© Rob Hefferan |
como se todo o tempo já tivesse transcorrido
— porque tudo passa, se tocamos,
vens com o teu bafio, o teu hálito, tua aura e teu roçar,
nessa tua onipresença, ora dentro, ora fora, tanto e toda em mim.
(a medida do tempo é bem mais clara na ausência.)
à margem de ti, me vejo rude. tosco. incompleto.
êxul de mim, naquilo em que mais me vejo.
e tão poucas são as coisas em que me percebo.
mas vens.
como a dizer de um capricho urdido adredemente,
um experimento, uma cilada,
aferindo-me com o teu esperômetro,
a medir meu quantum de permanência.
(tola... como se coubesse a mim traçar novos rumos, trair-te, abandonar-te.)
adentrar nos teus domínios — a mesma sensação sempre renovada,
é como se chegar em país estrangeiro e lá encontrar pedaço de seu.
tudo compreender, nas múltiplas linguagens que me trazes à mesa.
mágico momento, singular instante o desse encontro,
em ti, eterna estrangeira e eterna cúmplice, conheço-te cada rua,
[cada rincão, qualquer espaço, à vista
primeira, como se antigos fossem os nossos abraços.
(e tão antigos são os nossos abraços.)
de verdade, não sei se sou eu que te esqueço, ou se és tu que me abandonas.
[mas sei que todo esquecimento
e abandono são efêmeros.
sei também que deve ser assim
porque, às vezes, me sufocas, não dás trégua, e eu, bem o sei, por vezes faço igual.
(o que seria dos encontros sem a saudade?)
mas vens.
e sabes como chegar.
em vão disfarças, porque é do teu querer que todo disfarce seja em vão.
pões uma venda na face, à guisa de ocultar-se.
e ris.
e ris porque sabes que a mesma venda te serve por bandana, inútil cendal,
[máscara fugaz em que estampas:
sou eu.
na linearidade em que te mostras, percebo-te em ondas.
nas ondulações, o teu linheiro percurso.
e caminho no teu seguro caminho.
e os antigos abraços se renovam.
e vens.
e ficas.
Antoniel Campos