às vezes. as palavras aguardam na eira. um sol brusco. ou o sopro de engenhosas mãos. as palavras pedem: quero amadurecer por dentro dos significados. e recusam-se a sair à rua. encolhem-se na manta. metem folga. esperam o sereno dilúvio. o vento que do sangue expulsa frases combustíveis. as palavras. mesmo cansadas. de tanta fadiga feliz. não suportam o escuro. e socorrem-se de velhas palavras amigas. e sangram o vermelho adiado. e veem à boca de cena. e beijam. porque as palavras. só mostram o seu nervo. a sua voz. porque há uma mão feiticeira. que para elas inventa. um alpendre de cores. porque as palavras. são os frutos dessa feiticeira.
alberto serra
imagem: andrea kiss