terça-feira, 30 de agosto de 2011


Daqui a vinte anos farei teu poema
e te cantarei com tal suspiro
que as flores pasmarão, e as abelhas,
confundidas, esvairão seu mel.
Porém, a urgência da dor o impele à escrita:
Daqui a vinte anos: poderei
tanto esperar o preço da poesia?
É preciso tirar da boca urgente
o canto rápido, ziguezagueante, rouco,
feita da impureza do minuto
e de vozes em febre, que golpeiam
esta viola desatinada
no chão, no chão.

Carlos Drummond de Andrade