domingo, 15 de agosto de 2021

 

                                                                            Michel Godard



Quem te pudesse ver na intimidade

ondulando nas chamas do desejo,

podia ver aquilo que eu só vejo:

um diabo vicioso em liberdade.


E quem te vê, assim, em sociedade,

frágil e doce como é o poejo,

corando simplesmente com um beijo,

não poderá saber qual a verdade:


se és uma, se és outra, se és nenhuma,

se tudo em ti é feito por medida,

se és talhada em basalto ou se és de espuma.


Mas nem que nisso gaste toda a vida,

eu hei de descobrir-te. Ver-te, em suma,

na minha cama nua e não despida.


Joaquim Pessoa