imagem: Lara Jade |
Anda desde a manhã uma palavra
a perseguir-me, a espreitar-me de longe
em atitude nítida de pose,
em clara posição de desafio.
Sugere-se ligeira e disfarçada,
depois foge como uma Mata-Hari
lexical. Não sei o que em mim vê:
não tenho alta patente nem estatuto.
E contudo ela anda por aí.
Sonora e inaudível, surge-me
do silêncio e dos ruídos longos,
brevíssima nos cantos ― e perigosa.
Lá passou outra vez. E anda nisto
desde que me vesti e vi o sol.
Nada a faz desistir: nem a tarde
a cair, nem a minha ameaça de fuzis.
Ana Luísa Amaral