sábado, 23 de abril de 2022

 

Jon PAUL  


Como se houvesse uma tempestade

escurecendo os teus cabelos, ou se preferes,

a minha boca nos teus olhos carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega aos tropeções dentro de ti, eu falei em neve, e tu calavas a voz onde contigo

me perdi.

Como se a noite viesse e te levasse, eu era só fome o que sentia; digo-te adeus, como se não voltasse ao país

onde o teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens, e sobre as nuvens mar perfeito, ou se

preferes, a tua boca clara singrando largamente no meu peito.


Eugénio de Andrade