sábado, 28 de maio de 2022

 

Jon PAUL  


“O amor tem a virtude de desnudar os dois amantes,

não um em frente do outro mas cada um deles

perante si próprio.” 

Pavese, Il Mestiete di Vivere


Enquanto leio Pavese

penso nas coisas mais pequeninas

da vida: por exemplo na virtude maior

do amor: desnudar os amantes perante os outros 

e perante si próprios. 

É a primeira descoberta do mundo.

O mundo é relevo e fenda, o mundo

é uma sucessão infinita de pequenos cumes

e grutas. E mais o desejo de ver

pousar tocar beijar beber degustar

essas falésias essas feridas

amantes: o botão que freme

e as fontes vivas, a cabeça que se levanta

e o vaso de terracota, o desejo que na língua cresce 

e já se agita. 

No cérebro. No joelho. Nas raízes

do coração. O mundo que por vezes se resume

num corpo. Um relevo uma fenda

que se entrega e tu caminhas nas nuvens

ainda que estejas deitada.


Casimiro de Brito

Um poema do livro em preparação "Sonata do Coração":