quinta-feira, 28 de abril de 2022

David Palumbo


Habita-me tua jovem natureza

Teu corpo um poema, espantada luz,

Onde sinais inquietos se revelam,

De minhas mãos punhais te sulcam

Numa febre intermitente.


Vejo-te na forçada ausência

Numa angústia que não se dissipa

Imagino-te nas palavras sussurradas,

No olhar de uma distância indefinida,

O espaço entre a clareira e o beco

Entre teu ventre e a boca ardente.


Água aberta a todas as nascentes,

As verdes copas de alegria fremem,

Na tua simples e clara nudez,

E no meu corpo exultam raízes.


Dos pinheiros a seiva chama-me

Caldeirinha orvalhada, luares gestos,

Mãos de barro te adornam,

Nesta natura forma de querer,

Saber teu corpo respirando,

Pelas altas madrugadas do desejo.


Em minhas mãos grita teu corpo,

Línguas de fogo contra dançam,

Sinais indeléveis, fulgor intenso.


Na sombra de teus ombros, caio,

Adormeço no mar de teus olhos.


E a ausência, é só uma palavra

Recortada na maré...


Joaquim Monteiro