domingo, 29 de maio de 2022


 (...) Onde é que eu li aquilo de um condenado à morte que no momento de morrer dizia ou pensava que se o deixassem viver num alto, numa rocha e num espaço tão reduzido que mal tivesse onde pousar os pés; e se à volta não houvesse mais que o abismo, o mar, trevas eternas, eterna solidão e tempestade perene, e tivesse de ficar assim, em todo esse espaço de um archin, a sua vida toda, mil anos, a eternidade... preferiria viver assim do que morrer imediatamente? O que interessa é viver, viver, viver! Viver, seja como for, mas viver! O homem é covarde! O homem é um covarde!


 Fiódor Dostoiévski, in "Crime e Castigo"