sexta-feira, 23 de julho de 2021

Sazonais eternidades



Abres-me, janela,

e antigas memórias

me salpicam o rosto,

chuvas ainda por desabar.


Escancaradas portadas,

devolvem-me o corpo,

esse mesmo corpo

que, para febre e desejo,

em outro corpo acendi.


Abres-me, saudade

e o tempo se descalça

pra atravessar

incandescentes brasas.


e quando,

de novo, me encerras

volto a dormir

como dormem os rios

em véspera de serem água.


A saudade

é o que ficou

do que nunca fomos.


Mia Couto