domingo, 14 de setembro de 2014


sandy lynam clough

Bom é o esquecimento. 
Senão como é que 
O filho deixaria a mãe que o amamentou? 
Que lhe deu a força dos membros e 
O retém para os experimentar. 

Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre 
Que lhe deu o saber? 
Quando o saber está dado 
O discípulo tem de se pôr a caminho. 

Na velha casa 
Entram os novos moradores. 
Se os que a construíram ainda lá estivessem 
A casa seria pequena de mais. 

O fogão aquece. 
O oleiro que o fez 
Já ninguém o conhece. 
O lavrador 
Não reconhece a broa de pão. 

Como se levantaria, sem o esquecimento 
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã? 
Como é que o que foi espancado seis vezes 
Se ergueria do chão à sétima 
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso? 

A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.


Bertolt Brecht, Louvor do esquecimento