quarta-feira, 8 de maio de 2013

Meus versos

Paul Van Ginkel 

Quando nas noites de luar de outono
Pendem as flores que a manhã crestara
       E a chuva desbotou,
Que mão piedosa ergueu-as do abandono...
E cuidadosa no seio as orvalhara?
       Que sorrindo as beijou?

Elas morrem ali tristes, sozinhas,
E se desfolham no correr do rio...
       Deus sabe onde elas vão!
Assim morrem ao sol as andorinhas,
Assim o inseto se desmaia ao frio,
       E assim meus versos são!

Pobres canções que eu entoara a custo,
E modulei nas harpas dos amores
       Que ornara um querubim.
Foram as vibrações de um sonho augusto;
Da minha fronte as suspiradas flores
       Não mas dera o jardim.

E contudo eu ainda as esperava,
Como à porta do Céu a mãe cuidosa
       Um filho que há de vir.
E o jardim não mas dera; eu mal cuidava
Que vinha no embrião da flor mimosa
       Um áspide dormir.

Acordei! Esqueci-me dessas flores
E vou cantando sem sonhar venturas
       Já sem ilusão.
Deixo aqui minha lenda dos amores
Urna singela de esperanças puras,
       E muita aspiração.


Machado de Assis