terça-feira, 17 de maio de 2022

A árvore do fogo

 


Na tênue névoa vermelha da noite 

Víamos as chamas, rubras, oblíquas 

Batendo em ondas contra o céu escuro. 

No campo em morna quietude 

Crepitando 

Queimava uma árvore. 


Para cima estendiam-se os ramos, de medo estarrecidos 

Negros, rodeados de centelhas 

De chuva vermelha. 

Através da névoa rebentava o fogo. 

Apavorantes dançavam as folhas secas 

Selvagens, jubilantes, para cair como cinzas 

Zombando, em volta do velho tronco. 


Mas tranqüila, iluminando forte a noite 

Como um gigante cansado à beira da morte 

Nobre, porém em sua miséria 

Esguia-se a árvore em fogo. 


E subitamente estira os ramos negros, rijos 

A chama púrpura a percorre inteira - 

Por um instante fica erguida contra o céu escuro 


E então, rodeada de centelhas 

Desaba.


Bertolt Brecht