Paul Van Ginkel |
Quando nas noites de luar de outono
Pendem as flores que a manhã crestara
E a chuva desbotou,
Que mão piedosa ergueu-as do abandono...
E cuidadosa no seio as orvalhara?
Que sorrindo as beijou?
Elas morrem ali tristes, sozinhas,
E se desfolham no correr do rio...
Deus sabe onde elas vão!
Assim morrem ao sol as andorinhas,
Assim o inseto se desmaia ao frio,
E assim meus versos são!
Pobres canções que eu entoara a custo,
E modulei nas harpas dos amores
Que ornara um querubim.
Foram as vibrações de um sonho augusto;
Da minha fronte as suspiradas flores
Não mas dera o jardim.
E contudo eu ainda as esperava,
Como à porta do Céu a mãe cuidosa
Um filho que há de vir.
E o jardim não mas dera; eu mal cuidava
Que vinha no embrião da flor mimosa
Um áspide dormir.
Acordei! Esqueci-me dessas flores
E vou cantando sem sonhar venturas
Já sem ilusão.
Deixo aqui minha lenda dos amores
Urna singela de esperanças puras,
E muita aspiração.
Machado de Assis