quarta-feira, 14 de maio de 2014



59. Intelecto e moral. É preciso ter uma boa memória para poder manter as promessas feitas. É preciso ter uma forte capacidade de imaginação para se poder ter compaixão. Tão estreitamente a moral está ligada à boa qualidade do intelecto.
p.77

69. Amor e justiça. Por que é que se superestima o amor em detrimento da justiça e se diz dele as coisas mais lindas, como se ele fosse uma entidade muito superior àquela? Pois não é ele visivelmente mais estúpido que aquela? Por certo, mas, precisamente por isso, tanto mais agradável para todos. Ele é estúpido e possui uma rica cornucópia; tira desta os seus presentes e distribui-os a qualquer pessoa, mesmo que esta não os mereça e até nem sequer lhe agradeça por isso. É imparcial como a chuva, a qual, segundo a Bíblia e a experiência, não só encharca o injusto até os ossos, mas também, em determinadas circunstâncias, o justo.
p.82

70. Execução. Como sucede que cada execução nos ofenda mais que um assassinato? É a frieza dos juízes, a penosa preparação, a noção de que, neste caso, um homem é utilizado como um meio para intimidar outros. Poisa  culpa não é punida, mesmo que a houvesse; ela reside nos educadores, nos pais, nas companhias, em nós, não no assassino – eu refiro-me às circunstâncias motivadoras.
p.82

79. A vaidade enriquece. Como o espírito humano seria pobre sem a vaidade! Mas, assim, ele parece-se com um armazém comercial, bem cheio e enchendo-se sempre do novo, que atrai clientes de toda a ordem; quase tudo eles lá podem encontrar, tudo adquirir, contanto que tragam consigo o tipo de moeda válida (admiração).
p.86

84. Argúcia da vergonha. As pessoas não se envergonham de pensar alguma coisa sórdida, mas sim quando imaginam que se lhes atribui esses pensamentos sórdidos.
p.88


Friedrich Nietzsche -  in Humano, demasiado humano