quarta-feira, 14 de março de 2012

Habitar o flamenco






Como se habita uma cidade

Se pode habitar o Flamenco

como sua cidade, seus nativos,

Seus bairros, sua moral, seu tempo.

Sua linguagem: um falar com coisas
  
E jamais do oito mas do oitenta

Seus nativos: toda uma gente

Que existe espigada e morena 



Seus bairros: todos os sotaques

Em que divide seus acentos

Sua moral: a vida que se abre
E se esgota num instante intenso

 Seu tempo: borracha que estica

 Em segundos de passar lento,

Lendo de sesta, sesta insone

 Em que se está aceso e
extremo.



João Cabral de Melo Neto
imagens: Richard Young