segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012




Chuva fina,
matutina, 
manselinho orvalho quase:
névoa tênue sobre a selva,
pela relva,
desdobrada, etérea gaze.

Chuva fina,
matutina,
o pardal de úmidas penas,
a folhagem e a formosa
clara rosa,
sonham que és seu sonho, apenas.

Chuva fina,
matutina,
pelo sol evaporada,
como sonho pressentida
e esquecida
no clarão da madrugada.

Chuva fina,
matutina:
brilham flores, brilham asas
brilham as telhas das casas
em tuas águas velidas
e em teu silencio brunidas. . .

Chuva fina
matutina,
que te foste a outras paragens.
Invisível peregrina,
clara operaria divina, 
entre límpidas viagens.

Cecília Meireles