Dei comigo a passear contigo
De mais dadas junto ao mar
(é tão banal este gesto de amor
que o verbo cansado está de conjugar)
Mal sabem elas as gaivotas que nos vêem
Que neste simples afeto de ternura
Estão lembranças de uma noite de ventura
Que nem as ondas alegres nos relêem.
Trago ainda o cheiro de teu corpo
A tua pele me foi dada p'ra escrever
Sorridente e iluminada tu me vês
Entrando como barco pelo porto
Escrevi com minha língua e dedos
O poema que no olhar cantaste
Por meus lábios em fogo te deitaste
E em mim confiaste teus segredos
Minha verve incendiada ficou
Peguei fogo ao linho de teu ser
Teu ventre exultou no acontecer
O que minha alma suspirou
Pelos teus ombros derramei ais
Nos teus ombros laranjais vi
Em teus espasmos eu fremi
Julgando perder os sinais vitais
Caímos um no outro enlaçados
Tão felizes e tão exaustos
Que nem sequer damos conta
Que estávamos anelados.
Joaquim Monteiro