Ter fama é reles; a escalada
ao apogeu segue outras leis.
Arquivos não servem de nada,
Não tremas sobre os teus papéis.
Criar é se entregar de todo,
e não sucesso ou alarido.
É vergonhoso, sendo engodo,
virar provérbio difundido.
Cumpre viver, mas sem disfarce,
para atrair-se enfim o puro
amor do espaço ou escutar-se
o apelo, ao longe, do futuro.
Deixa as lacunas no destino,
nas obras, não. Qualquer passagem,
qualquer capítulo ou domínio
de tua vida – anota à margem.
Some no anonimato e esconde
teus passos como sítio oculto
por brumas muito espessas onde
não há como entrever seu vulto.
Outros, que irão por tua rota,
seguem teu rastro, passo a passo.
Mas não te cabe ser quem opta
entre um sucesso ou um fracasso.
Não rendas nunca, por motivo
algum, teu rosto, tua estrada;
prossegue vivo, apenas vivo
até o fim, vivo e mais nada.
BÓRIS PASTERNAK, 1956