Gosto das palavras frágeis
como gosto de ti
e a verdade é que é também frágil
a minha forma de gostar-te.
Por vezes gostava
de ser como tu. Ser frágil e usar anéis
com as pedras raras da esperança,
as insondáveis pedras dos dias
que hão-de vir. Mas vivo
o exílio destes dias repetidos
sobre a efemeridade da pele, vogando
como cisnes moribundos
em busca de uma última revelação,
talvez uma melodia tão pura que
possa transformar em pão
não só as nossas rosas mas também
a própria liberdade. E é por isso
que amo as palavras frágeis,
essas palavras que me ofereces
e que são, assim, de tão frágeis,
a minha imensa força
e o meu fatal deslumbramento.
*
Joaquim Pessoa,
in "O Poeta Enamorado".