terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Christos Magganas



Vaga, no azul amplo solta, 
Vai uma nuvem errando. 
O meu passado não volta. 
Não é o que estou chorando.  
O que choro é diferente. 
Entra mais na alma da alma. 
Mas como, no céu sem gente, 
A nuvem flutua calma.  
E isto lembra uma tristeza 
E a lembrança é que entristece, 
Dou à saudade a riqueza 
De emoção que a hora tece.  
Mas, em verdade, o que chora 
Na minha amarga ansiedade 
Mais alto que a nuvem mora, 
Está para além da saudade.  
Não sei o que é nem consinto 
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto 
Dor que a minha alma tem.  


Fernando Pessoa