Art by Basu Kshitiz |
Fora com as palavras otimismo e pessimismo, gastas até o enfado! Pois, de dia para dia, falta mais a razão para as empregar: atualmente, só os tagarelas é que ainda precisam delas tão inevitavelmente. Pois por que diabo haveria alguém de querer ser otimista, se não tiver que defender um Deus, que, no caso de ser ele próprio o Bem e a Perfeição, há de ter criado o melhor dos mundos?... Mas qual é o ser pensante que ainda precisa da hipótese de um Deus? Também falta, porém qualquer motivo para uma profissão de fé pessimista, se não se tiver interesse em vir a ser desagradável para os advogados de Deus, os teólogos ou os filósofos teologizantes, e formular vigorosamente a contra-afirmação que o Mal reina, que o desprazer é maior que o prazer, que o mundo é uma obra malfeita, a manifestação de uma má vontade para com a vida. Mas quem, agora, se preocupa ainda com os teólogos.... exceto os teólogos: Abstraindo de toda a teologia e da luta contra esta, é evidente que o mundo não é bom nem mal, ainda menos o melhor ou o pior, e que estes conceitos de “bom” e “mau” só têm sentido em relação a pessoas, e até, da maneira como são habitualmente empregados, talvez mesmo neste caso não se justifiquem: de qualquer modo, temos de nos libertar da concepção do mundo injuriosa ou enaltecedora.
Friedrisch Nietzsche,
Humano, demasiado humano - Af. 28