sábado, 23 de abril de 2022

 

jules joseph lefebvre 

Da mão o outono me come sua folha: somos amigos. 

Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:  

o tempo retorna à casca.

No espelho é domingo,  

no sonho se dorme,  

a boca não mente.  

Meu olho desce ao sexo da amada:  

olhamo-nos,  

dizemo-nos o obscuro,  

amamo-nos como ópio e memória,  

dormimos como vinho nas conchas,  

como o mar no raio sangrento da lua.

Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:  

já é tempo de saber!  

Tempo da pedra dispor-se a florescer,  

de um coração palpitar pelo inquieto,

É tempo do tempo ser.. É tempo.


Paul Celan