sexta-feira, 6 de maio de 2022

TRANSGRESSÃO

Giorgio Dante 


oceanos onde possamos navegar, partir, tornar a voltar

muitas fronteiras, novos horizontes

em que nada se limite aos poucos sentidos

nem se restrinja a moralidades, a códigos

a crenças e princípios

nem se submeta a leis, homens governos

lugares comuns, discursos e ismos

nem se afogue em mitos, lendas, ideologias.


Nada dessa raça de indivíduos com pés, hábitos,

[lágrimas, valores

e mãos vazias tentando agarrar um inatingível deus

tentando se esconder nas suas vestes

se desculpar na sua misericórdia

com oferendas, rituais e sacrifícios e toda essa farsa.


Um lugar onde se fosse ao fim das coisas

se penetrasse em cada uma delas até sugar-lhe o bagaço

até chupar-lhe as vísceras

sem medo algum, sem bloqueio, sem barreiras

construídas pelas seitas e tabus.


Continentes onde a fúria natural jorrasse livre

sem que se paralise o pensamento

onde se ouse a ação, o grito, a loucura, o drama,

a gargalhada exploda em milhões de átomos e estrelas

[e uivos

de animais e agonias de angústia medonha e longa

como a noite dos tempos,

a paixão desenfreada, a dança.


Bruna Lombardi