terça-feira, 7 de maio de 2013

Es tiempo de vivir sin miedo




"Estava assim, muito triste e saí a caminhar aqui, pelo bairro, e era cedo, de manhãzinha. Não conseguia dormir, me vesti, fui caminhar e cruzei com uma menina muito nova, devia ter uns dois anos, não mais que dois, que vinha brincando na direção oposta e ela vinha cumprimentando a grama, a graminha, as plantinhas. 'Bom dia, graminha!', dizia: 'bom dia, graminha!'. Ou seja, nessa idade somos todos pagãos e nessa idade somos todos poetas. Depois o mundo se ocupa de apequenar a nossa alma."

**

"- Ainda existe espaço para a utopia no mundo de hoje?

- Sim, no sentido que deu a ela Fernando Birri em uma frase que, injustamente, atribui-se a mim. Em um dos meus livros eu citei uma frase dele, dizendo que era dele e as pessoas atribuem-na a mim. Pobre Fernando, mas é dele. Estávamos juntos em Cartagena das Índias, a belíssima cidade colombiana, e fizemos uma palestra juntos na universidade. E no final, um dos estudantes se levantou e perguntou pra ele, não para mim: 'Para que serve a utopia?'. E ele respondeu da melhor forma, eu nunca escutei uma resposta melhor. Ele disse que se fazia essa pergunta todos os dias, 'para que servia a utopia', se é que a utopia servia para alguma coisa. Ele disse: 'Vejam bem, a utopia está no horizonte, e se está no horizonte eu nunca vou alcançá-la porque, se caminho dez passos, a utopia vai se distanciar dez passos. E se caminho vinte passos, a utopia vai se colocar vinte passos mais além, ou seja, eu sei que jamais vou alcançá-la. Para que serve? Para isso, para caminhar.' "

**

"Um homem do povoado de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir alto no céu e na volta contou: disse que tinha contemplado, lá de cima, a vida humana. E disse que somos um mar de foguinhos. O mundo é isso, revelou: um monte de gente, um mar de foguinhos. Não existem dois fogos iguais. Cada pessoa brilha com luz própria, entre todas as outras. Existem fogos grandes e fogos pequenos, e fogos de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem fica sabendo do vento, e existe gente de fogo louco, que enche o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam. Mas outros, outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar, e quem se aproxima se incendeia."

Eduardo Galeano