domingo, 29 de maio de 2022

O espião



 A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.

Agora são só treze e dezesseis.

Alguns ainda terão tempo de entrar;

alguns de sair.


O terrorista já passou para o outro lado da rua.

A distância o livra de todo mal

e a vista, bom, é como no cinema:


Uma mulher de jaqueta amarela, ela entra.

Um homem de óculos escuros, ele sai.

Uns jovens de jeans, eles conversam.


Treze e dezessete e quatro segundos.

Aquele mais baixo tem sorte, sai de lambreta,

e aquele mais alto entra.


Treze e dezessete e quarenta segundos.

Uma moça, ela passa de fita verde no cabelo.

Só que aquele ônibus a encobre de repente.


Treze e dezoito.

A moça sumiu.

Se ela foi tola de entrar ou não

vai se saber quando os carregarem para fora.


Treze e dezenove.

Parece que ninguém mais entra.

Aliás, um gordo careca sai.

Mas remexe os bolsos como se procurasse algo

e às treze e vinte menos dez segundos

ele volta para buscar a droga das luvas.


São treze e vinte.

O tempo, como ele se arrasta.

Deve ser agora.

Ainda não.

É agora.

A bomba, ela explode.


Wislawa Szymborska