![]() |
steve hanks |
Minha alma é esse lago em que o sol, que declina
Numa tarde outoniça e linda, arde, expirando:
a onda pouco freme, e nem a asa argentina,
Nem o longínquo remo o agita, resvalando.
Tudo descansa em paz, e o cristal transparente,
À noite, ao esfriar no vento enregelado,
Sem rugas, eco, sem lamentações plangentes,
Parece espelho feito aos pálidos enfados.
Mas não sentis, Senhora, em tal tranqüilidade,
No fluxo de cristal pelo próprio esquecido,
Nessa calma extensão de plena fixidade,
Seu gozo em vos ficar aos pés emudecido,
Em refletir em paz a bem-amada margem,
Em pintá-la mais pura, e sem se entremeter,
em nada em si perder da divinal imagem
Daquela cujo rastro está sempre a colher?
*
Mon âme est ce lac même où le solei qui penche,
Par un beau soir d’automne, envoie um feu mourant:
Le flot frissonne à peine, est pas une aile blanche.
Pas une rame au loin n’y joue en efleurant
Tout dort, tout est tranquille, et le cristal limpide,
En se refroidissant à l’air glacé des nuits
San écho, sans soupir, sans un pli qui le ride.
Semble um mirroir tou fait pour les pâles ennuits
Mais ne sentez-vous pás, Madame, à son silence.
A ses flots transparents de lui-même oubliés.
À sa calme étendue où rien ne se balance.
Le bonheur qui’il éprouve à se taire à vos pieds.
À réflechair em paix Le bien-aimé rivage.
Á le peindre plus pur em me s’y mêlant pás.
Á me rien perdure em soi de La divine image
De celle dont sans bruit il recueille les pas?
Charles Augustin De Sainte-Beuve