quinta-feira, 31 de janeiro de 2013



(...) ainda me vês Kadoshi-melindre dissolvência-veu dourado? Um ronco um som pastoso, um borbulhar de víscera. E assim podeis notar que this town is full of nobles here and there, que apenas eu caminho pela casa sem certeza de nada, vasculho os cantos, demoro-me sob os arcos, farejo os buracos, que... há muito tempo ando querendo usar o punhal contra mim mesmo, pegar esse rosado intenso que se agita quando amas além de uma certa medida e colocá-lo sobre a mesa frente a frente: coração de Kadosh, soturno e tumultuado, que percurso é o teu, que nome dás às coisas, que asa-coisa te faz mais manso, mais viscoso? És tu que procuras o Sem-Nome, o Mudo Sempre, o Tríplice Acrobata? Grande pena de ti, de mim também porque és meu mas não cabes em mim, e porque é tão necessário que eu te coloque dentro de outro peito, de um que seja extremo e descampado e livre, e não dentro do meu, porque até agora persigo a quem não vejo, persigo apenas a ideia que tenho de um grande perseguido e suspeito que ele pode estar em cada canto, que ele por alguma razão, em algum momento será submisso a Um instante, e eu devo estar lá quando esse tempo solitário e ardente se fizer, tempo de mim colado ao Sem-Nome, tempo torvelinho. Coração de Kadosh, às vezes digo a esse perseguido que não sei: se fosses todo perfeito eu não seria indigno de ti, se fosses equilíbrio, esplêndida balança, há muito tempo que seríamos um etc. etc. Lamúrias. Basta. Indecências. Devo voltar ao de cada dia, nabos cenouras beterrabas, os ministros depois da festa, arrotos caganeiras, a missão especial foi adiada, até quando devo conviver com tantos? O da Agricultura me pergunta: devo plantar cana ou bocas de leão ou tílias ou goiabas australianas, ou canaleiras ou cerejas das Antilhas? E eu, Kadosh, devo dizer ao mundo que a educação é o berço? Devo dar cama ao indigente, ao louco e afixar normas de bem procriar? Que direção queres dar ao teu governo Kadosh? Devemos dizer que és manso ou atrabiliário? Que procuras um possível contorno, um alguém dissimulado, astuto, um corpo sem carne que vives te queixando do Sem-Nome, ou queres dar a impressão de guerreiro indomável, de homem como alguns, sólido objetivo consoante?

Hilda Hilst, kadosh