sexta-feira, 6 de maio de 2022



Fique o amor onde está; seu movimento

nas equações marítimas se inspire

para que, feito o mar, não se retire

das verdes áreas de seu vão lamento.


Seja o amor como a vaga ao vago intento

de ser colhida em mãos; nela se mire

e, fiel ao seu fulcro, não admire

as enganosas rotações do vento.


Como o centro de tudo, não se afaste

da razão de si mesmo, e se contente

em luzir para o lume que o ensolara.


Seja o amor como o tempo — não se gaste

e, se gasto, renasça, noite clara

que acolhe a treva, e é clara novamente.


          Lêdo Ivo, De Cântico