segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Amar-te
Amar-te é suave, tanto mais suave quanto mais amadureço, mas a luta dos nossos sentidos jamais abranda.
Amar-te é sentir-me feiticeiro na floresta do teu corpo, tão "cantabile" e tão obscuro, que nunca mais acaba.
Amar-te é perder-me nos tuas planícies e nos teus jardins subterrâneos — ou são ilhas encostadas ao silêncio dos céus?
Amar-te, entre tantas coisas mais, é participar num diálogo entre a música, os perfumes, as cores e os líquidos que, desejando-me, me transformam. O rosa-pálido do princípio não é menos excitante do que o vermelho-framboesa de quando, enfim, nos estendemos e repousamos.
Amar-te é elevar do chão escuro a tua vertigem e desejar que das minhas nuvens altas arranques uma só tua, incendida.
Amar-te é beber na tua língua um fruto silencioso.
Amar-te é ouvir nas tuas palavras o brilho do vinho.
Amar-te é regressar ao seio túmido de quando nasci.
Amar-te é ouvir-te dizer “ó meu deus” quando, dentro um do outro, explodimos!
Amar-te é desejar a fusão, numa só mulher, da esposa e da mãe, da terra e da amante, do mar e do nosso prazer infinito.
Casimiro de Brito