sábado, 11 de maio de 2013
George Orwell, A revolução dos bichos
Gostaria de fazer apenas um reparo, disse, ao excelente discurso, bem próprio de um bom vizinho, do Sr. Pilkington. Este referira-se o tempo todo à Granja dos Bichos. Naturalmente ele não podia saber – mesmo porque Napoleão o estava proclamando naquele instante pela primeira vez – que a denominação “Granja dos Bichos” fora abolida. A partir daquele momento sua granja deveria ser chamada Granja do Solar – que, aliás, era seu nome correto e original.
“Cavalheiros”, concluiu Napoleão, “levantarei o mesmo brinde, mas de forma diferente. Enchei até a borda vossos copos. Cavalheiros, este é o meu brinde: à prosperidade da Granja Solar!”
Houve as mesmas calorosas felicitações de antes, e os copos foram esvaziados. Mas aos olhos dos bichos, que lá de fora espiavam, pareceu que algo estranho estava acontecendo. Que diabo teria alterado a cara dos porcos? Os olhos embaçados de Quitéria iam de uma cara para outra. Algumas tinham cinco queixos, outras quatro, outras três. Mas algo parecia misturá-las e modificá-las. Então, findos os aplausos, o grupo pegou novamente nas cartas, reencetando o jogo interrompido, e os animais afastaram-se em silêncio.
Não haviam porém, chegado sequer a vinte metros quando se detiveram ante o vozerio alto que vinha lá de dentro. Voltaram correndo e tornaram a espiar pela janela. De fato, era uma discussão violenta. Gritos, socos na mesa. Olhares irados, furiosas negativas. A origem da briga, aparentemente, fora o fato de Napoleão e o Sr. Pilkington terem, ao mesmo tempo, apresentado um ás de espadas.
Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.
George Orwell, A revolução dos bichos