quinta-feira, 28 de abril de 2022

 



Gosto das palavras frágeis

como gosto de ti

e a verdade é que é também frágil

a minha forma de gostar-te.

Por vezes gostava 

de ser como tu. Ser frágil e usar anéis

com as pedras raras da esperança,

as insondáveis pedras dos dias

que hão-de vir. Mas vivo

o exílio destes dias repetidos

sobre a efemeridade da pele, vogando

como cisnes moribundos

em busca de uma última revelação,

talvez uma melodia tão pura que

possa transformar em pão

não só as nossas rosas mas também

a própria liberdade. E é por isso

que amo as palavras frágeis,

essas palavras que me ofereces

e que são, assim, de tão frágeis,

a minha imensa força

e o meu fatal deslumbramento.

*

Joaquim Pessoa, 

in "O Poeta Enamorado".