso 

e voraz, eu nasci para o amor. 


Inútil sou, pesada, torpe, lenta, 

meu corpo, ao sol estendido, se alimenta 

e só vivo bem no verão, 


quando a selva cheira e a enroscada 

serpente dorme em terra calcinada; 

a fruta se abaixa até minha mão. 


© ALFONSINA STORNI