Jon PAUL |
“O amor tem a virtude de desnudar os dois amantes,
não um em frente do outro mas cada um deles
perante si próprio.”
Pavese, Il Mestiete di Vivere
Enquanto leio Pavese
penso nas coisas mais pequeninas
da vida: por exemplo na virtude maior
do amor: desnudar os amantes perante os outros
e perante si próprios.
É a primeira descoberta do mundo.
O mundo é relevo e fenda, o mundo
é uma sucessão infinita de pequenos cumes
e grutas. E mais o desejo de ver
pousar tocar beijar beber degustar
essas falésias essas feridas
amantes: o botão que freme
e as fontes vivas, a cabeça que se levanta
e o vaso de terracota, o desejo que na língua cresce
e já se agita.
No cérebro. No joelho. Nas raízes
do coração. O mundo que por vezes se resume
num corpo. Um relevo uma fenda
que se entrega e tu caminhas nas nuvens
ainda que estejas deitada.
Casimiro de Brito
Um poema do livro em preparação "Sonata do Coração":